Capítulo 4 - Cidade em Chamas / Parte 1/2

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    O banquete à frente de Doran estava reluzindo diante de seus olhos. O garoto nunca tinha visto tanta comida em toda sua vida e a simples ideia de comer apenas um prato daquela mesa, deixava o garoto extremamente ansioso. Vendo o garoto na sua frente devorar a comida com os olhos, Friedrich acenou para Tarred servir os pratos.

    — Seu nome é Tarred, certo? — indagou Doran ao servo enquanto ele servia a comida.

    — Sim, meu jovem, esse é o meu nome.

    Doran atacou ferozmente a comida na sua frente enquanto continuava o diálogo com a boca cheia.

    — De onde você é, Tarred? Você é alto como um nortenho, mas é bronzeado como um marujo que viveu a vida inteira sendo assolado pelo sol em alto mar... também tem esse seu corte de cabelo estranho... sinceramente eu nunca vi nada parecido em toda minha vida.

    O jovem falava pausadamente enquanto enchia a boca com generosas porções de comida.

    Tarred percebe a diversão na face do seu senhor diante o questionamento do rapaz.

    — Eu posso, Tarred?

    — É claro, meu senhor.

    Friedrich se levantou da cadeira e caminhou até a parede lateral oposta à mesa.

    — Me parece que você entende bastante sobre os povos, não é mesmo, Doran? — disse Friedrich apontando para um mapa na parede e dando continuidade a sua fala. — Você sabe o que é isso, Doran?

    O garoto engoliu a comida e tentou prestar atenção nas palavras que Friedrich falava.

    — É claro que sim! É um mapa das novas terras.

    Friedrich apontou para o extremo sul do mapa, onde se encontrava uma cadeia de montanhas.

    — E você sabe o que há além daqui?

    Doran abriu uma expressão confusa no rosto.

    — Depois do fim do mundo?

    — Sim, depois do fim do mundo.

    Friedrich percebeu a confusão crescer na face do garoto, por isso tentou explicar de uma maneira que fosse melhor de entender.

    — O mundo é muito maior do que você imagina, Doran. O fim do mundo não é onde o mundo acaba, é apenas um nome que os ignorantes reis Karendorianos do passado deram a essa cadeia de montanhas.

    — Então isso quer dizer que depois do fim do mundo... há mais mundo?

    Friedrich abriu um pequeno sorriso no canto do rosto.

    — Sim! Há um gigantesco mar de areia, onde o sol assola qualquer um que ousar habitá-lo.

    Doran olhou diretamente para Tarred.

    — E você é de lá, Tarred?

    Com a rotineira expressão de seriedade, o servo respondeu o garoto:

    — Sim, meu jovem, o grande deserto Saketiano foi minha casa por muito tempo.

    Doran olhou empolgado de volta para Friedrich.

    — E depois! O que há depois?

    Friedrich olhou confuso para Doran.

    — Depois?

    O garoto insistiu:

    — Sim! Depois do deserto de onde Tarred veio.

    Friedrich forçou sua memória, mas uma intensa dor começou a afligir sua cabeça. Quanto mais ele tentava se lembrar mais a dor aumentava, até que sua visão começou a escurecer e ele notou que estava caindo. De forma rápida e silenciosa, Tarred amparou a queda de seu senhor.

    — Irei preparar seu elixir imediatamente, meu senhor, o senhor já forçou demais vossa mente por um dia.

    Recobrando a consciência, Friedrich respondeu:

    — Ainda não, Tarred, prometi ao garoto que falaria sobre os nandorianos, e é isso que farei.

    Friedrich terminou sua fala desviando o olhar para Doran, que esbanjava uma face preocupada no rosto.

    — Você está bem, velhote?

    — Sim, garoto, mas creio que o assunto de antes ficará para depois.

    Doran acenou concordando e Friedrich voltou para sua cadeira na mesa de jantar.

    — Faz muito tempo que não converso com um nandoriano, tempo demais... — Disse Friedrich lançando um olhar perdido para o mapa na parede.

    Doran pegou uma coxa de frango e apontou para Friedrich.

    — Você disse que eu sou um desses tais nandorianos, o que isso significa?

    — Isso significa que você é de uma raça ainda mais antiga do que o grande êxodo.

