No dia seguinte eu acordara mais cedo que de costume. Aproveitei e sem ajuda de Flynn tomei meu banho e vesti o vestido mais simples que eu conseguira. Saí de meu quarto e a casa estava em completo silêncio. Não havia ninguém, que horas seriam? Quando saí para o jardim o céu era tomado pelo mesmo tom de rosa habitual, porém o local estava coberto por uma névoa espessa. Era difícil enxergar algo, mas ainda assim continuei andando me forçando a ter certeza de para onde estava indo.
Cheguei até uma enorme árvore, tomada pelo rosa das flores. Sentei-me ao chão e me encostei no tronco dela, peguei algumas flores que estavam no chão e as amassei com as mãos. Era assim que me sentia, uma flor, morta.
Estava frio, e a névoa continuara ainda mais espessa. Quando o sol surgiria e deixaria tudo belo como eu via nos outros dias? A mesma brisa gélida da noite anterior tornou a tocar meu corpo e me encolhi. Vi um vulto passando em meio a névoa e me pus de pé. O que era isso? Eu vi outra vez e quando me virei para correr me deparei com uma figura masculina atrás de mim. Era uma fada eu supus. Era um pouco mais alto que eu, as roupas escuras e os cabelos cor de madeira negra estavam bagunçados. Seu semblante era misterioso e os olhos da cor do oceano me fitavam. Puta que pariu! Essa era a fada mais bela que eu vira desde que chegara.
- Espero não ter lhe assustado – ele disse, sem emoção. A voz era rouca e um arrepio me percorreu todo o corpo.
- Quem... quem... é você? – Gaguejei e minha voz saiu fraca quando consegui dizer algo.
Ele sorriu.
- Ninguém com quem precisa se preocupar... ainda – ele se aproximou e eu recuei um passo. – Agora – ele ergueu uma das mãos e ela foi rodeada por uma cortina negra de fumaça, de magia. – O que Nickolas disse a você? – Ele girava a mão no ar, com os olhos fixos em mim.
- Por que isso te interessa? – perguntei, hesitante.
Seus olhos se arregalaram, ele pareceu surpreso, até chocado eu diria.
- Incrível – ele falou. O sol começou a pontar de trás das montanhas e a névoa começou a se dissipar. – Pediria para esquecer isso, mas não me obedeceria – ele sorriu antes de se dissolver em meio a névoa.
O que foi isso?
***
Tomei meu café da manhã sozinha no meu quarto. Ainda estava atordoada com a conversa que tivera com aquela fada no jardim mais cedo. O que ela queria, e por quê pareceu tão surpresa quando hesitei em responder sua pergunta? A cada dia que passava nessa casa, eu percebia que minha lista de perguntas apenas aumentava, e nenhuma tinha resposta.
Voltei ao jardim mais tarde, agora sem névoa e bem iluminado. Alguns criados cuidavam do jardim usando sua magia. Eu me sentia segura agora, duvidava que aquela fada iria atrás de mim durante o dia e com tantas pessoas que pudessem no ver. Imaginei que ela não queria que Nickolas soubesse que estivera aqui, e pensei se deveria contar a ele. Decidi que não, se eles guardavam tantos segredos de mim, eu também teria os meus.
- Gosta de cavalgar? – uma voz surgiu atrás de mim. Era Nick.
- Não sei, nunca cavalguei – respondi sem me dar ao trabalho de olhar para ele.
- Incrível – ele respondeu. Incrível... foi o que a fada dissera hoje mais cedo em nossa conversa. Suspirei.
- Poderia lhe ensinar – ele sugeriu.
Ri com desdém.
- Por que eu aceitaria sua proposta?
Ele se virou pra mim com um sorriso presunçoso.
- Por que vai ficar aqui pela eternidade e precisa encontrar alguma atividade para fazer. Ou vai passar o resto de sua vida comendo e ficando trancada em um quarto?
Meus olhos se encheram de lágrimas. Eternidade... eu passaria minha eternidade confinada aquela casa. Seria para sempre uma prisioneira de Nickolas e das Terras Obscuras.
- O que foi? – ele indagou. Cretino!
- Eu te odeio – disse fixamente olhando para ele, eu já estava chorando, mas isso não me importava. Nunca achei que chorar fosse demonstração de fraqueza. – Te odeio!
Gritei e ergui a mão para tentar esbofetear seu rosto, mas ele foi mais rápido do que eu e sua mão segurou meu punho e ele me agarrou pela cintura ficando com o corpo próximo de mais ao meu. Eu podia sentir sua respiração contra meu rosto e seus olhos semicerrados olhando os meus.
- Não me desafie – ele sibilou. – Tento ser paciente, mas tudo tem limite.
Quando me soltou, disparei para dentro da casa e me tranquei em meu quarto. Então eu desabei escorada a porta e chorei. Chorei por estar presa a essa vida miserável, chorei por saber que jamais poderia escapar e chorei porque me senti fraca, estava condenada a essa prisão e não podia fazer nada.
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Midnight Obssession (Juke-JATP-Acotar)
FanfictionEm um mudo dividido entre humanos e fadas, a jovem Julie Molina e capturada e levada para viver nas Terras Obscuras ao sul de seu mundo. Lá ela esperava encontrar o pior, mas ao invés disso ela se depara com um dos locais mais belos que já estivera...