capítulo 4 - deu tudo errado

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Konan narrando

Hoje de manhã fui a primeira a chegar na escola como normalmente acontece, já que minha mãe não fica em casa a essa hora.

Assim que cheguei fiquei andando pelos corredores silenciosos enquanto refletia sobre vida monótona que tenho.

Fui para perto do armário do Yahiko e passei os dedos pelas partes um pouco amassadas, não tenho a menor ideia de como ficou nesse estado. Tudo bem que nossa escola não é das melhores, tanto que é para quem não tem muitas condições. Mas o meu está intacto, me surpreenderia se o dele também estivesse.

Sorrio de canto com esse pensamento e então tenho uma ideia repentina, fazer como nos filmes que assistia com minha mãe. Já que não tenho coragem de falar com ele, poderia escrever.

- não... isso jamais daria certo comigo - me afasto dali e sento em um banco próximo a parede

Tenho esses sentimentos dentro de mim a um bom tempo e para piorar eu nem mesmo os entendo, quer dizer, o que alguém com 10 anos e menos de 1 metro e meio sabe sobre isso?

- eu poderia escrever e guardar só para mim... - sugiro a mim mesma e dou de ombros, não parece uma ideia tão ruim - estou entediada mesmo

Então abro minha mochila e pego um dos meus pedaços de papel que guardo. Sempre os levo comigo para qualquer lugar, fazer origamis me acalma e é uma forma de me expressar mesmo que através de uma simples folha de papel.

Pego minha caneta preferida e me apoio no banco. Penso várias e várias vezes no que vou escrever ali, é mais difícil do que pensava. Então apenas deixo fluir e ver no que dá.

parece estranho, e realmente é, você certamente não sabe quem sou, e quem nessa escola sabe não é mesmo? duvido que alguém aqui sequer sabe meu nome.

mas quero que saiba que te admiro muito, sincero e simples, é meu jeitinho de dizer as coisas. Não quero fazer nada muito complexo, já que não sei como dizer tudo isso com palavras então deixo assim.

- eu deveria assinar, mas não com meu nome, por mais que não vá entregar não quero correr o risco de que outra pessoa a encontre

Penso em qual codinome usar e então me recordo de um apelido. Meu pai, antes de sumir do mapa, me chamava de anjo de papel já que dizia que sempre fui boa com dobraduras.

Logo que termino dobro a cartinha em uma espécie de flor, são minhas preferidas. E então assim que ia colocá-la na mochila, alguém aparece como um fantasma atrás de mim.

- ta fazendo o que? - levo um susto e quase caio do banco

- Tobi? - franzo as sobrancelhas assim que vejo quem era

- flor bonita... você que fez? - tento disfarçar e esconder a cartinha antes que ele ligue os pontos, mas falho miseravelmente

- a quanto tempo você está aqui? - questiono mudando de assunto

- vamos mesmo ficar conversando por perguntas? - ele ri e sobe em cima do banco antes de se sentar ao meu lado

- você ainda não me respondeu - o sigo com os olhos

- não muito... - ele se faz de desentendido - o que ta escrito aí em?

- sabia... você leu não é? - falo em tom de preocupação, como pude ser tão descuidada, nem senti sua presença

- não... - ele desvia o olhar para o papel e em segundos o tira da minha mão - ainda

- ainda nada, não leu e nem vai - falo enquanto tento pegar de volta, mas ele desvia - eu vou bater em você

É... acho que isso explica porque eu não tenho amigos.

- AAAAAAAA DEIDARA - ele berra ainda desviando de mim mesmo eu estando quase o esmagando

- não adianta gritar não - ele continua persistente em ler

- DEIDARA DE SALVA - tenta se livrar de mim, mas ele não vai sair daqui tão fácil

- você é muito escandaloso sabia? - olho para o lado e Deidara estava ali, encostado na parede e sentado no chão ouvindo música

- ELA VAI ME MATAR AAAAAAA

- DEVOLVE LOGO TOBI - falo alto demais e isso surpreende ambos

- você fala? - o loiro ri tirando os fones

- você fala - resmungo o imitando e bufo, agora fiquei realmente irritada

- sai de cima de mim... - Tobi ficou melancólico de repente

Me ajeito no banco e tomo o papel da mão dele agora que tudo se acalmou.

- por que eu não posso ler? - ele cruza os braços emburrado

- porque não

- isso não é resposta - Deidara reclama se intrometendo

- vocês não vão saber de um jeito ou de outro - dou de ombros e saio dali antes que peguem de novo

Foi por muito pouco que não viram, sei que aparentemente não tem nada demais já que não citei o nome dele na carta, mas ainda sim seria um desastre. Não preciso que outra pessoa saiba que escrevi para alguém.

Passo pelo armário do Yahiko mais uma vez e parece que ele me chama, como se dissesse para deixar a cartinha ali e sair correndo.

Ele não iria saber quem foi mesmo... não, ele é lerdo mas e se ele descobrir?

Fico imóvel por um tempo pensando e repensando várias vezes no que fazer. Quero muito dizer a ele tudo que está aqui dentro, mas ainda tenho medo de ele ser como todos os outros aqui.

Seguro firme aquela flor em minhas mãos e hesito em deixá-la ali. Mas assim que ouço o som das conversas aumentarem em minha volta percebo que já estão todos chegando. Então em uma decisão rápida abro aquela porta e a jogo ali dentro.

Fecho e vou para longe rapidamente. Me encosto na parede atrás e fecho os olhos respirando fundo, tenho que ficar calma, afinal não vai dar em nada mesmo.

Olho para cima e dou um sorriso, nem acredito que eu realmente fiz isso.

- queria ver a reação dele mas pelo visto não vai ter como... - murmuro quando ouço o sinal para entrar na sala

Olho para o armário mais uma vez e agora já é tarde demais para se arrepender e voltar atrás. Então sento em meu lugar e fico a espera da professora.

Começo a organizar meus materiais, mas paro assim que ouço a porta se abrir e então a ansiedade me toma por completo ao ver quem era.

E lá estava ele, mas dessa vez não estava sorrindo como geralmente faz. Será que ele leu e não gostou... ou alguém me viu e contou tudo... eu sabia que era má ideia. Onde eu estava com a cabeça?

Sinto um nó se formar na garganta e apoio o rosto na mesa. Lá se vai minha dignidade indo por água abaixo.

Anjo de papel - yahikonanOnde histórias criam vida. Descubra agora