    Doran soltou a coxa de frango da mão e falou:

    — Grande êxodo?

    Friedrich soltou uma risada convencida.

    — Para um garoto que sabe tanto sobre os povos, esperava mais de você.

    — Desembucha logo, velhote.

    Friedrich tomou um gole de vinho e se ajeitou na cadeira antes de começar a falar.

    — O grande êxodo, o deserto Saket e o fim do mundo. Os antigos nandorianos estão presentes em grande parte da história de cada um desses lugares e acontecimentos, mas para entendê-los você não precisa entendê-los, você apenas precisa sentir o poder deles e daí tirar suas próprias respostas.

    Tarred retirou os pratos da mesa enquanto notou a profunda confusão na face de Doran.

    — Meu senhor, acho melhor melhorar a vossa explicação, pois creio que o jovem não está entendendo nada.

    Friedrich dispensou Tarred acenando de forma distraída, enquanto tomava um gole de vinho. Olhando fixamente para a taça de vinho em sua mão, Friedrich fez uma pergunta a Doran:

    — Qual sua idade, garoto?

    Ouvindo a súbita pergunta, Doran respondeu com relutância:

    — Daqui a dois meses faço dezessete.

    — Então acho que não tem problema. Diga-me, você já bebeu vinho antes? Sirva uma taça de vinho para o nosso convidado, Tarred.

    Doran sempre ouviu falar sobre a fama dos vinhos de Karian, mas nunca teve a oportunidade de experimentá-los e não negaria aquela que estava surgindo.

    — Vamos, beba.
    Em um único gole, Doran consumiu metade da taça de vinho, por causa disso engasgou no processo.

    — Então, garoto, qual é o gosto?

    Doran percebeu a ânsia do homem à sua frente por sua resposta e logo tratou de responder.

    — Azedo... é como suco de uva, mas bem mais azedo.

    Friedrich soltou uma risada de divertimento diante a descrição do garoto.

    — Agora beba o resto, mas concentre-se no gosto enquanto o vinho está na sua língua.

    De alguma forma, Doran conseguiu entender o que o homem à sua frente queria que ele realmente fizesse, e assim o fez. Dando outro gole no vinho, Doran fechou seus olhos e se concentrou totalmente no sabor que o vinho produzia em sua boca. O garoto arregalou os olhos, surpreso.

    — É bom... é bem mais azedo do que o normal, mas também é bem mais doce.

    — Acho que você acabou de tomar um gole de vinho mais saboroso do que qualquer outro homem jamais tomou, garoto.

    Doran continuou a sentir constantemente o gosto do vinho se espalhando em sua boca, mesmo depois de tomá-lo.

    — Eu não sabia que aquela parada funcionava com os gostos também — murmurou o jovem para si mesmo.

    Percebendo o fascínio do garoto diante a nova experiência, Friedrich continuou sua explicação.

    — O corpo humano tem cinco sentidos básicos: visão, audição, olfato, paladar e o tato. O que você acabou de fazer foi desfocar sua visão e ampliar seu paladar. Isso é o que faz especiais os nandorianos, eles conseguem inutilizar certos sentidos para potencializar outros.

    Doran estava mostrando total interesse na explicação que Friedrich estava lhe passando, pois ele já tinha certa ideia do que conseguia fazer, mas nunca tinha pensado em seu poder de forma tão detalhada.

    — Aquilo que você fez no palácio com o príncipe.

    — O lance de fechar os olhos?

    Friedrich confirmou com um leve aceno de cabeça antes de prosseguir.

    — Fazendo aquilo, você inutilizou sua visão e distribuiu o nandar do seu sentido em todo seu corpo, ampliando assim sua força.

    Doran franziu o cenho diante a nova palavra.

    — Nandar?

    Friedrich percebeu quantas novas informações estavam sendo repassadas para o garoto de uma vez só, e decidiu ir com um pouco mais de calma.

    — O nandar é a força que corre dentro de cada nandoriano, onde cada ponto de nandar está concentrado nos sentidos e quan...

    De forma súbita, Doran interrompeu Friedrich e completou a sua explicação.

    — E quando inutiliza-se um ponto de nandar, pode-se ampliar outro, acho que já entendi, velhote.

    Friedrich se surpreendeu com a rápida absorção de conhecimento que Doran demonstrava.

