Capítulo Onze

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A roupa que eu vestira era espetacular. Um vestido cinza prateado e brilhante, com finas alças que pendiam em meu ombro. O vestido se adaptou bem ao meu corpo e me fez parecer ainda mais velha e madura do que realmente sou. Calcei sapatos de mesma cor com tiras por toda minhas pernas. A máscara era um complemento do vestido, eu a coloquei no rosto e deixei meus cabelos cacheados soltos.

Eu estava divina, nunca imaginara que pudesse um dia ficar tão bonita assim. Abri a porta e agradeci por Nick confiar o bastante em mim para não tranca-la. Nick… O que ele acharia de tudo isso? Eu havia prometido a ele… O que eu estava fazendo.

Era tarde demais para arrependimentos. Eu estava bem no meio das escadas e as descia com graciosidade, mesmo nunca ter usado um salto na vida, eu me acostumei rápido. Por sorte ninguém me vira e lembrei do encantamento de Nick. A medida que caminhava entre todas aquelas belas fadas e nenhuma parecia me ver me conformei que de fato não estavam me enxergando.

Bom, não fazia diferença, isso era bom. Assim eu estaria protegida caso alguém tentasse algo contra mim. Uma música suave estava tocando e algumas fadas dançavam no salão na porta a direita. Eu também dancei, sozinha mas dancei. Aproveitei para aliviar toda a tensão dos últimos dias, me jogando de corpo e alma a dança.

– Cuidado para não cair – a voz rouca dele tocou meus ouvidos e paralisei na mesma hora, fiquei imóvel, mas atenta. – Não quero que se machuque.

Respirei bem fundo, meu coração se acelerou e me virei para onde a voz de Luke vinha. Ele estava diante de mim, usando um terno completamente preto, os olhos oceanos cinzentos fixados em mim escondidos através de uma máscara cor da noite sob seu rosto.

– Poderia me acompanhar numa dança? – ele estendeu a mão para mim.

Não disse nada, estava perplexa demais para isso. Se ele era mesmo de fato tão perigoso, ter saído do meu quarto havia sido um péssima ideia.

Ele riu.

– Não se martirize por descumprir a promessa que fez a Nick, eu teria ido ao seu quarto te procurar. – O que? Ele podia ler meus pensamentos?

– Sim Julie – ele deu um passo na minha direção sorrindo. – Ler pensamentos, é um dos meus dons.

Continuei parada, sem reação.

– Dança comigo? – outra vez ele estendeu a mão para mim.

Eu deveria aceitar? Se ele era de fato tão perigoso como todos diziam, o melhor seria dançar com ele e rezar para que Nick me visse e me tirasse dessa encrenca. Relutante e um pouco trêmula, minha mão se aproximou da dele e quando fui tocá-la minha mão simplesmente atravessou a dele. Era como se ele não estivesse ali, fosse apenas sombras, um fantasma.

Ele sorriu com os olhos baixos e mordeu o lábio inferior. Não pareceu tão surpreso como eu estava.

– O que… por que… – gaguejei confusa.

Ele levantou o rosto e olhou para mim.

– Surpresa… – ele sorriu. – Não posso tocá-la.

O que? Como assim? Sua magia era inútil contra mim, e agora ele não podia me tocar. Por quê?

– Eu não entendo… – disse.

– As coisas ficam melhor quando se tem um pouco de emoção, não acha? – ele disse.

– Do que está falando? Eu não entendo, você não é o governante da Terras da Meia Noite? Achei que fosse uma das fadas mais poderosas.

– E sou – ele respondeu, sem se exaltar.

– Então por que sua magia não tem efeito em mim? Por que nem mesmo pode me tocar? – Isso era bom não? Ser imune a uma fada tão perigosa. Mas ainda assim estava intrigada demais.

– Eu não sei.

– Não sabe?

– Não.

Suspirei.

– Pelo jeito dançar não será uma opção.

Seus olhos ainda estavam fixos em mim, ele estava mordendo lábio inferior com tanta força que pensei que ele fosse se cortar.

– O que quer? – Perguntei por fim.

– Como assim?

– O que você quer. De mim – disse. – Já é a terceira vez que nos encontramos, imagino que tenha um motivo pra isso.

Ele riu.

– E tem.

– Posso saber qual?

– E acabar com toda a diversão? – seu sorriso se alargou. – Não é do meu feitio. Prefiro que descubra sozinha, ou com ajuda.

– Ajuda de quem?

– Nick?

Fiquei em silêncio.

– Como ele poderia te contar algo, você não disse a ele que nos encontramos.

Continuei em silêncio.

– Por que? – Ele arqueou uma sobrancelha, presunçoso!

– Não vi necessidade – retruquei.

Ele caminhou outro passo em minha direção.

– Se acha que sou tão perigoso como dizem por que não contar a Nick que não pude usar minha magia em você? Por que não lhe dizer que nós encontramos duas vezes? Sob o teto dele.

Eu não tinha resposta para isso. Eu nunca pensei que fosse importante contar a Nick sobre isso, eu… eu não vira necessidade.

– Ou é porque não acredita neles? – seus olhos encontraram os meus. – Não acredita neles não é? Não acha que sou o monstro que querem fazer você pensar que sou.

Respirei com cautela. Ele estava certo?

– Ah Julie – outro passo em minha direção. – Não, não acredita neles, você não me teme.

– Mas e daí? – disse. – Você não me assusta.

– Mas assusto o Mestre das Terras Obscuras. Talvez você seja mais corajosa que ele.

– Por que você está aqui? Nick não o quer aqui!

– Eu precisava te ver – minha pele se arrepiou.

– Vai embora – disse. – Ou vou chamar Nick.

Ele sorriu e arqueou uma sobrancelha me desafiando.

– Não não vai.

Mordi meu lábio e vi quando ele semicerrou os olhos em direção a minha boca.

– O que está fazendo aqui?! – Nick grunhiu surgindo atrás de mim, me puxando para trás de si, com Reggie ao seu lado. As pessoas ao nosso redor pareciam indiferentes a nossa discussão.

– Velho amigo – Luke disse sorrindo. – Fiquei decepcionado ao perceber que não fora convidado para sua festinha.

– Não é bem vindo Luke – Nick rosnou. – Saia, agora.

Ele tornou a morder os lábios semicerrando os olhos em minha direção.

– Seu brinquedinho novo – ele apontou para mim. – Divirta-se com ela enquanto ainda pode. Ela vai saber que ela está aqui, mais cedo ou mais tarde.

Luke então se dissolveu em escuridão e não tive tempo para me preocupar com o que ele dissera, eu tinha a ira de Nick para lidar.

Midnight Obssession (Juke-JATP-Acotar)Onde histórias criam vida. Descubra agora