Crise

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Ela não sabia mais dizer quando foi que de repente estava presa numa nuvem de sensações estranhas, após sair do quarto de Chichi, sentindo-se à beira de um colapso, entrou no seu dormitório e fechou a porta com força. Caminhou até a frente do espelho onde todos os dias costumava conferir seu visual antes de sair, sempre feliz consigo mesma, mas que agora olhava-se confusa e perdida.

Bulma sabia que não podia dizer que era alguém com excesso de peso, nem mesmo tinha algum tipo de obesidade, mas não podia concordar com Chichi ao dizer que estava abaixo do peso.

Bastava olhar para si mesma, após tirar a blusa que vestia, para ver que não, não conseguia ver-se assim tão magra. Poderia apontar várias partes em seu corpo que não gostava e mesmo fazendo dietas extremas e ficando sem comer quase o dia todo não parecia surtir efeitos.

E mesmo assim, sempre precisava lidar com Chichi que reclamava sobre comer pouco, ou nada.

Mas como Bulma iria explicar que o simples fato de colocar comida na boca a fazia se sentir mal? Mal a ponto de ficar se culpando pelo resto do dia. Qualquer coisa no mundo era melhor do que comida, a própria fome muitas vezes se torna mais agradável do que o sabor de "chocolate", por exemplo.

E quando ocorria o caso de Bulma comer algo, era sempre escondido das pessoas, se sentia quase envergonhada se fizesse isso na presença de alguém. E depois a sensação de culpa por ter comido a tomava conta.

Foi pensando nesses pequenos detalhes que Bulma começou a achar que talvez Chichi realmente estivesse certa. Ela tinha anorexia?

Ouvia falar sobre essa doença, mas era difícil acreditar que pessoas com esse problema viam uma distorção do próprio corpo. Será que o que ela via no espelho não era real? Ela poderia mesmo acreditar que era magra da maneira que gostaria?

Não era fácil admitir isso, tampouco conseguia ver-se comendo para melhorar, tamanho era seu medo de começar a engordar.

Até que o som de alguém batendo na porta tirou Bulma de seus pensamentos, e ela nem mesmo tinha percebido há quanto tempo estava ali, olhando para si mesma.

Mas antes de ir atender, vestiu sua blusa e passou no banheiro para lavar o rosto choroso.

Respirou fundo tentando manter-se firme e abriu a porta.

— Vegeta? Oi. — a voz soou desanimada, mas ela forçou um sorriso.

— O que foi, garota? Parece estar surpresa em me ver. — Vegeta ergueu uma sobrancelha, percebendo que havia algo de errado.

— Não, é que eu... eu só... estava distraída, não pensei que viria a essa hora. — Vegeta imaginou que aquele desânimo de Bulma ainda se dava pelo fato da depressão de Chichi sobre sua mãe, por isso, não ligou muito, pois sabia que logo ia passar, sem imaginar que na verdade o desânimo dela tinha agora outro motivo.

— Eu mandei mensagem faz alguns minutos, você não visualizou, mas decidi vir mesmo assim, já que Kakarotto saiu com sua amiga, então imaginei que não estivesse mais com ela.

— Oh... — Bulma ficou um tanto surpresa por saber que Chichi saiu com Goku, mesmo depois de se negar e ofender Bulma para não sair.

Talvez aquilo tenha deixado Bulma um pouco pior, mas precisava de uma distração para não afundar mais ainda na sua pequena crise de identidade.

— Bem, eu... vou só me arrumar e então podemos sair. — e assim apenas voltou-se para dentro a fim de se tentar ficar um pouco mais apresentável, mas ao contrário das outras vezes, não demorou muito para se arrumar, ignorando alguns detalhes que geralmente achava super importante, como estar com o cabelo perfeitamente alinhado ou ter certeza que a maquiagem estava cem por cento, até porque naquele momento nem mesmo tinha passado rímel.

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