Anjo de papel - yahikonan

capítulo 13 - a chuva

Konan narrando

Estávamos andando a um bom tempo já, todos nos juntos conversando e rindo como se não houvesse amanhã. Eu nunca me senti tão feliz, estar com eles me fazia tão bem que era quase inacreditável. Tenho medo de acordar algum dia e ver que tudo isso não se passava de um mero sonho, voltar a ser como antes, sem ter ninguém com quem contar.

Afasto esses pensamentos rapidamente antes que eles me assombrassem novamente. Tenho que aproveitar as coisas boas e principalmente cada segundo que estou aqui e não em casa. Acho que Yahiko desconfiou um pouco de alguma coisa até porque não fui nem um pouco discreta ao fitar o relógio de casa procurando saber as horas... mas eu tive meus motivos.

Eu amo minha mãe, ela é tudo para mim, sempre tivemos apenas uma a outra para nos apoiar depois que meu pai nos deixou. Mas a partir desse dia ela ficou muito mal e juntando isso com todo o estresse do trabalho que nunca acaba fez com que ela mudasse. Sei que não é culpa dela, mas minha mãe sempre desconta em mim, com gritaria e xingamentos. Já estou acostumada, ela não faz por mal, eu queria muito poder ajuda-la mesmo não fazendo ideia de como. Então quanto menos tempo passar em casa menos eu me entristeço por ela se sentir assim, eu sempre fui uma covarde e odeio isso.

Olho para o lado e Yahiko e Nagato andavam sorrindo e brincando um com o outro, com certeza eles saberiam o que fazer no meu lugar. Eu queria tanto contar a eles tudo que está entalado na minha garganta, mas não tenho coragem de me abrir. Queria saber porque é tão difícil para mim simplesmente dizer o que sinto. Invés disso eu apenas choro ou compartilho meus segredos comigo mesma, resolve as vezes.

- já estamos chegando? - forço um sorriso no rosto e avanço o passo os alcançando

- quase... mas eu tenho um atalho - Yahiko diz sorrindo enquanto alterna o olhar entre nos, buscando aprovação

- dá última vez que você me disse sobre um atalho a gente acabou encrencado - Nagato alerta

- relaxa - o outro balança a mão no ar não dando importância - vai dar tudo certo dessa vez, confia no pai

Ele sorri de lado e pisca para nós, apenas caio na risada, é melhor do que ter um derrame aqui no meio da rua não é mesmo?

Eu poderia tranquilamente escrever um livro sobre como o sorriso dele é... encantador e tão hipnotizante. Parece a coisa mais estranha do mundo estar gostando de alguém... e realmente é, mas já ouvi falar disso nas novelas, aparentemente é algo inevitável e sem razão.

- se tem uma coisa que eu aprendi nessa vida é não confiar em você - Nagato balança a cabeça

- você é muito chato - ele bufa e olha para mim com esperança - e você? o que me diz?

- eu? - alguém perguntando minha opinião? o que eu faço? nunca cheguei nessa parte - ahm...

- não dê ouvidos a ele

- deixa ela - Yahiko o repreende e volta a atenção a mim

Penso por alguns segundos e arrumo a postura confiante, tenho que me ariscar mais se quiser deixar de ser uma medrosa.

- vamos nesse atalho

Tanta coisa ruim pode acontecer se nos perdermos, já me arrependi da minha decisão repentina, mas agora não tem volta...

- toma essa - Yahiko mostra a língua para o Nagato me fazendo rir de nervoso

Então ele segura meu pulso e me puxa para uma pequena estradinha de terra que havia ao lado. Era como um parque gigante, ou um bosque não sei bem como descrever, mas não havia ninguém além de nós. Primeira vez sendo corajosa e já não gostei da experiência.

- Nagato vem logo não temos o dia todo - ele berra e o ruivo nos segue

- já me meti em tantos problemas com você... o que é um peido pra quem ta cagado né - ele suspira pesado e dá de ombros

Depois de alguns minutos já estávamos longe o suficiente para eu não me lembrar mais do caminho para voltar. Mas respiro fundo e repito a mim mesma que vai dar tudo certo, afinal não estou sozinha.

- foi assim que eles se perderam - Yahiko faz uma voz grossa de narrador nos assustando

- estamos perdidos? - pergunto preocupada

- não - o ruivo responde

- ele mentiu...

- para - Nagato o repreende e ele bufa

- ei - Yahiko para de andar de repente nos deixando confusos

- não me diga que você não sabe por onde ir - Nagato suspira preocupado

- não é nada disso... vocês sentiram algo molhado cair em vocês também? - ele olha para nós

- como assi... - antes que pudesse terminar de falar sinto pequenas gotas de água caírem em minha cabeça

Olho para cima e o céu estava escurecendo, está de tarde, mas não tanto a ponto de terem nuvens pretas. Isso só tem uma explicação... vai começar a chover a qualquer momento.

Nós olhamos um para o outro nos perguntando o que faríamos agora e nesse momento a chuva aumenta drasticamente, era só o que nos faltava. Como primeiro pensamento lógico corremos mata a dentro seguindo a trilha a fim de encontrar qualquer lugar para nos abrigar.

Só então me lembro de que Yahiko estava segurando nosso cartaz... um pouco de tinta escorria do papel deixando marcas no chão, tanto trabalho para nada. Maldita chuva.

- que droga! - ele esbraveja olhando para o papel em suas mãos e continua correndo

A essa altura do campeonato já estavamos encharcados dos pés a cabeça. Como se não pudesse piorar está cheio de árvores em volta de nós, com certeza nos perdermos. Tento manter pensamentos positivos, mas é impossível agora.

- a gente não pode se separar - Yahiko me avisa e assim que olha para trás para de dizer o mesmo a Nagato sua expressão muda

Ele para de correr, ficando imóvel, assim que estranho a situação faço o mesmo e percebo que Nagato não estava mais lá. Ele havia sumido num piscar de olhos. Observo em volta desesperada, não podemos ter perdido ele assim. Estávamos todos juntos... não era para isso ter acontecido.

De repente era como se eu não escutasse mais a chuva em volta, tudo parece ficar em câmera lenta, estou me sentindo a pior pessoa do mundo porque era para eu ter impedido que a gente entrasse aqui. Foi tudo tão rápido que parece loucura, estou torcendo para descobrir que isso não aconteceu e é só coisa da minha cabeça, mas é em vão.

Quando volto para a realidade, saindo do meu estado de pânico, vejo Yahiko com a cabeça encostada em uma árvore e de olhos fechados.

- isso é tudo minha culpa...