Capítulo Seis

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Não desci para a sala de jantar para comer quando a noite chegou. Estava completamente arrasada e não queria ver o rosto de nenhuma fada pelo resto do dia. Mesmo quando Alex insistiu para ficar comigo eu pedi que ele saísse, e embora relutante ele obedeceu. A comida não tinha gosto de nada, assim como minha vida. Eu me sentia vazia, eu não era nada além de um brinquedo pro Mestre das Terras Obscuras. Quando minha vida se resumiu a isso?
Tomei um banho breve e me joguei na cama para dormir. Sonhei com olhos azuis me perseguindo por uma floresta escura, eu estava com medo e não sabia o que fazer, até que alguém me pegava pelos ombros, me abraçava e tudo desaparecia, eu estava segura, ali nos braços de um desconhecido sem rosto.
Acordei suada com o cabelo pregado ao rosto. Saí da cama e abri a porta do meu quarto, eu me sentia presa, sufocada e precisava respirar um pouco. Caminhei pela imensidão do escuro corredor e desci as escadas tomando cuidado para não fazer barulho algum. A casa estava completamente escura e em silêncio. Pensei de sair pela porta central e correr, correr para o mais longe onde pudesse ir e me ver livre de tudo isso, mas para onde iria? Eu nem mesmo soubera qual caminho levava até minha casa.
Engoli em seco e saí pro jardim. Não para fugir, mas para respirar. Meu corpo gelou quando me lembrei da fada que vira pela manhã, e se ela voltasse?
Pensei em dar meia volta e me esconder em meu quarto, mas que diferença fazia? O que ela poderia fazer comigo que fosse pior do que Nick fizera?
- Não consegue dormir? – a voz de Nickolas surgiu de trás de mim e me virei para encontrar seu olhar.
- Te importa? – retruquei.
- Sim – ele se aproximou. – Tudo que está nessa propriedade é meu, e portanto me importa sim.
Gelei. Eu era dele, pertencia a ele. Ele me via assim, como seu brinquedo, como um objeto, que ele tinha na palma da mão para se divertir quando quisesse.
- Vai a merda – tentei passar por ele em direção a casa, mas ele me segurou pelo ombro me obrigando a ficar onde estava.
- Nossa relação começou com o pé esquerdo Julie – ele disse olhando nos meus olhos. – Eu quero mudar isso, de verdade. O que eu poderia fazer para tentar te provar que não sou o monstro que você imagina?
- Deixe-me ir.
- Isso está fora do meu alcance – ele suspirou, ficando tenso.
- Por quê?
- Por que está – ele foi direto. – Não vou te dar sua liberdade, sugiro que pense em outra coisa.
Eu ri.
- Não tem nada que eu queira mais do que sair daqui – suspirei.
Ele mordeu o lábio.
- Me diga, do que sente falta? Daquele seu casebre caindo aos pedaços? Da sua família que nunca se importara de verdade com você? De comer pouco ou de usar aqueles farrapos que você chamava de roupas?
Eu dei uma gargalhada debochada.
- Vai me dizer que me sequestrou porque queria me tirar da minha vida antiga?
Ele não respondeu.
- Eu achava que fadas odiassem os humanos.
- E odeiam – ele disse. – Mas você está segura aqui, comigo. Nem todos compartilhamos dos mesmos pensamentos.
- Fico triste por vocês – ironizei.
Ele revirou os olhos.
- Diferente de outros eu não sinto prazer em matar humanos, nem de ver famílias massacradas.
- E o que te dá prazer? Prender jovens mulheres em sua casa e se divertir com elas.
- Não é por isso que você está aqui.
- Então me diga o porquê – implorei.
- Tudo ao seu tempo – ele deu um suspiro como se dissesse isso mais pra ele do que pra mim.
Quando ele me liberou de seu toque, não hesitei antes de sair de sua companhia e fui para meu quarto. O rosto de Nick e suas palavras não saíram da minha cabeça enquanto eu tentava adormecer.

Midnight Obssession (Juke-JATP-Acotar)Onde histórias criam vida. Descubra agora