Enquanto tomava café naquela manhã, Draco balançava suas pernas no ar e observava seus pais zanzando pela casa. Pouco tempo antes de terminar de comer ouviu batidas na porta.
Com o rosto sujo de resquícios de sanduíches e geleia, levantou da cadeira, arrastando seus pés cobertos pelas pantufas pelo chão. Ao abrir a porta, seus olhos arregalaram e foi inevitável não sorrir.
Harry o olhou de baixo, com as mãos na frente de seu corpo e um pequeno traço de sorriso nos seus lábios finos. As mangas de seu suéter claro engoliam suas mãos, deixando as pontas pálidas de seus dedos de fora. Seus olhos pequenos estavam tranquilos, brilhantes como sempre estavam.
— Bom dia, Dray. Hoje eu que vim te buscar.
Potter olhou para o lado sem conter o sorriso sorrateiro que seus lábios expuseram. Passou a língua sobre sua boca antes de puxar o menor para dentro de sua casa.
— Eu ainda tô tomando café.
— Tudo bem. Eu imaginei que você não estaria pronto. — Ele deixou sua mochila no sofá, sentando-se ao lado de Harry na mesa. — Bom dia, tia. Bom dia, tio.
— Bom dia, Harry. Não quer comer? — A mulher mais velha ofereceu, sem parar de limpar o balcão.
— Já comi, mas obrigado.
Não demorou até que Draco terminasse de comer, movido pela vontade de querer ir embora logo antes que seus pais começassem a falar da paixão que eles sabiam que o filho sentia pelo melhor amigo. Escovou seus dentes e calçou seus tênis, sendo rápido em puxar Harry para fora de casa.
— Hoje o clima tá tão bom, não é? Não tá um sol forte, nem muito frio. Tá agradável. — O moreno murmurou, observando a borboleta que passou do seu lado.
— É verdade. Isso é quase um milagre.
— Não é?! Eu fico muito feliz por viver nesse mundo e poder apreciar dias como esses. Seria triste não estar vivo pra poder aproveitar isso.
— Eu nunca parei pra pensar nisso...
— Eu imagino, mas deve ser algo que devemos pensar sempre! O mundo tá cheio de tristeza, mas não é bom olhar o céu enquanto chove? Admirar o sol quentinho que aquece nosso corpo? Ou só sentar na areia sequinha e sentir o cheirinho do mar, a brisa balançando nosso cabelo? — Empolgado, seu sorriso diminuiu, mas Draco percebeu que aquilo definitivamente não significava que ele não estava feliz. — A gente tá tão acostumado a dar atenção a coisas bobas e fúteis, coisas que destroem a gente que nem percebemos o tantão de coisa boa que tem pra gente ficar feliz. Ou percebemos e ignoramos. É claro que eu entendo perfeitamente a tristeza, é algo que nos consome. Mas não é bom olhar pra trás e perceber que não desistir foi a melhor opção? Se eu tivesse desistido antes, eu não estaria do seu lado agora, indo estudar, olhando as ruas calmas e sentindo o sol no meu rosto. São tantas sensações boas! Eu acho que estamos tão focados em problemas que não percebemos as coisas boas também.
— São sete da manhã, como você conseguiu pensar em algo tão real assim?
— Eu não sei. — Confessou, rindo. Continuaram calados durante todo o resto do percurso.
Ao chegarem na escola, não fizeram nada além do rotineiro. Sentaram-se em suas cadeiras, conversaram, assistiram toda a aula calados - talvez nem tão calados assim. Tiveram o tão famigerado intervalo e novamente voltaram para as salas. Toda positividade que emanavam às sete da manhã sumia completamente a cada palavra que saía da boca dos professores.
Não importava quem era, não importava a matéria. Uma fada morria a medida que as atividades acumuladas aumentavam e a cada hora presos na sala.
É engraçado como, quando estamos em um momento feliz de nossa vida as horas parecem voar. O ponteiro do relógio parece enlouquecer e retirar as horas que mais precisamos para ficarmos felizes. Mas, enquanto ouviam a mulher tagarelar sobre algo que nem faziam ideia do que era, o relógio parecia retardar o tempo, fazendo com que passassem horas e horas sentados ouvindo o tagarelar de seus professores.
