Heloísa
Aquela foi a primeira vez que Gabriel fechou sua janela antes de mim.
Sempre que conversávamos por ali, eu era a primeira a me despedir. Nunca o tinha visto fazer aquilo, ainda mais com tanta pressa e raiva. E não pensava que uma simples ação podia doer tanto como doía em mim naquele momento.
Eu tinha o machucado e essas eram as consequências — sabia que isso ia acontecer e, ainda assim, permiti que acontecesse. Tinha o perdido e não sabia mais o que podia fazer para consertar — se é que ainda era possível.
Passei o restante do dia e a manhã do seguinte tentando fingir que não me importava. Afinal, tinha sido minha escolha me afastar. Mas, de tempos em tempos, ia até a janela para ver se ele tinha aberto a dele novamente. Toda vez era a mesma coisa: eu dava de cara com o vidro e as cortinas totalmente fechados, impossibilitando qualquer espiada.
Me sentei no chão no quarto, tentando me distrair com qualquer coisa, mas os pincéis ficaram parados na minha mão e nada surgiu. Não tinha ideia de como terminar as pinturas, que eu torcia para que fossem as últimas. Devo ter ficado tempo demais ali, pois meu pai entrou, trazendo um prato com pães de queijo e um copo de coca cola.
— Você está bem, querida? —ele perguntou, enquanto eu pegava o prato de sua mão.
— Estou. —menti, colocando o pincel de lado.
Marcelo me conhecia bem demais para se enganar por aquilo, mas torcia para que ele fosse deixar essa passar. Infelizmente, ele levantou uma sobrancelha e se sentou ao meu lado. Cruzou as pernas e encarou a parede na nossa frente.
— Está ficando muito bom. Já faz algumas semanas que você não está pintando.
— Bloqueio. —dei de ombros, pegando um pão de queijo.
— Olha, Heloísa. —ele suspirou— Posso continuar fingindo que não tem nada acontecendo por horas, mas eu gostaria que você fosse sincera comigo. Quero te ajudar.
Desviei o olhar para meus pés e comecei a enrolar o cadarço do all star amarelo em meus dedos. Engoli em seco, sem saber por onde começar a me explicar. Nunca tinha contado detalhes sobre meu ex namoro para ele, nem para ninguém — nunca me senti confortável. Queria esquecer tudo que tinha acontecido, fingir que nunca tinha me apaixonado por Katarina. Mas as consequências daquele relacionamento ainda me perseguiam e, agora, começavam a atrapalhar até mesmo minhas novas amizades.
— Faz alguns meses que eu venho conversando com um garoto. —falei, sentindo as bochechas corarem, era sempre estranho falar daquilo com meu pai.
— O vizinho. Eu sei. —ele sorriu de lado, entrelaçando sua mão a minha.
— Como assim?
— Você acha que eu e seu pai somos burros? Que não vemos o tempo que você passa no seu estúdio ou não ouvimos a gritaria dos primeiro dias? —ele cutucou minhas costelas, o que me fez encolher com as cócegas— Vimos seus sorrisos bobos para o celular também.
— Não sei esconder as coisas tão bem quanto pensava, hein? —ri, antes de tomar um gole da coca cola.
— Nem um pouco. —ele riu também, passando o braço pelo meu ombro— Mas o que aconteceu? Ele fez alguma coisa? Eu fiquei bem bravo com ele hoje.
— Ele não fez nada. E você tinha razão, eu também gritei com ele na primeira vez que ele jogou bolinhas de papel na janela.
— Calma, essa é a segunda vez? —ele arregalou os olhos, rindo e eu concordei— Bem, eu não devia ter exagerado. Acho que estou com saudade de Felipe e irritado porque ele não vem nos visitar e acabei descontando nele.
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Amor ao Lado
RomanceUma artista cansada da pandemia decide começar a desenhar nas paredes de sua casa, sem saber que havia um garoto entediado na janela ao lado, com muita curiosidade e vontade de conversar. Juntos os dois irão descobrir, então, se pode existir amor na...