11. Nos Vemos em Casa

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Rafaella Kalimann's Point of View

16:59 PM de 05 de outubro 2020

Adentramos o departamento, e nos encaminhamos até a última sala do corredor, - onde estavam as informações sobre o caso - para minha surpresa, Gizelly estava lá. Andando de uma ponta à outra, indignada com a nossa demora. E pareceu se tranquilizar quando atravessamos o centro do cômodo.

-Conseguiram? - todos os olhares estavam voltados para nós duas. Foi quando a delegada largou o documento de admissão do nosso suspeito, sobre a mesa onde estava sentado o garoto coreano do setor do T.I.

-Daniel Caon, esse é nome do nosso possível infrator - o coreano começou a digitar algo no computador -A gente precisa de toda informações possível. Endereço, telefone, e-mail, redes sociais e se tiver, ficha criminal

-Consegui, e vocês com certeza vão querer ver isso - ele aponta para a tela do computador.

-O que encontrou?

-Ele possuiu crimes leves, apenas alguns poucos delitos irrelevantes. Mas quando alinhei o endereço das entregas com o GPS do celular dele, encontrei uma brecha

-Fala português, garoto - Gizelly estava impaciente.

-Ele desviou a trajetória do percurso de trabalho por cerca de vinte minutos. E adivinha, o endereço é próximo a antiga boate do Hélio

-Elss se encontram - pensei em voz alta, tentando analisar a situação que acabamos de descobrir.

-Rafaella, você chegou a ler a última carta que o garoto te entregou? - nego.

-Que carta? - Gizelly tomou a frente.

-Essa - ergui o papel em minhas mãos, mas antes que pudesse tomar uma iniciativa, a capixaba roubou o conteúdo das minhas mãos.

-Gizelly!

-Não temos tempo para isso, Rafaella - a mais baixa abriu o envelope e começou a passar os olhos pelas letras

-Ele quer marcar um encontro com você. Aqui tem data, hora e local - recolhi o papel de suas mãos para ler com meus próprios olhos.

-Está bem, eu sei onde fica

-É muito arriscado, Rafaella

-Eu preciso ir, talvez seja a nossa única chance de acabar logo com isso, e ainda ajudar a Bianca

-É claro que tem um motivo, sempre foi ela, não foi?

-O que você está insinuando?

-Isso mesmo que você está ouvindo

-Sempre foi este caso, Gizelly. Estou aqui por ele. E além do mais, aqui e agora não são dia e nem o local apropriado para essa discussão - ela abaixou a guarda e não falou mais nada.

-Ela está certa, é perigoso e você não vai sozinha - a delegada impôs.

-Ele deixou bem claro que não posso envolver a polícia nisso, caso contrário a Bianca irá morrer

-Não me interessa, você não vai pra lá sem um apoio. Ficaremos disfarçados, prontos para atacar caso seja necessário - concluí que não haveria como ir contra os seus desejos e me obriguei a assentir -Felipe, avise os outros para se prepararem. Vou enviar alguns homens para intimar o garoto a prestar depoimento, e restante irá conosco

-Eu vou junto! - Gizelly se intrometeu.

-É muito arriscado, Gizelly

-Só você pode se colocar na mira de um assassino então?

-É diferente

-É diferente por que? Só porque se trata de você

-Não é isso, estou indo pois ele pediu por mim

-Eu vou, e quero ver alguém me impedir! - disse e se retirou da sala.

-Não deixa ela sair da viatura - Mariana me prometeu cuidar da capixaba enquanto eu estivesse com o Hélio.

17:36 - Em um lugar próximo ao centro de uma Praça Central

E lá estávamos nós. Caminhei com cautela até o banco indicado na carta do político. Ele ainda não havia chegado. Olhei ao redor procurando pelos policiais espalhados dentre os cidadãos civis que aproveitavam o parque para piqueniques e exercícios físicos.

De repente uma mão é colocada sobre o meu ombro esquerdo. Era ele. Se sentou ao meu lado e analisou minha expressão fácil antes de começar a falar.

-Você não está cumprindo o trato. Acho que não entendeu o quão impiedoso eu posso ser

-Olha, eu vou conseguir, está bem? Eu preciso de tempo

-Mas você não tem, encerre esse caso até amanhã, caso contrário você já sabe

-Eu não posso

-Existe uma enorme diferença entre poder e não querer, Rafaella - ele estava ainda mais irritado do que das outras vezes -Encerre essa investigação ou ela morre - ele aponta para uma gravação em tempo real que seu aparelho celular transmitia.

