Capítulo 17 - Promessa

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O almoço fervia no fogão, imanando um agradável cheiro por todo o apartamento. Isabella encontrava-se debruçada sobre a mesa de jantar a marcar pela terceira vez naquela tarde o número de Niall, que teimava em não atender. Talvez esteja muito ocupado, ela traquilizava-se.

A jovem chegara a casa haviam duas horas e as memórias do passeio com Harry ainda permaneciam frescas, repetindo-se na sua mente. Percebera que o frio que sentira na altura era devido ao gelado que devorava e o bater irregular do coração devido às memórias que este enclausurava e que ela desconhecia, exceto as breves ilustrações em sonhos que a perturbavam durante a noite. Antes de se despedirem trocaram os números, caso fossem necessários. E era tudo tão natural entre eles, que dava a sensação que se conheciam há muitos anos e, teoricamente, era o que, de facto, acontecia. Como se já não bastasse o sangue de Harry estar nas suas veias, ainda o coração da rapariga que ele amava está dentro dela, o que se repercute numa inegável ligação entre os dois, como se fossem dois polos que se atraem constantemente um ao outro. Harry já aceitara tal facto, ainda que com apreensão. Isabella continuava a negá-lo e a tentar mudá-lo.

Ainda na mesma posição, Bell marcava Niall mais uma vez, mas em vão. Desisitindo por agora, dirigia-se até ao fogão, para se servir com um prato e, finalmente, almoçar. Ela não distinguia muito bem o sabor e a refeição não lhe caía da melhor forma, devido à preocupação que a invadira, causada pela ausência de Niall. Ele saiu de manhã cedo e não atende o telemóvel. Terá acontecido alguma coisa? Involuntáriamente, imagens do noticiário sobre Ro emergem na sua mente e ela afasta o prato. Precisava de se distrair.

Entretanto, o seu telemóvel começara a vibrar. Esperando que fosse o seu namorado desaparecido, ela correu até ao equipamento, derrubando uma pilha de jornais pelo caminho. Algo que se mostrou ser desnecessário, pois quem chamava era Beth.

- Sim, Olá Beth. - diz, com desapontamento na voz, baixando-se para arrumar os jornais espalhados no chão.

- Hey! - a voz soa entusiasmada do outro lado - Primeiro, desculpa por não ter aparecido ontem no consultório, a minha mãe não deixava ir embora...

- O que lhe aconteceu? - Bell fica naturalmente preocupada com a amiga.

- Conto quando aqui estiveres... mas não é nada de mau, não te preocupes - ela dá uma pequena gargalhada, despertando a curiosidade na sua interlocutura - porque eu tenho muito boas notícias para ti! Acabaste de ganhar uma alma perdida para guiar!

-Não pode ser! Não acredito! - e aqui está a distração de que Isabella precisava.

- Anda daí! Rápido! - termina a chamada.

Não é preciso muito tempo para ela se tornar apresentável e invadir o elevador, carregando com ferocidade no botão, impaciente por ver este descer. Ao saír, procura ansiosamente um veículo que a leve para o consultório. Aparece um táxi mesmo a tempo e a jovem em breve acha-se no seu destino. Tudo acontece num ritmo rápido, pois ela está ansiosa por descobrir tudo sobre a pessoa que lhe garantiu o regresso à sua função.

No consultório, Bella é apresentada a uma mulher, pouco mais velha que ela, pelo que indicam os seus ficheiros. Mas fisicamente, ela mostra-se débil e fraca, com graves círculos negros de volta dos olhos. Apesar de esta afirmar comer todas as refeições, o seu estado mostra o contrário. Contudo, após Lauren Steel, tal era o seu nome, informar que já se encontra sob vigia de um nutrocionista e médico, Isabella concluira que era o esgotamente psicológico e uma profunda depressão que produziam este efeito na pobre mulher. Assim, de modo a fazer um diagnóstico mais aprofundado e marcar a seguintes sessões, as duas retiraram-se para outro compartimento.

A mente ocupada mantinha longe qualquer pensamento, obrigando Isabella a entregar a sua concentração por inteiro ao caso que tinha em mãos. Voltar ao trabalho trazia-lhe propósito à vida, apagando o sentimento de inutilidade que por vezes a assombrava, mostrando-lhe que, afinal, ainda é capaz de direcionar pessoas para o caminho certo. E, sem lhes retirar a insanidade, ensinava-as a usufruír dela. E isto não é perverso nem macábro, porque uma pessoa sem insanidade a ocupar a sua mente não tem cores a pintar a sua alma, é necessário é ensinar aqueles que não sabem como lidar com ela a melhor forma de tirar proveito dela. Fazer dela a força para viver, trazendo a vivacidade e vontade de arriscar.

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