21. Dimple

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Essa coisa de pais divorciados me levaria para a destruição se continuasse desse jeito. Combinei com Charlie de ver Rhaegal já que é quarta e eu teria o dia livre, estaria tudo sob controle se ele não insistisse para que fossemos de bicicleta, juntos até o clube de natação e depois para casa dele.

De acordo com o próprio, ele esqueceu de abastecer a moto e reclamou que já tinha sido uma grande tortura ter que ir a pé ao colégio, atrasado e sem dinheiro para Uber, não queria passar pelo mesmo sufoco na volta.

Com aqueles olhos grandes azuis feito a piscina em que ele está agora, foi muito difícil dizer não.

E cá eu estou, no Spring Water, sentada ao lado da sua temível treinadora Bárbara enquanto ele dá mais outra volta na água pela centésima vez. Charlie é veloz, vejo isso pelo segundos que ele gasta para atravessar a longa extensão da piscina e o modo como atravessa a água, como uma faca capaz de criar um caminho por onde passa.

– O que você acha de Charlie? – indago para Bárbara de repente, que está anotando algumas coisas em uma prancheta enquanto encara o relógio – Como nadador.

– Ele tem um ótimo desempenho, só precisa melhorar o tempo – responde sem tirar os olhos da prancheta e eu apenas concordo, sem entender muito do assunto – principalmente se quer ir para grandes competições internacionais, como ele sempre diz.

Enquanto Barbara desliza a caneta pela folha da prancheta, noto o anel prateado com uma pedra delicada azul em seu centro. Reconheço a marca porque já vi Margaret usando uma parecida, só que dourada.

Um presente do meu pai.

– Esse anel – indago distraída para Bárbara e enrolo um cacho ao redor do meu dedo – é muito bonito, Bárbara.

– Como? – Bárbara estranha a minha pergunta repentina e olha pro próprio anel – Obrigada, meu marido me deu de presente de noivado.

Uma lâmpada se acende em cima da minha cabeça, uma romântica incurável como de costume.

– Isso me parece interessante... – insinuo curiosa – Como se conheceram?

– Bom – Bárbara dá uma risada – é uma pergunta incomum para se fazer a treinadora do seu amigo.

– Concordo.

Bárbara ri de novo e eu gosto desse som, ela sempre tem um rosto sério, é divertido ver esse lado mais suave e tímido se revelar nos traços em sua pele de ébano.

– Estudamos na mesma universidade, eu praticava natação e ele, atletismo – o sorriso continua intacto – ele era o garoto mais popular de todo o campus e adivinha só, quando me viu, tentou cair em cima também, azar dele quando tentou, na época, ninguém conseguia me ganhar com uma conversa mole.

– E ele? Desistiu?

– Para um atleta que só ganhava ouro? Com certeza, não, vivia flertando comigo, eu só não o afastei porque ele sempre era cavalheiro e respeitava o meu espaço, mas não perdia a oportunidade quando surgia – ela dá nos ombros – e quando ele estava prestes a desistir, comecei a ficar apaixonada.

Dou um sorriso toda extasiada, é o tipo de história que eu gostaria de viver assim que entrasse na universidade também.

– Eu adoro ouvir sobre como casais se conheceram, sou um pouco romântica, diga-se de passagem – explico a ela, que acena a cabeça e olha para o relógio no pulso.

Ela dá um apito e Charlie para de nadar quando alcança o outro lado da piscina.

– Até sexta-feira, Charlie! – Bárbara grita para ele assim que ele sobe as escadas para sair da piscina – Sem atrasos!

Teoria da Serendipidade [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora