Capítulo 9 - Instruções

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O caminho mostra-se longo e algo doloroso. Não pela distância, que desempenha o seu importante papel nesta caminhada, mas pelos pensamentos que persistem na sua mente e teimam em surgir mesmo que Isabella os afaste. Contudo, existe também esperança que a sua mãe lhe possa finalmente dizer quem lhe doou o coração e os acontecimentos recentes possam ser justificados.

A familiar casa aparece no campo de visão. Amarela e com partes de madeira, fazendo Isabella suspirar pesadamente, e obriga-la a fazer o resto do caminho mais depressa.

-Mãe! - ela grita assim que abre a porta.

O hall de entrada, decorado com fotografias de família e algumas flores, faz Isabella sorrir e deter-se diante delas durante alguns segundos.

- Estou na cozinha - gritam-lhe de volta.

As botas fazem barulho no soalho e o cheiro a frango assado envolve os seus sentidos. Ela sorri ao lembrar-se que esta era a refeição que elas partilharam vezes sem conta em tardes de família.

É uma casa com demasiadas memórias que parecem pertencer a outra vida, a outro tempo, que não este.

- Olá, mãe - ela cumprimenta, envolvendo a sua mãe com os braços e dando um carinhoso beijinho na bochecha.

-Olá filha, ajuda-me aqui com a salada, por favor.

As duas mulheres acabam a preparação da refeição em silêncio. Isabella, devido a uma certa tensão, cuja proveniência ela desconhece e Kristin, simplesmente, porque não tem nada para dizer.

Talvez em tempos elas tenham sido próximas e como duas amigas que não se cansam de contar anedotas improvisadas e ridicularizar acontecimentos da vida. Todavia, neste momento,existem muitas palavras a separa-las, formando uma alta parede que, ainda que nenhuma delas admita, afasta-as.
Tudo começou quando a mãe se despediu da escola onde era professora para juntar-se a James num negócio de família, que Isabella herdará.

A mesa posta e os estômagos famintos, elas sentam-se. Os talheres começam a tilintar.

Isabella aclara a voz:

- Mãe, eu gostava de te perguntar uma coisa.

-Sim, amor, o que se é passa? - fala numa voz contida.

- Ultimamente, tenho tido estranhos sonhos e reconheço pessoas que sei que nunca fizeram parte da minha vida - conta, focando o seu prato, enquanto remexe no guardanapo, nunca ousando vislumbrar a mãe - e eu decidi que talvez pode ter algo a ver com a vida passada do meu doador então, fui ao hospital eu só me deram os dados do homem que permitiu a transfusão de sangue... a verdade é que ele é um bêbado e fez aquilo como ato de rebeldia, mais que por outra razão qualquer.

- E isso incomoda-te? - interroga, repentinamente Kristin, continuando a comer tranquilamente, sem se exaltar com o intenso discurso da sua filha.

Isabella deixa de falar durante meros minutos. Demasiado envolvida na linha do seu pensamento, a jovem ficou perdida com a pergunta da mãe. Olha-a franzindo o sobrolho:

- O quê?

- Perguntei se te incomodava o facto de ele ter feito isso por mera rebeldia e não para salvar alguém e não ser o príncipe encantado que o Niall nunca foi - repetiu-se a mulher contida e polida, dando um trago na sua bebida.

Isabella continuava imóvel, com uma expressão de choque. Mas porque estava ela espantada? Nunca foi segredo para ninguém a desaprovação que Karen tinha perante Niall.

- O quê? - eleva a voz - Mãe, pensei que tivesses aceite o Niall, eu estou com ele porque quero e porque o amo. O Harry, ele está perdido! Não tem nada a ver com sentimentos! Só quero ajudar o jovem, mais nada! Eu só queria saber quem é a pessoa que me salvou a vida, não conhecer o meu dador de sangue. Mas já que isto aconteceu, vou tentar ajuda-lo!

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