    — Você está se mostrando um escudeiro perspicaz, garoto.

    Doran se sentiu constrangido ao lembrar da mentira que inventou para se livrar do guarda no palácio anteriormente.

    — Sobre isso, peço desculpas pela mentira.

    Friedrich acenou distraído, dispensando o comentário do rapaz.

    — Não será mentira, se for uma verdade.

    Doran olhou surpreso para Friedrich.

    — Você tem certeza? Sou apenas um garoto órfão de rua.

    — Você não é apenas um garoto órfão de rua, você é um raro nandoriano ee... meu escudeiro — disse o homem de armadura demonstrando seu interesse no rapaz.

    O garoto por sua vez estava se sentindo estranho, mas de uma forma boa, ele nunca tinha se sentido tão especial e sabia que se continuasse ao lado de Friedrich, poderia aprender muito mais sobre si mesmo e sobre seus poderes.

    — Gostaria de lhe fazer uma pergunta, garoto. Você disse que é um órfão certo?
    Doran se sentiu incomodado pela súbita mudança de assunto, mas resolveu responder o questionamento.

    — Sim... eu sou.

    — Se você é um nandoriano, deve ter herdado seus poderes do seu pai ou da sua mãe.

    Doran claramente estava ficando cada vez mais incomodado com o assunto e Friedrich estava percebendo isso, mas mesmo assim decidiu continuar pressionando o jovem.

    — Você era do orfanato Reinal antes dele ser fechado, certo? Seus pais morreram? É muito raro um nandoriano residir aqui em Karendol, principalmente em Karian, ainda mais um nandoriano que tenha tido um filho.

    Doran se levantou repentinamente da cadeira em que estava sentado, o que surpreendeu o homem de meia idade.

    — Meus pais... meus pais.

    Memórias que o garoto estava reprimindo tomaram conta de sua cabeça, por causa disso ele se levantou da cadeira em que estava sentado e caminhou em direção a porta de saída do casarão.

    — Me desculpe, Friedrich, preciso tomar um ar.

    Longos minutos se passaram desde a saída de Doran, em decorrência disso Friedrich finalmente percebeu seu erro ao pressioná-lo.

    — Ele é realmente um nandoriano, meu senhor?

    Friedrich viu Tarred surgir repentinamente ao seu lado, mas não se assustou, pois já estava acostumado com a agilidade silenciosa de seu servo.

    — Tenho certeza que sim, Tarred, mas algo me preocupa.

    — O que lhe aflige, meu senhor?

    — O garoto é um nandoriano, isso não resta dúvidas, mas na luta dele contra o filho de Arduen, ele fez algo mais do que apenas usar seu nandar... ele o concentrou em um só ponto.

    — Receio que eu não consiga acompanhar o vosso raciocínio, meu senhor.

    Friedrich levantou-se de sua cadeira e se dirigiu à porta por onde Doran saiu.

    — Vai atrás dele, meu senhor?

    Já fora de seu casarão, Friedrich respondeu Tarred antes de fechar a porta:

    — Não estou com um bom pressentimento esta noite.

    Uma brisa fria passou pela face de Friedrich.

    — Algo sombrio está para acontecer...

...

    Aquele dia para Doran estava durando bem mais que os demais. Visitar o palácio real, enfrentar o príncipe do reino, ver o próprio rei em pessoa e virar escudeiro de alguém, alguns dias atrás ele nunca imaginaria que qualquer uma dessas coisas fossem acontecer, mas ele estava gostando, apesar de estar apavorado por enfrentar o desconhecido, ele realmente estava gostando.

    Enquanto refletia, Doran caminhava pelas ruas no lado leste de Karian, ele sabia onde queria ir, ia todo dia sem falta, era como um ritual diário, mas essa noite estava mais fria que o normal e memórias que ele fugiu por boa parte de sua vida voltaram a assolar sua mente. Depois de um bom tempo caminhando, Doran finalmente chegou ao seu destino e se apoiou com as costas na parede de um grande casarão, se pondo a observar o bordel do outro lado da rua.

    — Droga de noite fria — resmungou o garoto enquanto colocava as mãos nos bolsos de sua calça de pano, fechando seus olhos no processo e deixando fluir toda sua concentração para sua audição. — Aquele velhote disse que o nome dessa parada que eu faço é "nandar", até que o nome é legal.

