Ficamos nós quatro em silêncio sem saber exatamente o que responder, como responder ou se responder. Até meu amigo voltar a falar:
-- Kat, eu pensei que a gente não gostava mais deles. Mas enfim. – ele dá de ombros. – Eu vim avisar que eu vou levar o Valentim para o aeroporto. Você vem?
-- Puts... Eu tinha esquecido totalmente. Ele vai pegar um voo noturno hoje, não é? Eu vou tomar um banho rapidinho. – levanto da cama e olho para os irmãos na minha cama e dou um sorriso desconcertado. – Então, eu realmente preciso me despedir do irmão do Vinny, agora ele só volta pro meu aniversário, e vai demorar bastante. A gente conversa amanhã, ok? De manhã nós vamos para a clínica.
-- Você sabe que o real motivo dele voltar não é seu aniversário e sim o natal, né? – meu amigo fala mas eu finjo não escutar.
Vou direto para o banheiro e tomo um banho rápido. Coloco um vestido rodado estampado com margaridas e meu tênis branco para combinar com as flores. Desço as escadas amarrando meus cabelos em um rabo de cavalo e encontro Vinícius, Lídia e Leonardo em uma situação constrangedora, sem saber o que falar. Minha mãe chega na sala com uma vasilha cheia de pães de queijo e me entrega.
-- Entregue ao Valentim. São para a viagem. Já são quase 20h. Vão embora. – Amélia nos expulsa e todos rimos com ela.
-- Tchau tchau. – aceno para os dois irmãos e ando rápido para o carro. Eu esqueci totalmente que o Valentim vai embora hoje e só volta em dezembro.
-- O que eles estavam fazendo na sua casa? Você já fez as pazes? Kat, você precisa aprender a ficar com raiva das pessoas, guardar rancor, sabe? Não é saudável ser legal o tempo todo. – Vinícius fala após um tempo em silêncio. Seu irmão já está a caminho do aeroporto com os pais e as várias malas.
-- Eu não fiz as pazes, e eu ainda estou magoada. Só que a Lídia está com um problemão. E eu não posso te contar agora porque não cabe a mim contar.
-- Tudo bem, eu entendo. Mas a Lídia estava com cara de choro. Ela realmente foi chorar no seu ombro? Logo no seu? – meu amigo começa a rir eu belisco seu braço. – AAI, KAT! Você sabe que eu estou certo. Você é a pior pessoa para consolar alguém. Quando a minha ex me deixou e eu fui pedir consolo, você perguntou o que tinha a ver com isso.
-- É claro. Eu avisei desde o início que não era amor, era cilada. Você não me ouviu porque não quis. – dou de ombros e observo as luzes da cidade pela janela do carro.
-- Mas não é isso que se diz para alguém que está triste, Katrina!
-- O que eu posso fazer se a minha empatia é zero?
-- Tudo bem. Enfim, para a Lídia estar tão desesperada é porque está grávida, é? – ele pergunta distraído enquanto olha o trânsito atentamente.
-- Como você sabe? – pergunto com os olhos arregalados.
-- COMO ASSIM COMO EU SEI, KAT? EU ESTAVA BRINCANDO, KAT! ELA ESTÁ GRÁVIDA DE VERDADE, KAT? – meu amigo pergunta com os olhos mais arregalados que os meus e desvia de outro carro por pouco.
-- É que... – mordo meu lábio inferior com força. – Amigo é claro que eu estou brincando. – dou uma risada nervosa. – A Lídia grávida? Nunca. Ela vai casar virgem. Agora olhe para a estrada para não nos matar, por favor.
-- Como ela vai casar virgem se ela já ficou com mais pessoas que eu e você juntos?
-- Amigo, pelo amor da deusa, esqueça isso e nem sonhe em falar disso para alguém. Agora se apresse.
Encerro o assunto e ficamos em silêncio até chegarmos ao aeroporto. Corremos para o portão e encontramos a dona Verônica com os olhos vermelhos de tanto chorar abraçada ao filho, enquanto seu marido, André, cuida das malas impaciente, fingindo não estar igualmente triste.
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Blue Girl
Genç KurguBlue, do inglês, nem sempre se refere à cor azul, também pode ser usado como uma expressão que significa triste, o que pode definir nossa protagonista em seu interior algumas vezes. Katrina é uma garota extrovertida e que faz colegas facilmente. Sua...