-Bianca! Você não pode machucar ela

-A decisão é sua Kalimann - seguro em seu braço impedindo de sair do local, pois os policiais precisavam de mais informações para que a prisão fosse feita.

-Você... - acompanhou o meu olhar e acabou encontrando uma figura conhecida -Você armou para mim? Eu vou acabar com você! - ele retira uma arma da cintura e direciona para o meu rosto. Quando percebeu a movimentação da polícia, sabia que não conseguiria sair livre do local -Isso ainda não acabou, ela vai arcar as consequências dos seus atos. Você terá sangue nas suas mãos, Rafaella - acertou dois disparos para o alto, fazendo com que as pessoas corressem em disparada, atrapalhando a perseguição policial, criando uma distração perfeita para a sua fuga, mas antes de sumir em meio aquela multidão falou uma última frase -Nos vemos em casa

-Rafaella? - a delegada Gonzalez segurava meu rosto entre as mãos se certificando de que não tinha me ferido -Ele machucou você?

-Está tudo bem. Não é comigo que vocês devem se preocupar

Assim que conseguiram estabilizar a situação, certificando as pessoas que caminhavam pela praça de que já estavam seguros. Retornamos até o departamento. Gizelly permaneceu silenciosa o caminho inteiro, o que acabei achando estranho.

Quando adentramos a sala, a delegada pediu para que eu contasse tudo que ouvi. Respirei fundo e expliquei a situação para eles, mas não havia nada no seu discurso que se enquadrava ao caso. Caminhei de um lado ao outro, tentando achar uma informação cabível, e foi então que a minha ficha caiu.

-Espera…

-O que foi? - Gizelly perguntou curiosa.

-Você - aponto para o coreano com o computador em mãos -Disse que o Hélio se encontrou com o garoto em um lugar próximo a antiga boate, certo?

-Sim, de acordo com as informações que consegui, é isso

-Um pouco antes dele sair correndo de lá, ele disse "nos vemos em casa"

-É claro, como não pensamos nisso antes - agora foi a vez da delegada falar -Em casa -repetiu ela -Nessa boate foi onde tudo começou

-Foi isso que eu pensei

-Prior, prepare os veículos e avise o restante dos policiais. Estamos indo pra lá

-Eu vou junto, e já digo que não estou pedindo, apenas avisando - ela não perdeu o seu tempo em me convencer do contrário.

17:57 - A caminho da antiga Boate

O automóvel deslizava pelos espaços vagos, e desta vez a sirene estava ligada. Precisávamos chegar o quanto antes no antigo estabelecimento. O único barulho no qual me me atentava era o do pneu arranhando chão nas curvas fechadas.

Os policiais estavam com suas armas em mãos, cercando o ambiente por todas as entradas que continha. Iriam estar certos de que não havia ninguém dentro do local, antes de autorizarem a minha entrada.

Corri porta a dentro, avistando a carioca respirando com dificuldade, enquanto seu sangue escorria do tórax. Coloquei uma das minhas mãos atrás da sua cabeça, forçando-a me encarar nos olhos.

-Bianca? - ela tremia nos os meus braços -Olha pra mim

-Eu tentei, eu juro que t-tentei - as lágrimas impediam de falar frases longas. Ela perdeu muito sangue, não iria aguentar por muito tempo sem o atendimento de um profissional.

-Ela precisa de ajuda, está sangrando muito - ninguém se movia para ajudá-la.

-Uma ambulância está a caminho

-Rafaella - ela usou as últimas forças para apertar o meu pulso -Eu não tenho muito tempo, preciso que me escute

-Não, você vai ficar bem, só aguenta mais um pouquinho

-Você vai condenar esse crápula, por nós duas e por todas aquelas que ele machucou

-Você estará ao meu lado

-Infelizmente eu não fui a heroína dessa história, mas você ainda poderá ser - os olhos dela teimavam em se fechar.

-Fique acordada só mais um pouquinho, por favor. A gente vai conseguir… - meu rosto já estava tomando pelas lágrimas -Eu não vou deixar você morrer assim

-Morrer é a parte fácil, difícil mesmo é continuar vivendo. Salve à todos, seja a heroína que eu sempre soube que é… - o seu corpo ficou mais pesado, seus olhos fecharam, e a mãos que apertavam meu pulso, perderam as forças. Ela morreu em meus braços.

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Olá meus leitores, desculpa a demora pra postar, estou bastante ocupada ultimamente.
Irei tentar concluir a fic antes e postar todos os capítulos restantes de uma vez, pois não sei ao certo quando vou ter tempo para escrever.
Até logo, um beijo.

Passado Mal ResolvidoOnde histórias criam vida. Descubra agora