Capítulo 3 - Negócios

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Naquela noite as ruas estavam particularmente húmidas, devido à chuva de primavera que decidiu refrescar toda a cidade e seus habitantes. Àquela hora da noite os carros , que ainda aceleravam pelas ruas fora, eram em número considerável. Algo que, sem dúvida, contribuía para a forma discreta como dois carros se dirigiam de encontro um ao outro.

Ambos pretos, refletem a luz que ilumina a cidade noturna, deixando as luzes desfocadas, devido à velocidade com que percorrem as ruas rumo ao ponto de encontro. Os veículos estão cada vez mais próximos.

Um dos veículos acelera e vira no cruzamento sem travar, nem ligeiramente. Com o mesmo nível de aceleração, a caixa de metal móvel, igual a outras tantas, aproxima-se de uma ponte, na qual a circulação fora proibida. Uma fita amarela liga uma margem da estrada a outra e interdita a passagem exclusivamente a operários. O carro para abruptamente não chegando demasiado perto da vedação. Os passageiros permanecem num silêncio tranquilo, mantendo uma postura, como se o processo já tivesse sido repetido vezes sem conta.

Ouve-se o som de rodas a rolar no asfalto e o motor a rugir suavemente. Depois, silêncio.

Passaram-se alguns minutos. Inúmeros carros passaram pelas estradas, os semáforos acenderam o verde e o vermelho, o verde e depois o vermelho. E só então, a porta de um dos carros abriu-se, seguida pela porta do outro carro idêntico. Deles saíram dois homens.

Ambos os indivíduos vestiam preto. Fatos pretos perfeitamente engomados. Gravata no seu exato lugar. Os seus rostos não eram ocupados por nenhum tipo de expressão - lábios comprimidos, olhos austeros. Postura inabalavel. Um deles segurava uma mala.

O som de sapatos a colidir com o pavimento ecoa pelo espaço. Um passo, outro passo, outro passo.

Dos seus carros, eles dirigiam-se de encontro um ao outro, num compromisso previamente acordado. Param e cruzam os seus olhares severos. A mala passa de uma mão para a outra. Um simples sinal com a cabeça e ambos, como se estivessem sincronizados voltam para os veículos dos quais saíram.

O som das portas e em breve, é como se ninguém tivesse estado naquele local. Apenas a luz que ilumina a ponte, trémula, foi testemunha desta,silenciosa, troca . E portanto, e como se tal nunca tivesse acontecido.

Do outro lado da cidade, Isabella dorme profundamente na sua, como lhe parece, fria cama. Mas nem o frio a impede de sonhar.

"Um prédio. Alto, mas não aquele em que vivo. Um prédio no qual entrei inúmeras vezes. Suspiro e, com o saco que levo na mão, aproximo-me dele. Empurro a porta e vários inquilinos descem as escadas a falar animadamente, mas nenhum deles parece notar a minha presença. Caminham em frente como se eu não existisse, o que me obriga a desviar-me deles.

Já nas escadas olho para trás, observando o grupo a sair. Apercebo-me então da escuridão que envolve a escadaria que me levará ao apartamento no qual pretendo entrar. Percorro com o olhar toda a escuridao, na qual eu, apesar de tudo, consigo ver bem e distinguir os relevos necessários. De seguida, os meus olhos pousam sobre o grupo de inquilinos, novamente:

- Sim, ela nunca mais aqui apareceu, não sei o que lhe aconteceu...

Sei que falam sobre mim, mas porque não me vêem? Eu estou aqui! Eu venho quase todos os dias! Quero correr atrás deles e gritar-lhes: estou aqui! 

Contudo, em vez disso, viro o meu corpo e sigo escada acima. Com a sensação de que estou a ser perseguida, acelero o meu passo que se transforma numa corrida pela vida, a minha respiração acelera e os ouvidos colocam-se à escuta. Em breve, a familiar porta aparece no meu campo de visão e suspiro de alívio. Empurro a madeira, supers por não precisar de chave e fecha com um estrondo que ecoa por todo o prédio. Finalmente a salvo.

Após respirar durante alguns minutos caminho até à cozinha, virando à esquerda, após pendurar a minha canarinha no cabide. Coloco o saco na mesa e sorrio para o sol que entra na porta envidraçada que acesso à varanda.

O meu momento de felicidade e traquilidade acaba logo de seguida com o toque da campainha.

Alguém toca impacientemente, inúmeras vezes.

1.

2.

3...

Continuo parada no meio da cozinha, fixando um ponto no chão, enquanto conto de vezes o estranho irá colocar o dedo no botão da campainha até à sua paciência expirar. Conto, ao mesmo tempo os batimentos do meu coração, cada vez mais fortes e mais frequentes. Todo o sangue percorre o meu corpo a uma velocidade, subitamente, de níveis elevados, aquecendo-me com um calor doentio. Quem é? Pergunto, embora algo me diga que sei exatamente quem é.

4.

5.

6.

7...

Então, um som ensurdecedor invade o apartamento, sinto o , que se formou do arrombar da porta, penetrar as minhas narinas e aperto os olhos com toda a força que tenho para não ter noção do que acontecerá a seguir."

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Mais um!! Gostam? Gostava que me dissessem quais são as vossas expectativas!
Mas que sonho... wow!
Kisses D.

Bloodstream • H.S Onde histórias criam vida. Descubra agora