Capítulo 7 - Querido Diário...

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Nunca pensei que veria minha vida passar pelos meus olhos. Na verdade jamais pensei que isso era possível, mas ao que parecia lá estava eu parado no quarto dele, eu sabia que não era real, porque eu não estava em casa quando tudo aconteceu. Eu reconhecia aquele dia, a forma como o vento balançava a copa das arvores e como o cheiro da terá molhada ainda impregnava o ar naquela manhã e pela forma que eu esperava ainda deitado na cama por ele.

O céu estava azul, eu podia ouvir o canto dos pássaros, o sol nascia no horizonte devagar, meus olhos estavam cansados enquanto Lucas dirigia pela avenida tranqüila naquele começo de manhã. Minha cabeça estava apoiada no ombro dele enquanto ele me abraçava e dirigia o carro ao mesmo tempo. Ele afagava meu ombro e cintura e me beijava a testa e em alguns momentos me beijava a boca, fechando os olhos e ignorando o perigo.

Eu estava feliz, e tudo aconteceu rápido admito, mas estou feliz por estar com ele. Ele dirigia calmamente, meus olhos já estavam pesados quando ele parou o carro e me abraçou mais uma vez forte. Ele se movia com cuidado, me ajeitou no banco e tirou o cinto de segurança, então ele desceu e fechou a porta e abriu a minha, apoiou minha cabeça no seu ombro e me pegou pelos braços, chutou a porta e a fechou.

Ele caminhou comigo no colo ate a porta e sussurrou no meu ouvido:

- Onde estão as chaves amor?

-No meu bolso... – murmurei.

Ele sorriu e de alguma forma conseguiu pegar as chaves que estavam no meu bolso, e logo em seguida ele abriu a porta, adentrou o terraço e fechou a porta com um empurrão de pé. Seguiu para a porta da sala e a abriu, essa ele deixou aberta e seguiu ate o meu quarto, abriu a porta e me colocou na cama. E quando ele se virou para sair do quarto, eu o segurei. Ele se voltou para mim e sorriu, então sentia a cama afundar e seu corpo quente ficar ao lado do meu, seus braços me envolveram e eu me aconcheguei em seu peito.

- Eu te amo.

Ele ficou em silencio, afagou meu rosto e disse:

- Também te amo.

Quando abri meus olhos ele ainda estava ali, seus braços envolviam meu corpo enquanto sua respiração tocava minha nuca. Levantei-me devagar e ele respirou fundo, me aproximei de sua face e lhe dei um beijo e sai da cama. Segui para a sala e olhei para o relógio que marcava duas da tarde. Voltei para o quarto e fui para o banheiro. Tirei a minha roupa e a deixei num canto do banheiro enquanto me dirigia para debaixo da ducha.

Deixei que a água quente tocasse meu corpo e relaxasse meus músculos. Deixei que ela passeasse por todo o meu corpo. A sensação era indescritível, eu me sentia bem e feliz. Sai do banho, peguei a toalha que estava na pia e me enxuguei, voltei para o quarto e fui ate o guarda roupa pegar alguma roupa, vesti uma cueca boxer preta, em seguida coloquei uma bermuda preta e uma camisa branca, quando ouço a voz dele.

- Bom dia... – disse bocejando.

- Bom dia amor. – disse em meio a um sorriso.

- Quanto tempo eu dormir?

- Não faço idéia, mas são... – olhei para o pequeno relógio que estava em cima da escrivaninha. – Duas e vinte da tarde.

Ele coçou os olhos.

- Dormi muito, eu estava apenas esperando você ir dormir, mas acabei dormindo junto... – disse ele bocejando e em meio a um sorriso.

Caminhei ate ele e me deitei ao seu lado, ele ajeitou o meu corpo e me abraçou.

- Que bom que foi ficar comigo ontem. – ele disse. – Eu estava com saudade.

- Eu também.

- Estamos nos vendo menos ultimamente.

- Você tem suas ocupações e eu as minhas e o que nos sobra é o final de semana.

- E mesmo assim não é tempo suficiente para matarmos toda a saudade.

- Nos vamos dar um jeito amor.

- Vamos sim.

Ele me abraçou forte. Senti seu corpo quente colado no meu, eu podia ouvir seu coração batendo calmamente e sentir sua respiração, seus braços me envolviam e acariciavam meus ombros.

- Quer casar comigo?

- Como? – ele disse surpreso.

- Só se você quiser.

Ele ficou em silencio novamente. Olhei para o teto branco enquanto meu dedo fazia círculos imaginários em seu peitoral. Ele acariciou meu braço e me beijou a cabeça e sussurrou:

- Se você me agüentar ate a minha formatura eu caso com você.

Dei um breve sorriso.

- Eu te amo de verdade.

E mais uma vez o silencio tomou conta daquele lugar.

Eu não sabia se naquela época tudo já estaria naufragando. Mas não vou negar que foi uma época feliz, a mais feliz que tive, mesmo com toda a dor que sofri depois da perda. Mesmo depois que meu coração foi quebrado em todos os pedaços imagináveis, eu odeio repetecos. Porque os odeio? Porque me fazem lembrar de algo que eu queria ter e tive e que eu não terei mais. Espero que eles não achem os meus diários, que Luciano seja feliz e que todos aqueles que um dia me fizeram chorar encontrem a sua felicidade, porque no final das contas somos um produto do meio.

Vou sentir falta dele.

Das brincadeiras idiotas, do riso bobo e fácil. A vida nunca foi justa, mas tive a felicidade que sempre desejei. Eu tive meu pequeno infinito com ele e sempre o terei para onde quer que eu vá.

Querido Diário: Ascensão | Livro III | Romance GayOnde histórias criam vida. Descubra agora