3. Político Corrupto

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Gizelly Bicalho's Point of View

07:04 AM de 29 de setembro de 2020 

Aqui estou novamente, mais uma manhã em meio ao engarrafamento de carros nas ruas de São Paulo. Sinceramente eu não sei como que as pessoas aguentam essa rotina todos os dias, é cansativo só de pensar. 

Essa fora outra noite que eu não dormira bem, dessa vez o motivo foi outro, - Rafaella, tinha uma filha - mas ontem quando fui até sua casa, estava tão alcoolizada que nem tive a capacidade de raciocinar uma resposta cabível para esse assunto. E agradeço que o porteiro tenha se convencido com a historinha que contei sobre uma possível surpresa para a mineira, e com umas poucas fotos que mostrei. - tiradas na época em que namorávamos - Passei anos receosa entre apagá-las, e por fim acabei desistindo, finalmente elas tinham alguma utilidade. 

Durante o caminho ensaiei bilhões de insultos para lhe dizer, mas não teria coragem de gritar com a mulher na frente da garotinha. Ela não merecia saber o quão cafajeste e traiçoeira, era sua mãe.  

Mas caramba, como Kalimann teve coragem de me fazer isso comigo?

Lembro-me bem das madrugadas que passávamos planejando a nossa rotina pós faculdade. Ambos eram fascinadas pela ideia de montar uma família, sem ultrapassar nenhuma etapa no processo. Queríamos cachorros e gatos pela casa inteira, pois não iríamos nos importar com a bagunça, ou pelo menos a Rafaella não. Nunca achei que fosse possível um ser conseguir acumular tanta bagunça em um espaço minúsculo, mas essa mulher tinha esse dom. Ou pelo menos teve, passados cincos anos espero que ela tenha mudado nesse quesito. 

O momento mais complicado que tivemos que enfrentar juntas, fora quando descobrimos que a mulher dos olhos esverdeados não poderia engravidar, - e esta, insistiu para gerar a criança - então doei os meus óvulos para que a mesma tivesse a possibilidade. Mas ela ainda assim arrancou-me o desejo de ser mãe, e o pior, acabou com a chance da nossa futura família.  

Fez isso no momento em que eu a vi com aquela vagabunda no nosso sofá. Como ela fora capaz de fazer isso comigo? Eu me culpei por anos, pensando na possibilidade de ter feito alguma coisa para merecer isso. Vasculhei nas caixas mais profundas da minha memória, mas não achei nada.  

Não satisfeita com o estrago que já estava feito, agora seria obrigada a olhar para o seu maldito rosto todo o santo dia. Embora eu ainda acumulasse um ódio infinito da sua pessoa, não posso negar que nutria sentimentos por ela. - só não estou decidida se possui algum positivo, tratando-se do passado melancólico em que vivemos - Mas devo admitir que por mais que ela  tenha sido uma pessoa horrível para mim, merece a posição em que alcançara. Eu, mais do que ninguém, sou a prova viva de todo o seu esforço e dedicação, tanto ao estudo, como para o trabalho. 

Adentrei minha sala, e ela já estava lá, estirada pelo chão acompanhada das inacabáveis folhas de papéis. 

-Eu trouxe café para você - apontou para a ponta da mesa, onde continha um copo de isopor a minha espera.
 
-Café não é a solução para os nossos problemas, Kalimann - retirei o óculos de sol, permitindo que a cor dos meus olhos fosse visível. 

-Eu sei que não é, mas talvez ele ajude com o seu mau humor matinal - encarou-me sem demonstrar expressão -Espero que ainda goste do expresso e sem açúcar

-O único gosto que eu mudei, foi o pra mulher - ela revirou os olhos. 

-Será que podemos parar de falar sobre o nosso passado e focar no caso, Gizelly? - apontou para a folha em suas mãos. 

-E quem disse que eu estava falando sobre você, Rafaella? 

-É sério isso? Vamos ter que começar de novo?  

Passado Mal ResolvidoOnde histórias criam vida. Descubra agora