E se... eu morrer sufocada e sozinha?

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Quando coisas ruins acontecem, você só tem duas opções: deixar que isso te transforme em uma pessoa ruim ou que te torne mais forte.

Eu escolhi a segunda opção, e vou continuar com ela. Como já dizia Shakespeare : "Não posso escolher como me sinto, mas posso escolher o que fazer a respeito."

Não foi a decisão mais fácil do mundo. Como muitas coisas na vida, isso requer um processo. Um processo gradativo e delicado, onde cada pequeno progresso significa uma vitória gigantesca, uma de muitas. Em alguns momentos, porém, é como se essa vitória estivesse a quilômetros de distância e quanto mais se tenta segurá-la, mais rápido ela escorre como areia por entre os dedos.

O que abre espaço para inseguranças, inúmeras perguntas sem respostas e, é claro, as terríveis crises da madrugada. Sabe, aquele momento em que o desânimo chega do nada, o peito aperta e as lágrimas escorrem livres e fartas. Onde o travesseiro encharcado de gotas salgadas é o único amparo e conforto que se tem. Isso sem falar nas lembranças horríveis que começam a passar como um filme em um enorme telão dentro da mente, já farta de coisas ruins.

Mas, saber que o amanhã logo chegará, geralmente, é o único alento que há entre as ânsias sufocantes surgidas ali.

Olhando para tudo isso, dá para se pensar, por pelo menos alguns breves instantes, que essa opção não é lá muito vantajosa.

Então, é aí que você se depara com o primeiro de muitos "e se" da vida.

E se...

- Não! Você não pode desistir! Não agora que já chegou tão longe, não ouse retroceder! - apontei o dedo de forma acusadora para o reflexo desanimado à minha frente.

Minha pele, antes dourada de Sol, agora me lembra algumas tentativas fajutas de se reproduzir a imagem de um vampiro. Meus cabelos tão escuros quanto a noite, encontram-se em uma enorme bagunça repleta de nós, o que me lembra que devo cortá-los com urgência.

Mas, o melhor de toda essa naturalidade matutina, sem dúvidas, são as olheiras enormes e escuras logo abaixo do castanho penetrante dos meus olhos. Elas já me acompanham há anos. Se eu ao menos soubesse, e tivesse o menor talento, tentaria disfarçá-las com maquiagem, mas não possuo a menor habilidade para chegar a tanto.

Na verdade, acho que estou mais pra noiva cadáver do que para vampira, o que é péssimo já que preciso sair em menos de meia hora.

Analisei minha barriga, onde várias pintinhas escuras se destacavam. Como seria se eu fosse um pouquinho mais alta? A barra da camiseta se franziu quando eu a puxei me colocando na ponta dos pé e me esticando ao máximo.

É, definitivamente não!

Minhas costelas extremamente aparentes fizeram com que um vão surgisse um pouco acima da minha barriga. Eu realmente não tenho, e estou bem longe de ter um biótipo esteticamente perfeito como o das tops que modelam para Victória Secrets*. Padrão! Mas quem se importar, afinal, é só um padrão idiota, imposto por uma sociedade, em sua maioria, idiota também.

Beleza, é algo bem relativo. Ao menos para mim. Amo cabelos cor de fogo, cachos são sensacionais, lisos são lindos a pele negra é divina a branca também. Olhos coloridos são perfeitos, puxadinhos então...

Mas, na realidade, nada disso vale muito. Se a pessoa não tiver o mínimo de empatia e respeito ao próximo, essa beleza vai para o ralo. Afinal, do que vale um exterior perfeito e um interior pobre?

Absolutamente nada!

Todo o meu momento filosófico foi interrompido quando Marie achou que seria um bom momento para esmurrar minha porta. Não demorou mais que alguns segundos para que ela escancarou a grande peça de madeira.

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