Capítulo 9 - Ascensão

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Então sentir um enjoou as imagens se distorceram e me vi sentado no chão, a imagem parecia estar congelada. A lareira queimava as toras de madeira enquanto meu olhar estava preso nas labaredas que subiam aos poucos, atrás de mim estava Luciano, seus braços circundavam minha cintura. Seu queixo repousava nos meus ombros e seus olhos estavam fechados. Era estranho me ver, em todas as outras lembranças eu vivia a mesma, mas por algum motivo nessa eu estava me vendo.

Meus olhos estavam inchados, minha face estava perdida em pensamentos e ele continuava ali do meu lado, foi a primeira vez que ele me viu tendo uma crise, foi a primeira vez que ele viu o estado deplorável em que meu coração e alma estavam. E foi a primeira vez que vi o medo em seus olhos.

 Agachei-me e lembrei da sensação das chamas esquentarem meu corpo, olhei para meu rosto vazio e estendi a mão para limpar minhas próprias lagrimas e ao tocar meu rosto eu me via sentado no chão, sentia os braços de Luciano me segurarem de forma firme. Senti a respiração dele no meu pescoço quente e tranqüila. Arqueei meu corpo então seus braços me puxaram para si, ele se encostou no sofá e me fez deitar em seu peito.

- Desculpa... – sussurrei.

Aquela foi à primeira palavra que eu havia dito em horas, suas mãos tocaram meus braços e ele os acariciava.

- Eu sinto muito... – disse um pouco mais alto.

Ele continuou em silencio, suas mãos ainda se moviam pelos meus braços, e novamente meus olhos se encheram de lagrimas que começaram a cair e tocar-lhe a camisa branca.

- Não chore... – ele sussurrou em meu ouvido. – Esta tudo bem.

Porque quando alguém diz essas palavras, desabamos mais rápido ainda? Talvez seja a culpa que eu sentia, por ter tentado o que eu tentei. Por aquela razão ele me prendia ali. Queria que eu estivesse junto dele, um lugar onde ele pudesse me proteger de mim mesmo.

- Eu sou um fardo para você... – murmurei em meio ao choro.

Suas mãos pararam de se mover.

- Nunca mais fale isso Alex. Nunca mais. – disse ele em tom serio.

Seus braços me envolveram em um abraço apertado. Então ele me olhou nos olhos pela primeira vez em algumas horas.

- Eu te amo e você não é e nunca foi um fardo. Você só tem a mania de colocar todos os problemas do mundo nas costas e querer resolve-los sozinhos. Tem medo as vezes e por isso foge o controle, mas ainda é o garoto perdido que eu encontrei em meio a escadaria de um consultório psicológico.

- Você nunca me contou o que fazia ali.

- Ali onde?

- Quero dizer, no consultório psicológico.

Ele riu.

- Sua psicóloga é minha mãe.

- Porque nunca me falou isso. – o olhei.

- Nunca achei que fosse um detalhe importante.

Ficamos em silencio então o nada é abruptamente interrompido pela porta sendo aberta de uma forma desesperada. Gabriel estava suado e sua face parecia aflita. Ele me olhou e logo depois para Luciano e caiu de joelhos respirando calmamente dando um longo suspiro.

- Você esta péssimo. – comentei.

Ele me olhou com um olhar reprovador, mas algo o fez mudar suas feições e ele abaixou o olhar.

- Que bom que esta bem. – disse ele dando um breve sorriso e me olhando.

- Luciano esta cuidando muito bem de mim, desde que você me abandonou.

Sua face ficou triste e ele olhou para o chão. As palavras pareciam tê-lo machucado, mas não era essa a invenção. Foi uma tentativa fracassada de fazê-lo rir de ma piada idiota e sem graça, mas havia algo que eu não sabia?

- Eu não te abandonei. – Gabriel disse.

Luciano me apertou mais forte e me levou para mais perto de si.

- Luciano faz isso melhor que eu. – disse ele completando seu raciocínio e deu um breve sorriso, ele sempre fazia isso quando queria esconder algo – E sei que no momento ele é a pessoa mais indicada para cuidar de você.

Eu me desprendi de Luciano, caminhei de joelhos ate Gabriel que me olhou sem entender nada, então eu o abracei. Suas mãos não me abraçaram imediatamente, elas demoraram ate tocarem o meu corpo.

- Obrigado Gab... Sempre vou amá-lo de um jeito ou de outro.

- Eu sei que vai...

Então ele me apertou contra seu rosto e me olhou dando um breve sorriso.

- Agora você precisa acordar... – disse ele sorrindo.

- Acordar? – disse confuso.

- Sim. – disse Luciano se aproximando. – Acorde meu amor.

- Mas eu não...

- Ainda não... – Luciano disse sorrindo. – eu disse que nunca ia deixar você fugir de mim, e eu cumpro as minhas promessas.

Meus olhos se encheram de lagrimas.

Ruídos.

Bips.

- Calibrem! – uma voz ao longe dizia.

Choque.

- Ainda sem reação doutor.

- Mais uma vez.

Uma pequena pausa.

Choque.

Bips.

- Batimentos cardíacos estão se normalizando doutor.

Suspiro.

Meus olhos se abriam lentamente, minha visão estava embasada. Uma luz branca ofuscava mais meus olhos.

- Ele é forte, vai sobreviver. – sentir uma mão tocar meu ombro.

Minha cabeça pendeu para um lado, meus lábios estavam secos e desidratados. Esforcei-me para move-los e conseguir dizer a única coisa que eu poderia dizer naquele momento.

- Luciano...

Querido Diário: Ascensão | Livro III | Romance GayOnde histórias criam vida. Descubra agora