Eu estou há metros de distância do ponto de ônibus. Como se eu estivesse em câmera lenta, vejo a grande máquina estacionar perto do meio-fio, deixando com que as pessoas saem e entrem enquanto assisto ao invés de entrar também.
– Não, não, não – reclamo acelerando o passo até o ponto, mas estou cansada demais para tentar alcançar, balanço os braços, tento chamar atenção do motorista de qualquer forma para que ele me espere.
Está muito longe e diante dos meus olhos, há dez metros de distância, vejo as portas do ônibus e partir sem ter ao menos me esperado. Quando chego no ponto de ônibus, estou eufórica e com o coração disparado por correr tanto.
E o ônibus tinha ido sem mim.
Não sei se choro ou caio no chão para poder descansar. Faço um pouco dos dois: sento perto do meio-fio e tiro um lencinho da mochila para poder tirar o suor do meu rosto. Eu tinha acordado um pouco tarde, mas só fui ver as consequências depois de me atrasar para ir até o ponto de ônibus.
Posso ligar para a Becca, mas me incomoda ela ter que atravessar a cidade inteira só para me buscar. Não quero ser um fardo para minha amiga.
Um conversível prateado passa por mim em grande velocidade, me tirando dos devaneios. Quando encaro a traseira, identifico a placa do carro da Diane. Minha mente viaja por uns instantes, sobre eu tirar a carteira e sonhar estar dentro de um automóvel bem arejado e elegante.
De repente, o carro para, fazendo cessar todos os meus pensamentos. De forma inesperada, ele dá ré e leva alguns minutos para estacionar bem a minha frente.
A janela se abaixa e minhas sobrancelhas se levantam em uma grande confusão. Levanto do chão limpando os resquícios de sujeira na calça, para entender o que está acontecendo. Diane está com óculos escuros, as mãos presas no volante e a atenção voltada para a rua.
– Entra no carro – é a única coisa que ela diz.
Eu pisco os olhos, surpresa com as suas palavras enquanto um arrepio de medo atravessa o meu corpo. O jeito que fala... Parece que vai me sequestrar.
– Você está falando comigo? – a pergunta é óbvia, mas preciso me certificar que eu não estava ouvindo ou imaginando coisas.
– Tem mais alguém por aqui? – ela fala rispidamente, mas eu nem ligo por estar pasma demais com a sua oferta.
Entrar no seu carro? Isso realmente está acontecendo?
– Não, só eu – aceno com a cabeça, olhando para os lados para ver mesmo se é comigo.
E é.
E continua sendo inacreditável.
– Vai ficar o dia inteiro ai? Ou prefere ir a pé? – ela desafia e aquilo é o suficiente para me fazer abrir a porta do carro e entrar sorrateiramente.
Tiro a mochila das costas e coloco em meu colo. A timidez me domina de uma forma que fico toda encolhida ao sentir o vento do ar condicionado alcançar o meu corpo. Relaxo um pouco, por conta do suor e Diane fecha a janela, dando partida no carro.
É a primeira vez que estou em seu carro e não consigo evitar ficar reparando em tudo. No cheiro floral, na limpeza e organização impecável, é bem confortável e refrescante estar aqui dentro. Quando olho para o banco de trás, meus olhos se fixam no caderno rosa pastel em cima de uma pilha de livros.
O diário da mamãe.
Diane liga o som de repente, em uma música clássica e baixa e me obrigo a virar para frente no mesmo instante, como se seu gesto fosse uma forma de chamar minha atenção em dizer: pare de ficar reparando em tudo.
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Teoria da Serendipidade [CONCLUÍDO]
Teen FictionLola Fontaine não estava preparada para o que iria encontrar ao se mudar para Millstown, uma adolescente antissocial e reclusa que teria que enfrentar uma nova cultura, novas pessoas e costumes, mas apesar de todas as barreiras, ela tinha uma única...