13. Se Você se importa tanto, por que me traiu?

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Rafaella Kalimann's Point of View

18:46 PM de 06 de outubro de 2020

Pegamos alguns atalhos indicados pelo GPS, para conseguir cortar caminho e não tardar a chegar na cidade. O quanto antes que estivéssemos em casa estaria melhor. Haviam-se passado minutos após o momento em que atravessamos a placa que indicava a entrada da cidade, e grande parte dela era cercada pela natureza e pelos mais variados tipos de plantas que pudessem serem vistos a olho nu.

A capixaba escolheu dividir o carro comigo para que pudéssemos nós revezar na direção, o caminho era longo e poderiam haver momentos de sonolência, enquanto o Detetive Felipe Prior preferiu seguir em seu carro particular.

Enquanto o trajeto final não se aproximava, alguns pensamentos começaram a rodear a minha cabeça. Qual a razão da repentina aparição da minha mãe? É evidente que tem um motivo, e dos grandes. Ela nunca toma um decisão por impulso, e essa com certeza não seria a sua primeira vez. Agora uma dúvida maior ainda, por que o Ricardo? Tá certo que eu sei ele é um babaca, - tal gênero que se enquadra nos membros da minha família - mas mesmo assim. Por que?

Essa é uma resposta que não vou ter tão cedo, e esse enorme ponto de interrogação que está grudado na minha cara me impede de pensar em outras coisas.

Uma mão fria colide com a parte exposta do meu antebraço direito. A morena havia acordado. Coçava os olhos com as costas das mãos, tentando se acostumar com a claridade natural que ainda estava presente. Ela move seu corpo sobre o banco do passageiro, ajeitando sua postura, enquanto media suas próximas palavras.

-Ainda não chegamos? - sua indignação era aparente -Aquele troço de ser humano, mandou a gente para onde o diabo perdeu as meias?

-Gizelly, não fala o nome do inimigo, por favor - ela pareceu se recordar das vezes em que eu a repreendia por falar dessa maneira.

-Perdão, foi apenas uma ironia não quis te ofender - me permiti sorrir.

-Agora pode me explicar por que meias?

-Como assim, Rafaella?

-Você disse perdeu as meias, o ditado popular não seria, "perdeu as botas"? - agora ela entendeu e riu ao lembrar do complemento da frase.

-O ditado popular é botas, você está certa, mas eu utilizo "meias" - faz aspas com os dedos -Porque as botas ele perdeu lá trás, mas as meias indica que estamos no fundo no poço mesmo - não consigo evitar uma gargalhada.

-Da onde você tira essas coisas?

-Minha mente é fértil, minha querida - sou obrigada a concordar.

-Se você passasse menos tempo dormindo e aproveitando essa vista - ela pareceu se encantar com o verde presente pelos arredores.

-Eu até havia me esquecido de que existe lugares assim

-A cidade pode até ser pequena, mas o ambiente é impagável

Estaciono o carro em frente o departamento de polícia local, que se estabelecia bem em frente a praça central. Onde reunia boa parte dos moradores, era audível o som presente de instrumentos musicais e pessoas bastante animadas com a comemoração. Por sorte o fórum ficava localizado na outra ponta da praça e não precisaríamos recolher informações.

O Detetive Prior tomou a frente da recepção e foi procurar o tal informante, enquanto Gizelly e eu ficávamos olhando ao redor, procurando por alguma movimentação fora do comum, mas infelizmente as notícias não eram as melhores e o informante não estava presente naquele turno.

Quando nos encaminhávamos para a parte de fora, Felipe percebeu um homem suspeito saindo pela porta lateral. Ele claramente não estava sendo discreto. Andava de cabeça baixa e caminhava o mais rápido que os seus pés pudessem aguentar. O Detetive optou por ir pelo lado de fora e o surpreende-lô no trajeto. A cabixaba e eu esperávamos um sinal para aproximar-nos, e assim fora recebido.

-Detetive Carlos, meu superior me mandou vir aqui, ele disse que você é um informante dele - o homem estava tremendo mais que vara verde.

-Eu não sei do que você está falando - dessa vez o Detetive pressionou o homem pela gola da camisa.

-Eu acho que sabe sim - ele suspirou vencido.

-Olha, eu tenho nada a ver com o Hélio. Ele deixava documentos aqui e nada mais. Afetuava os pagamentos e a gente guardava pra ele, só isso. Ninguém perguntava nada - o informante recuperava o fôlego, pois Prior estava usando força a mais do que necessitava -Faz três dias que ele veio até aqui e retirou tudo e qualquer informação que continha a seu respeito. Eu avisei Ricardo, mas aparentemente ele não confia em mim

-Você quer dizer que o nosso chefe - a capixaba aponta para nós, para complementar a frase -Nos mandou aqui recolher informações que ele mesmo sabia que não existiam mais?

-Ao que me parece sim - Felipe o largou e deixou o homem ir embora.

-É por motivos como esse que eu me arrependo de não ter sido policial, mas daí eu me lembro que não poderia ter uma arma em ocasiões como esta - ela parecia sempre fazer todos rir, mesmo em um momento caótico como esse.

-Se o babaca do Ricardo sabia que não tinha nada pra fazer aqui, por que nós mandou prá cá?

-Vocês já pararam pra pensar que o tal informante possa estar mentindo? - o policial concluiu.

-Eu acho que não, isso é bem a cara do Ricardo

-Não, isso é a cara da minha mãe - Gizelly resolveu ficar calada dessa vez.

-E o que vamos fazer agora? - Felipe indagou.

-Vamos voltar, não tem mais nada que nos prenda aqui - todos assentiram e assim fizemos.

A capixaba decidiu dirigir dessa vez, mesmo relutante, acabei aceitando. Encaixei o cinto de segurança só pro precaução, não que fosse o caso dela ser um desastre no volante, longe disso, mas ela estava com raiva. Eu sabia o que esse sentimento poderia causar. Ela girou a chave na ignição, mas o motor não correspondeu.

-Não, isso não pode estar acontecendo, não agora - tentei acalma-la, mas ela nem me ouvia. Seguiu tentando ligar o carro, mas como das outras vezes, foi em vão -Por que essas coisas só acontecem comigo?

-Ei, não se culpa por algo que não tem relação com você, é um problema técnico, acontece

-Tem razão, eu vou culpar você. O carro é seu, a culpa é sua! - agora ela brigava comigo -Você leva esse carro pra fazer revisão, Rafaella? Abasteceu antes de vir pra cá?

-É claro que eu faço essas coisas, Gizelly. Se você perceber o tanque está cheio. E se eu tivesse um mínimo conhecimento em mecânica, já estava tentando resolver o problema, e não iria ficar reclamando - abri a porta com o intuito de solucionar o problema com o automóvel, mas o policial foi mais rápido.

-Pelo que eu vi não tem nada visível, necessitamos de um mecânico - ele abaixa o capô antes que eu pudesse analisar a situação do veículo.

-E por acaso será que tem algum trabalho agora?

-Está tarde - ele responde enquanto olha as horas no relógio de pulso -Acho melhor nos alojarmos em uma pousada próxima até amanhã de manhã, e então solucionamos o problema.

Passado Mal ResolvidoOnde histórias criam vida. Descubra agora