Para a alegria de todos os não diretamente envolvidos, o sinal estridente ecoou. Em um passe de mágica, até os que dormiam despertaram, prontos para arrumarem seus materiais e correrem para suas camas quentinhas, de onde nem gostariam de ter o desprazer de precisar sair.
— Dray, eu vou fazer uma coisa. Me espera aqui, por favor? — Harry puxou o braço de Malfoy quando estavam passando pelo grande portão. Mesmo confuso, ele assentiu, escorando seu corpo na parede. — Não vou demorar.
O loiro observou o corpo magro e pequeno correr pelo pátio com a sua mochila chacoalhando nas suas costas e riu baixinho. Continuou olhando os arredores enquanto esperava pelo seu melhor amigo, mas o tempo começou a contar.
Cerca de vinte minutos se passaram. Quase impaciente, ele saiu decidido do lugar passando a procurar por ele para que fossem logo para casa. Estava perto do anoitecer e ainda teria que deixar Harry em casa para só depois ir até a sua.
Ao passar perto de um do vestiário, ouviu o sussurrar de Harry. Então, com um sorriso nos lábios, se aproximou em silêncio na grande expectativa de dar um susto nele, mas seu sorriso perdeu a força quando percebeu que ele não estava sozinho.
Encurralado contra a parede, ele mantinha as mãos no peitoral de um garoto aparentemente mais velho. Sua expressão parecia dura mas seus rostos próximos fizeram com que Draco acreditasse duramente o contrário. Não percebeu quando seus olhos resolveram exibir o que sentia, transbordando uma rincha de sentimentos que, naquela altura, não lhe favoreciam em nenhum aspecto.
— Dray? — Harry pareceu finalmente notar a sua presença, empurrando com brutalidade o corpo do garoto, que resmungou em resposta.
Sem responder nada, Draco esboçou o que pareceu ser um sorriso dolorido, dando as costas e apertando as alças da mochila colorida em suas costas, apertando seus passos. Sentiu seu braço ser puxado e virou-se de volta, encarando os olhos magoados de Harry.
— Draco, por favor...
— Não! Me deixa ir embora, Harry, por favor. Eu quero ir. Me solta. Eu não quero falar com você, eu não quero olhar você agora. — Desvencilhou de seu aperto, continuando a encarar seus olhos.
— Volte com cuidado.Andou alguns passos, mas lembrou que ele precisava descobrir a cor. Sem paciência para jogos, ele respondeu:
— A cor de hoje é azul. Confusão.
E assim ele deu as costas novamente, ignorando o chamado alto de Harry quando, com a vista embaçada pelas lágrimas pesadas e grossas enquanto apertava ainda mais seus passos, com seu peito doendo.
Ao chegar em casa, ignorou a fala de seus pais. Correu para o seu quarto, jogando a mochila no chão e deitando na cama. Com o rosto pressionado contra o travesseiro, ele gritou a dor que seu peito falhou em oprimir, apertando as bordas do travesseiro.
Foi tão tolo em pensar que, em algum momento, poderia fazer com que Harry se apaixonasse por seus detalhes. Era alguém tão pequeno para o que ele poderia arranjar como namorado. Acreditar que conseguiria ter a sua paixão foi algo tão fútil que suas emoções insistiram em alimentar.
Não sabe quando adormeceu. Não tem ideia no que estava pensando quando seu corpo decidiu adormecer, mas isso aconteceu, enquanto seu rosto inchado e vermelho estava sendo pressionado contra a cama e suas roupas molhadas pelas lágrimas. Não sentia raiva de Harry, sentia raiva de si mesmo por, mais uma vez, não ser bom o suficiente.
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Colors - drarry
Fanfiction[DRARRY VERSION] Com uma doença onde as cores do seu cabelo indicam seus sentimentos, Draco Malfoy desafia o melhor amigo pelo qual é secretamente apaixonado, desvendar todas as cores que seu cabelo pode mostrá-lo. capa por Kery__