    Retirando os últimos pensamentos desnecessários de sua mente, Doran entrou em total concentração, e sua audição se amplificou cada vez mais. Homens beberrões resmungando, bardos tocando seus alaúdes e mulheres divertindo aqueles que podiam pagar. Doran podia ouvir quase tudo, mas parecia que o que ele realmente veio ouvir, não ouviria essa noite. De repente, o garoto começou a ouvir passos se aproximando do local onde ele estava, por isso abriu seus olhos vagarosamente enquanto observava a figura se aproximar dele.

    — É você, velhote?

    Se encostando na parede ao lado de Doran, Friedrich se acomodou dentro de seu manto de pele grossa que vestiu antes de sair de casa.

    — Você passou bastante tempo aqui fora para quem iria tomar somente um ar, garoto.

    Doran suspirou, enquanto esfregava uma mão na outra em uma vã tentativa de aplacar o frio da noite.

    — Peço desculpas, velhote... eu não deveria ter fugido daquele jeito.

    — Relaxa, garoto, para uma segunda vez eu até que tô me acostumando.

    Olhando para o céu em busca da lua, Friedrich percebeu que a noite engoliu completamente o brilho dela, e que apenas os postes com candelabros iluminavam a extensão da rua.

    — E então, o que você tá fazendo aqui de frente para um bordel?

    — Você perguntou sobre meus pais, bem, eles não morreram, pelo menos não minha mãe.

    Olhando para o bordel, Friedrich juntou as peças e entendeu toda a situação.

    — Eu venho aqui todo dia para ter a chance de ouvi-la, ou quem sabe até mesmo vê-la... eu a amo, apesar de ter me largado naquele orfanato.

    A culpa por ter pressionado Doran a tocar em um assunto tão delicado anteriormente, começou a pesar na consciência de Friedrich, e por causa disso ele recuou diante a situação.

    — Se não quiser falar sobre o assunto, eu vou entender.

    — Está tudo bem, eu venho fugindo há muito tempo do meu passado. Cresci com minha mãe até os oito anos de idade, até que por algum motivo que desconheço, ela me levou até o orfanato Reinal em uma noite fria como essa, e me disse para ficar lá, que logo voltaria.

    — E ela nunca voltou — Disse Friedrich completando a fala de Doran.

    — Pois é... ela nunca voltou. Até que o orfanato foi fechado e os poucos sobreviventes do incêndio viraram garotos de rua. Um ano depois tentando me virar pelas ruas, vi ela nesse bordel, mas minha felicidade por ter finalmente reencontrado minha mãe, desapareceu totalmente quando percebi que tipo de trabalho era o dela.

    — Eu sinto muito, garoto, mas você nunca tentou falar com ela?

    — É claro que tentei, mas acho que você também desistiria se sua própria mãe não te reconhecesse, e te oferecesse o serviço dela como meretriz.

    Friedrich suspirou profundamente antes de falar.

    — Vida dura, garoto.
    — Você nem imagina, velhote.

    Os dois observaram dois homens discutindo na entrada do bordel por alguns minutos, até que Friedrich voltou a falar:

    — Sem querer ser incisivo, mas e seu pai?

    — Provavelmente algum soldado que se divertiu com ela por uma noite. A única coisa que não entendo é porque ela não resolveu me abortar, já que me largaria em um orfana…

    A fala de Doran foi interrompida quando um dos homens que estava discutindo na frente do bordel, começou a gritar de forma enlouquecida. O grito do homem ficava cada vez mais alto de forma incomum com o passar do tempo, e isso chamou a atenção dos dois. Ao olhar para Friedrich, Doran notou uma expressão extremamente séria em seu rosto, e se assustou quando ele pegou subitamente em sua jaqueta de couro e tentou o arrastar daquele lugar.

    — Vamos, garoto! Precisamos sair rápido daqui!

    O grito ficava cada vez mais alto, por isso Doran tapou seus ouvidos tentando abafar o estrondoso e irregular som.

    — Você falou alguma coisa, velhote!?

