capítulo 18 - mãe

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Konan narrando

Finalmente chego em casa, tudo está escuro e eu ainda continuo um pouco molhada, o que minha mãe vai pensar? eu com certeza entrei numa encrenca e das grandes.

Hesito em abrir a porta, mas ela se abre sozinha dando lugar a minha mãe. Antes que pudesse dizer algo ela me abraça, tão forte que quase não consigo respirar, confesso que senti falta disso.

- mãe... - mal consigo terminar a frase e percebo que ela choramingava baixinho

Logo fico assustada e me sentindo horrível por isso, voltar para casa nesse estado e ainda por cima no meio da noite não é muito comum.

- você ta bem? onde você tava? - ela me olha com medo nos olhos enquanto me segura

- ahm... eu meio que me perdi, só isso - dou um sorrizinho tranquilizador, mas que não funciona muito

Ela me arrasta para dentro e solta um suspiro aliviado ao fechar a porta. Tento sair de fininho nas pontas dos pés, mas ela me impede limpando a garganta.

- não vai a lugar nenhum mocinha, pode voltando - ela coloca as mãos na cintura e eu me viro bem devagar - quero explicações

- desculpa... - coloco as mãos atrás do corpo pelo nervosismo e fico a fitando

- eu fiquei preocupada - ela diz por fim com a respiração cansada

Então ela caminha até a mesa de jantar e se senta no banquinho do balcão. Entendo o sinal e a sigo fazendo o mesmo, assim ficando de frente para ela.

- vai me contar? - ela olha para mim

- é que eu saí de casa... e me perdi... naquele lugar com árvores - falo fazendo pausas de vez em quando - aí choveu...

- eu sempre digo para você não sair de casa assim sozinha - ela coloca a mão na testa

- sim eu sei... mas eu não estava sozinha - desvio o olhar

- não? - ela fica confusa - então quem...

- alguns amigos - a interrompo

- que amigos?

- da escola... - coço a cabeça e enrolo para não os entregar, mas infelizmente ela me conhece o suficiente para perceber

- ta bom... - ela deixa para lá - só não faça isso de novo ok?

Apenas assinto com a cabeça estranhando um pouco, ela não brigou comigo dessa vez... tem coisa errada aí, certeza.

- você... não ficou brava? - resolvo perguntar

Tombo a cabeça para o lado e ela suspira como se estivesse guardando algo para si mesma e que não quer falar. Sabia que estava bom demais para ser verdade.

- ... não - ela responde por fim e dá um leve sorriso

Acho melhor deixar as coisas como estão, então desço do banco em que estava sentada e quando estou prestes a sair da cozinha, ela me chama novamente.

- me desculpa - ela solta ar pela boca como se tivesse tirando um peso das costas

Nesse momento fico mais confusa do que já estava antes. Franzo o cenho a olhando e ela volta a falar assim que percebe minha expressão.

- eu não queria ter sido tão dura com você - ela desvia o olhar como se estivesse envergonhada

Dou um passo em direção a ela, ainda sem entender exatamente o que ela quer dizer com isso, não esperava por essa.

- eu estou exagerando demais com você ultimamente né... - ela volta a atenção para mim, vejo que havia arrependimento em seu olhar - eu nem percebia mais o que estava fazendo

- ahm... - fico sem saber o que dizer e logo minha mãe se entristece

Admitir algo é difícil, principalmente assim do nada. Não tenho nem reação a não ser ficar imóvel processando isso. Desde que meu pai se foi éramos só nós duas juntas o tempo todo por conta da dor, mas a alguns meses minha mãe se encontrou com ele e pelo visto foi ruim ao ponto de ela voltar estranha para casa.

Ela fecha os olhos cabisbaixa e antes que ela saísse dali a abraço em um ato inesperado. Encosto minha cabeça em cima de sua barriga e permaneço ali, foi o único jeito de expressar o quanto eu fiquei feliz com isso. De início ela fica confusa com a situação, nem ela mesma imaginava isso.

- ah... - ela sorri emocionada e me abraça de volta

Levanto minha cabeça para olhar diretamente ela e dou um sorriso com os olhos.

- ta tudo bem - eu não precisava de muito, só aquelas palavras já me fizeram sentir como antes, quando os dias eram mais felizes

- você é a melhor filha que alguém poderia ter - ela sussura e gentilmente bagunça meu cabelo

- mãe! - rio junto com ela e tento arrumar meu mini coque recém estragado

Ela se abaixa no chão ficando da minha altura. Havia um sorriso sereno em seu rosto, dá para ver que ela realmente não está bem e apenas finjindo. Um dia eu vou conseguir ajudar ela a superar, quando eu descobrir como, eu juro.

- depois daquilo eu me deixei levar pela raiva eu sei, mas eu prometo que nunca mais vou descontar minha frustração em você... - ela coloca uma mecha do meu cabelo atrás da orelha - hoje eu fiquei tão preocupada com você que cheguei a imaginar o pior, me culpei tanto que finalmente percebi que a errada aqui era eu

Dou um sorriso contente e seguro as mãos atrás das costas. Então ela se levanta e pega em meu ombro me levando com ela para fora da cozinha.

- a gente... pode assistir um filme? - pergunto com receio, faz muito tempo que não passamos um tempo juntas

- ahm... - ela olha para o relógio e já era de madrugada - se atrasar uma vez na vida não mata ninguém - ela volta a olhar para mim e ri

Sorrio de orelha a orelha e corro para o sofá saltando com tudo nele. Ela se assusta e vem até mim controlando o riso.

- vai se quebrar toda menina! - ela se senta ao meu lado enquanto eu me estico para pegar o controle

Coloco imediatamente no filme de princesa que passava ali e minha mãe me encara.

- princesa é muito chato - ela me encara indignada

- eu que escolho - levanto o rosto convencida

- e onde fica a democracia? - ela diz como se eu soubesse o que é isso

- vai mãezinha, deixa nesse - deito a cabeça no colo dela me vitimizando

- a gente carrega nove meses na barriga, sofre e quando nascem, eles querem nos controlar... - ela balança a cabeça e cede

Rio dela falando sozinha e assim nos concentramos no filme. Exatamente 5 minutos depois já estavamos as duas dormindo no sofá, totalmente largadas. E mesmo assim foi a melhor noite que já tive em meses.

Anjo de papel - yahikonanOnde histórias criam vida. Descubra agora