Capítulo 8 - O Desafio

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Como a vida tem aquele jeito sorrateiro de nos provar o contrário. Aqui temos Harry, que no dia em que encontrou Isabella, não lhe deu nenhuma importância, pensando que nunca mais a iria encontrar. Acontece que aqui está ela, a olha-lo nos olhos e ele, demasiado dormente, devido ao álcool, para a reconhecer.

O jovem, com cabelo demasiado despenteado, devido às várias mãos que o percorrem, encara, agora, o tampo da mesa, enquanto, segura entre as mãos o copo com tequila. Os seus olhos estão isentos de qualquer tipo de cor. Qualquer verde vibrante que existia neles dissipou por entre todo o cinzento, que veio muito antes do álcool. No meio dessa ausência de vida vemos também o vermelho, que pinta todo o olho, em redor do verde vazio. Esse vazio pesa toneladas, que Harry carrega nos seus ombros caídos e costas curvadas. Parece que uma ou duas bebidas podem libertar a sua mente desse peso, mas será por apenas algumas horas. Nessas horas ele irá pecar com várias mulheres, basta elas serem um pouco persuasivas.

E é assim que ele acaba todos os dias, no bar, com químicos no seu sistema, esperando que o álcool apague tudo aquilo que se esforça por esquecer. Que o apague a ele mesmo, por ser quem é, por ter feito o que fez, por nunca se perdoar se se lembrar. Por isso, procura conforto, para diminuir a dor. Alguém que lhe diga que tudo acabou, que não foi ele, que ele não é aquela pessoa. Acontece que apenas uma boa garrafa de tequila pode cumprir essa tarefa, pois ninguém quer saber. Nem estas mulheres que o acariciam

Harry solta um riso seco, dando, de seguida, mais um trago na bebida.

O fumo tornou-se o seu cheiro mais acolhedor, a sua zona de conforto. E ele ficará neste bar até que não lhe permitam mais, pois voltar para o seu apartamento vazio e embebido na solidão parece uma opção suicida.

Um homem triste - é assim que Isabella o vê. Ela olha para ele com pena, mas elimina logo este sentimento, substituindo-o pela vontade de ajudar. E então, lembra-se que este foi o homem que lhe doou o sangue, e deste modo, a questão inevitável surge: "Porquê?" Porque é que este homem quebrado decidiu doar-me parte do seu sangue? Quererá ele redimir-se, por um erro cometido no passado? Nalguns casos, o arrependimento e a incapacidade de alterar o passado levam ao desespero, esse desespero pode aparecer na forma de álcool. Mas então, que erro foi esse? Ela pensa, enquanto ganha coragem para enfrentar Harry.

Com uma última inspiração, avança com passos seguros até ao fundo do bar, por entre o fumo, a música alta, os risos e o cheiro a álcool. Após enfrentar alguns assobios e palavras perversas, ela pára diante da mesa do homem perdido.

Duas mulheres, uma de cada lado, esfregam o seu corpo no de Harry, todavia, este parece completamente indiferente aos gestos indiscretos. Os seus olhos estão fixos na bebida nas suas mãos, e ele não repara na presença da rapariga, mesmo a sua frente.

Isabella aclara a voz, chamando a atenção para si.

A cabeça de Harry ergue-se. Os seus olhos, avermelhados pela fadiga e pelo álcool, navegam por todo o seu corpo - o rosto pálido emoldurado por cabelo castanho claro, curto e ondulado, os lábios carnudos, vermelhos, como se ela os mordesse com frequência, o casaco de cabedal, por cima da camisa larga e branca e as calças pretas, que assentam nas ancas, tornando-as apetitosas. O jovem endireita-se e esfrega as mãos nas suas pernas, exibindo, logo de seguida, um meio sorriso charmoso.

Esse sorriso, porém, trouxe apenas algum descontentamento a Isabella. A forma como ele a olhara torna evidente o seu estado de intoxicação.

- Meninas - fala ela - Deixem-nos a sós por favor.

O sorriso de Harry tornou-se largo e satisfeito. Recostando-se na cadeira, ele estudou-a cautelosamente mias uma vez, enquanto esta puxava uma cadeira, para se sentar a sua frente.

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