    O homem que estava gritando, começou a ficar com sua pele negra e todos os cabelos do seu corpo evaporaram instantaneamente, até que subitamente, fogo amarelo vívido começou a queimar seu corpo de fora para dentro resultando em uma explosão de fogo e carne. A onda de choque proveniente dessa explosão, estourou a vidraçaria do bordel. Olhando para Friedrich que também se encontrava atordoado por ver um ser humano explodir em sua frente, Doran o notou gritando enquanto tentava puxá-lo para irem embora, mas ele não conseguia ouvir devido os gritos de desespero das pessoas de dentro do bordel, por causa disso Doran fechou seus olhos e tentou se concentrar apenas na voz de Friedrich.

    — Precisamos sair daqui, garoto, agora!

    A fala de Friedrich parecia bem mais alta agora, mas outra explosão de dentro do bordel chamou a atenção de Doran. Outras duas explosões provenientes do bordel seguiram em sequência e outras explosões vindas de dentro dos casarões próximos daquele lugar, começaram a acontecer. O aperto da mão sobre a jaqueta de Doran estava cada vez mais forte, e a insistência de Friedrich para eles fugirem também, mas Doran só conseguia pensar em uma coisa.

    — Mãe... mamãe! — sussurrou o jovem em desespero.

    Ao olhar para o garoto na sua frente, Friedrich percebeu que seus olhos estavam se enchendo de lágrimas.

    — Me perdoe, garoto.

    Com um golpe na cabeça, o homem com manto de pele grossa colocou Doran para dormir, o colocando em seu ombro na sequência e o levando embora daquela sucessiva sequência de explosões.

    — Tarred! Tarred! 

    Quando a porta da casa de Friedrich se abriu, ele rapidamente jogou o garoto que carregava na poltrona.

    — O que está havendo, meu senhor? As pessoas estão enlouquecidas correndo pelas ruas e as casas estão em chamas.

    — Não há tempo para explicações, Tarred, sele um cavalo no estábulo, preciso avisar ao rei sobre o que realmente está acontecendo.

    — O senhor acha que eles voltaram, meu senhor? Mesmo depois de garantirmos que isso não aconteceria?

    — Que Primardia, o Sol e a Lua permitam que não, Tarred, se não será o fim não só de Karian, mas de todas as novas terras.

    Doran abriu seus olhos enquanto colocava a mão na cabeça, sentindo a dor da pancada que recebeu mais cedo.

    — Avisar o que? Sobre quem exatamente...? — perguntou o garoto ainda afagando sua cabeça dolorida.

    Percebendo o repentino despertar do jovem, Friedrich desviou o olhar.

    — Descanse, garoto, você já passou por muita coisa hoje.

    Levantando da poltrona e caminhando cambaleando até Friedrich, Doran disse:

    — Me leve com você, eu preciso ir!

    Friedrich olhou surpreso para Doran.

    — Por que você quer vir? Deve estar delirando. Tarred, prepare um chá de ervas para ele.

    — Eu preciso ir porque eu já vi aquilo acontecer antes no passado.

    Friedrich para de desviar seu olhar de Doran e olhou diretamente para seus olhos.
    — Como assim?

    — No orfanato Reinal, o incêndio que o destruiu aconteceu quando a madame Ladil, nossa cuidadora, explodiu em fogo e carne daquele mesmo jeito do homem no bordel.

    Friedrich se jogou na poltrona oposta da que Doran se levantou e colocou as mãos em sua cabeça.

    — Mas isso não faz nenhum sentido, o incêndio aconteceu já faz dois anos, e antes disso me certifiquei que eles jamais voltariam à vida.

    Doran esboçou uma expressão curiosa.

    — Quem não voltaria à vida?

    — Ninguém, garoto, você não vai e está decidido. Se quer ser um bom escudeiro deveria respeitar as ordens do seu senhor.

    Doran ajeitou seu manto e passou a mão na cabeça tentando repelir a pouca dor que lhe restava por causa da pancada.

    — Você me deve, velhote! Por minha mãe! Se eu puder fazer algo para salvá-la ou mesmo vingá-la, eu preciso tentar! — disse o jovem desviando seu olhar lacrimoso de Friedrich.

    O homem de meia idade tentou olhar para Doran, mas não conseguiu.

    — Golpe baixo, garoto, Tarred, sele mais um cavalo.

    Finalmente Friedrich parou de desviar o olhar, e encarou Doran face a face.

    — O garoto vai cavalgar comigo.

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