Capítulo 12 - "Bebi demasiado"

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Isabella não voltou ao bar no dia seguinte, como prometera a Harry. Porquê? Pode ter sido alguma culpa perante Niall. Afinal, ela metia-lhe, nunca revelando onde realmente ia. Ou talvez queria descansar do ambiente sufocante. Poderemos até considerar que as palavras do pai tiveram, afinal, algum efeito na jovem.

Neste momento, olhando para o relógio pendurando no quarto, com Niall adormecido ao seu lado, um braço protetor a envolve-la, todas estas razões atravessam a sua mente e nenhuma delas parece completamente acertada.

O dia passou entre chamadas com Beth e organização de alguns papeis para retomar o trabalho, almoço com Niall...

" - O que vais comer? Vamos ao chinês? - sugeriu Niall, com um sorriso sabedor.

- Nah - respondeu com uma careta e os olhos dele arregalaram-se.

- O quê? Queres ver que choveram porcos e eu não sei!?

Ele estava mais do que espantado. Mais do que admirado. Sushi era a comida favorita de Isabella desde sempre e aqui está ela a rejetá-la. O que é que ele perdeu?

- Isabella Foster! O que aconteceu para não queres chines?

Por esta altura, Isabella já estava agarrada a barriga a rir, admirando secretamente a forma como Niall conhecia a sua paixão por sushi. Contudo, hoje especificamente ela queria italiana."

Mais para o final da tarde ela teve ainda de visitar Mark, no seu consultório.

O médico experiente disse que estava tudo perfeitamente bem e que ela estava como nova, tendo em conta a gravidade do incidente. Isabella perguntava-se se ele sabia mesmo o que lhe tinha acontecido, pois este nunca mencionava concretamente o motivo pelo qual ela acabou nas emergências. E, ainda assim não ousava fazer-lhe tal pergunta. Assentia com a cabeça, sorria sem mostrar os dentes e respondia de forma curta, ansiosa por deixar aquele compartimento demasiado branco que lhe lembrava os seus momentos de fraqueza.

Após o transplante, uma operação muito complexa, havia elevadas possibilidades de que Isabella não sobrevivesse, já que o organismo começaria a rejeitar o coração transplantado. Os dias de Isabella eram passados entre febre e fraqueza, como sinais da rejeição. A eminência da morte a causar uma enorme depressão e até desistência.

E foi Niall, com o seu cesto de chocolates e sorriso contagiante. Niall e o seu otimismo imortal. Foi sempre Niall. Niall que a ajudou a lutar no momento em que parecia que ela ia morrer novamente.

Sentir a morte mesmo ali à entrada, com a porta aberta, sem nada a impedi-la de entrar é talvez, para alguém que sempre teve o fervor de viver, o mais assustador de sempre. Saber que amanhã podemos não acordar e não fazer nada daquilo que tanto planeámos e com que sonhámos. Entramo-nos num estado derrotista e sentimo-nos vencidos pelo destino e pela morte.

Mas Isabella venceu o destino e venceu a morte. Talvez por isso se recuse e estar cega a certas coisas, talvez por isso queira salvar Harry, talvez por isso seja como ela é agora e não como era antes.

Quando viu que estes pensamentos a impediam de dormir, Isabella decidiu levantar-se e beber um copo de leite. Eram já 7 da manhã. Tentar dormir parecia inútil.

Os seus pés pisavam o pavimento frio do apartamento, igualmente frio e, porra, como ela detestava a decoração do sítio a que chamava casa. E num dia, após uma noite sem dormir, tornava-se ainda pior. Tão pior, que até se esquecera de preparar um pequeno-almoço para dois, sentando-se com os seus cereiais em frente à televisão desligada, focando o relatório do estado de um paciênte que Beth lhe entregou ontem.

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