Capítulo 1 - A morte inevitável.

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- Não! Bella! Não vás! – ele suplica num sussurro gritante.

- Mas… tu estás ver o que está a acontecer! Como posso não ir? - Bella questiona indignada, demasiado chocada para pensar com coerência. Saberá ela onde pode isto levar?

- Não! Tu não vais para ali! Tu viste o que acontece às testemunhas das trocas! – ele profere numa voz mais determinada e severa, esquecendo-se que, neste momento, já nada a fará mudar de ideias. - Vais para a morte certa e eu não vou deixar ir! - termina, em vão.

Isabella ignora-o orgulhosamente e ergue-se do esconderijo, baixando a arma que empunhava e prendendo-a na cintura das calças de ganga preta. Com passos determinados, que guiam um corpo disposto a desvendar o último dos segredos.

Neste momento, tudo o que o seu novo coração viveu passa diante dos seus olhos - todos os pequenos passos que deu até esta descoberta, a escuridão que tentou perceber e o novo coração que tentou negar.

Isabella dirige-se até a silhueta preta, que segura uma mala e encara um homem de fato preto, delicadamente engomado. Lenta e determinadamente, coloca-se a poucos passos de ambos, sentindo a respiração acelerar e o coração bombear o sangue com uma nova força.

Os olhares dos parceiros, ou negociantes, cravam-se nela. Um deles transmite, entre a escuridão, a vontade de ver o seu corpo a derramar sangue, no asfalto frio e molhado. O outro, questões não sonorizadas, preocupação e vontade de lhe gritar na cara que é ingénua. Mas Isabella sabe que não pode ser ingénua. Ela sabe que o coração que bate no seu peito era negro, quebrado e danificado. Ela sentiu tudo isso, e sente o reforço de tudo agora, que olha a morte nos olhos. “Todos as testemunhas das trocas têm de morrer! Não nos podemos dar ao luxo de ter um maluco a contar a todos a verdadeira forma como esta cidade se sustenta!” – ela lembra-se dos gritos desesperados de um homem que mata jovens pelos seus órgãos, para os poder vender como mercadoria. E sabe que agora, encara um desses monstros. Dois monstros que matam uns para salvar outros, duas crueldades levadas ao extremo, ao ponto de considerarem válido raptar, matar e extrair órgãos de saudáveis inocentes propositadamente, para curar doentes.

 - O que fazes aqui?

[6 meses antes do incidente]

Branco. Paredes brancas. Apenas quatro paredes brancas. Frias e cálidas. Era este o panorama de Isabella assim que abriu os olhos esta manhã. A visão ligeiramente desfocada que capta de imediato a luz do sol que penetra suavemente o quarto de hospital em que se encontra. Um sorriso apodera-se instantaneamente do rosto de Bella. Hoje é o dia em que ela, finalmente deixará o hospital, com o seu novo coração, e com o novo sangue.

Sentindo o novo ritmo cardíaco, ao qual ainda se teria de habituar, Isabella salta alegre da cama e espreguiça-se. Um suspiro de alívio deixa os seus lábios, enquanto afasta os leves e brancos cortinados da janela, de forma a poder admirar o novo dia, e sua nova vida da janela do seu quarto de hospital, no qual, ao seu parecer, passou dias em demasia. A rapariga não consegue exatamente contar os dias que passou inconsciente naquela cama de hospital, contudo está determinada a não voltar a ela.

 - Já estás acordada! – uma voz com as emoções controladas entoa e Isabella reconhece de imediato a sua mãe.

 - Mãe! – um pequeno grito solta-se da sua boca e corre até a mulher, cujo vestido preto adorna as curvas e acentua a palidez da pele. – É hoje!

 - Sim, é hoje Bella – diz a mulher libertando-se do aperto da rapariga, de forma discreta. – O pai está no carro, a espera, e o Peter no vosso novo apartamento.

 - Novo apartamento? - Isabella ergue a sobrancelha e olha a mãe, Kristin, com curiosidade. – Aquele que eu encontrei antes de ser baleada? - diz ela, ignorando a expressão da sua mãe.

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