42; Two Weeks

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- Mãe? - Chamo assim que abro a porta de casa recebendo o silêncio como resposta, bato a porta de entrada com força. - MAMÃE? - A chamo mais alto pelo acaso da mesma estar em um cômodo mais distante na casa.

Meu celular toca assim que o silêncio ensurdecedor responde o meu grito. Suspiro sentindo o meu coração disparar, havia acabado de chegar da escola, na verdade não exatamente estava esperando meu pai me buscar em um local perto dali. Iria o acompanhar em sua última sessão de quimioterapia do ciclo, aquele que ele escolheu repetir, mas o mesmo não chegou então o mandei mensagens avisando que iria para casa.

Prendo meu lábio inferior entre os dentes vendo o nome de minha mãe brilhando em meu ecrã insistentemente, deslizo o dedo pelo ícone verde permitindo a chamada.

- Filha? Onde você está? - Indaga de imediato visivelmente preocupada.

- Mãe, oi, eu acabei de chegar em casa. O pai não foi me buscar 'pra acompanhá-lo hoje, ele disse algo? Não respondeu minhas mensagens até agora. - Falo sentando no sofá.

- Estou indo te buscar e no caminho explico tudo. Faz uma mochila com roupas suas e da sua irmã, por favor. - Pede, ofegante, parecia estar andando extremamente apressada.

- Tudo bem. - Não contesto e encerro a ligação.

Pego minha mochila jogada no chão e a atiro no meu quarto, pego uma outra mochila guardada em meu closet e começo a pegar algumas peças de roupas, pego alguns pertences e sigo rumo ao quarto de Sun vasculhando o seu closet fazendo o mesmo.

Minha intuição me avisava constantemente que algo estava errado, desde a hora que acordei sentia isso mas esse sentimento ou sensação se agravou a medida que meu pai se atrasava mais para me ceder a carona até o nosso compromisso.

E então cheguei e minha mãe não estava lá mesmo sabendo que estaria, como normalmente estava nessas últimas semanas, o celular tocou e ela pediu todas essas coisas em um tom nervoso e preocupado. Estávamos indo para o hospital e não me restava mais dúvidas que meu pai não iria sair dessa, era uma despedida.

Isso não me faz me sentir menos triste ou deprimida, é só que não sentia como se minhas expectativas fossem quebradas, não totalmente pelo menos, como quando o mesmo me contou de sua condição meses atrás. Continuava triste, muito triste, muito brava também com tudo e todos por isso estar acontecendo. Me sentia em um mundo cheio de injustiças, não que o mundo não fosse assim antes, mas agora estava rodeada por elas. Aceitava todas as merdas que aconteceram comigo, mas não com as pessoas que eu amo.

Sentir dor é suportável até você ver alguém que ama sofrendo com ela.

Enquanto mexia nas roupas de Sun, uma peça, uma blusa caiu do fundo de sua prateleira. Pego a mesma e franzo as sobrancelhas encarando o desenho e a cor, eu lembrava daquela camiseta havia a visto em algum lugar mas não lembrava exatamente onde. A buzina do carro de Catarine me retirou dos devaneios, atiro a blusa para dentro do closet e o fecho com pressa.

Fecho a mochila e a jogo sobre um dos meus ombros enquanto andava rumo a saída. Tranco a porta de casa jogando a chave em um dos bolsos aleatórios, abro a porta do carro no lado do passageiro e sento no mesmo.

- O que aconteceu? - Pergunto nervosa jogando a mochila no banco de trás para prender o cinto de segurança.

- Seu pai veio me visitar, conversar até dar o horário de ir te buscar na escola. Ele estava bem mas de repente passou mal, achei que fosse apenas um mau estar mas logo em seguida o vi vomitar sangue. Fomos as pressas para o hospital. - Suspira concentrada no trânsito.

- Por que não me ligou e avisou antes? - Questiono frustrada.

- Estava quase no final da sua aula, e eu estava enrolada assinando os papéis do hospital. Me perdoa. - Pede me encarando brevemente e me limito a concordar com a cabeça olhando algumas pessoas andando juntas conversando e rindo na calçada.

Astronomy • Billie Eilish [G!P]Onde histórias criam vida. Descubra agora