No dia seguinte eu decidi sair do quarto que já não ficara mais trancado desde a minha conversa com Nickolas na noite anterior. Desci as escadas e abri a enorme porta de entrada da casa. Saí para o enorme jardim da mansão e me encantei com o quão ele era bonito. Imaginei Carlos e eu aqui, fazendo piqueniques, correndo por essa extensão e rolando na grama fresca. Meus olhos se encheram de água e limpei com as palmas das mãos.
- Srta. Molina – uma voz atrás de mim disse. – Deixou seus aposentos...
Era Flynn, ela parecia feliz em me ver fora do quarto.
- Precisava respirar um pouco, e como seu Mestre disse que não sou prisioneira, não vi problema – dei de ombros.
Ela sorriu.
- Se meu Mestre disse... – ela se aproximou e colocou a mão sobre meu ombro. – Logo vai estar familiarizada com a casa e vai ver como vai se sentir bem.
Respirei fundo.
- Isso nunca irá acontecer – me virei para ela. – Aqui não é minha casa, e nunca vai ser.
Ela não respondeu, mas pude ver pelo seu olhar que não aprovara o que eu dissera. Quando ela me deixou só e seguiu com seus afazeres pela mansão, caminhei pelo jardim e deixei que a luz do sol tocasse minha pele. Já havia dias que não sentia a brisa sobre meu corpo, aquilo agora me parecia estranho.
- Está se divertindo? – ouvi uma voz que vinha atrás de mim.
- Regginald – suspirei quando me virei e vi a fada que a dias me trouxera para cá.
- Gosta do que ver? – ele apontou para as enormes montanhas a minha frente, tocando o céu rosado.
Não o respondi.
- Qual é Julie – ele disse sorrindo. – Se não falar por bem, posso encontrar outras maneiras de te fazer falar.
- Tente – dei de costas pra ele, admirando a vista das montanhas. Eram de fato muito bonitas.
- Não sou seu inimigo – ele suspirou se aproximando de mim.
- Eu discordo – disse.
- Sei que isso tudo parece ruim – ele se posicionou ao meu lado, os olhos fixos nas montanhas assim como os meus. – Mas nada que meu Mestre faz, é sem motivo. Pode ter certeza.
Suspirei e me virei para ele.
- E por que eu?
Ele não me olhou, nem mesmo me respondeu. Não me dei ao trabalho de implorar por uma resposta. Do pouco que vira aprendera que fadas só falavam o que queriam e eu não era capaz de incentiva-los a dizer algo mais.
- Um dia – ele disse quebrando o silêncio. – Você verá que tudo vai se acertar.
- Tudo o quê? – indaguei curiosa.
Ele sorriu.
- Você verá.
***
Quando a noite caiu, eu não quis descer para jantar com Nickolas e quem quer que fosse sua companhia. Supus que fosse Reggie, e mesmo com nossa conversa mais cedo no jardim ainda não me sentia a vontade na presença deles. Alex era a única fada com quem eu me sentia a vontade, bom, apenas em algumas vezes.
Ele gostava muito de falar, e sempre esperava no meu quarto até que eu comesse tudo. Fazer uma refeição sozinha não faz bem para nossa alma – ele me dissera.
Quando terminei, tomei um banho e vesti uma das muitas camisolas que havia no meu guarda roupa. Me joguei na cama e dormi, não chorei naquela noite, mas os sonhos que tive não foram dos mais agradáveis.
***
Nos dias que se seguiram eu apenas saía ao jardim pela manhã, pegava um pouco de sol e logo depois voltava para meu quarto. Não havia visto nem Reggie nem Nick desde então, agradeci por isso.
Tanto Alex quanto Flynn continuavam ainda mais tagarelas do que nunca, e por mais que eu não me sentisse cem por cento a vontade de ouvir suas histórias, ficava contente por ter alguém que se importasse comigo. O resto dos criados da casa nem sequer olhavam na minha cara quando eu passava pelos corredores. Era como se minha presença ali fosse algo absurdo. E talvez fosse. Em nenhuma das histórias que ouvira, falava sobre humanos e fadas vivendo juntos.
Eu passara meus dias pensando em como estaria meu pai e meu irmão; como seguiriam com suas vidas quando a filha fora raptada por uma fada? Parei de pensar neles para evitar chorar e pensei em quais motivos fizeram com que eu fosse trazida para cá, e tão bem cuidada como estava sendo.
Todos sabíamos que as fadas não gostavam nem um pouco dos humanos, então por que Nickolas me trouxera para viver sob o mesmo teto que ele? Eram tantas perguntas, mas nenhuma tinha resposta. Quando a noite caiu, decidi sair do quarto e fui para a sala de jantar. Encontrei apenas Reggie sentando beliscando sua comida. Sua postura se endireitou quando me viu.
- A coelha saiu da toca – ele sibilou com um sorriso no rosto.
Eu me sentei em uma das cadeiras e me servi com a comida que estava disposta sobre ela.
- Onde está Nickolas? – perguntei sem olhar para Reggie.
- Não sabia que tinha permissão para chamar o Mestre pelo seu nome – disse.
Olhei para ele.
- Precisa de permissão? – ri com desdém. – Fico me perguntando o quão arrogante ele é.
Reggie não sorria mais.
- Cuidado com o que fala humana – ele falou baixo. – O Mestre tem temperamento explosivo, não quer provocá-lo. – ele afirmou com certeza.
- Não tenho medo do seu Mestre – disse olhando em sua direção e terminando de servir meu prato.
Quando comecei a comer, ele saiu da sala e terminei meu jantar sozinha. Subi as escadas para ir em direção ao meu quarto, quando uma brisa gélida atingiu meu corpo, fazendo com que eu me arrepiasse. Podia jurar que estava sendo observada, mas quando olhei para trás eu não vi nada. Segui pelo corredor e ao chegar a meu quarto, estava com medo. Não só pelo que achara ter visto, mas medo de tudo. Medo de nunca conseguir sair dessa prisão, de nunca conseguir me livrar desse castigo.
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Midnight Obssession (Juke-JATP-Acotar)
FanfictionEm um mudo dividido entre humanos e fadas, a jovem Julie Molina e capturada e levada para viver nas Terras Obscuras ao sul de seu mundo. Lá ela esperava encontrar o pior, mas ao invés disso ela se depara com um dos locais mais belos que já estivera...