A serpente

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  Consultamos todo o tipo de ajuda. Limpamos a casa com sálvia e incenso, mas não adiantava. Eu ainda podia ver o reflexo da mulher de branco no espelho, cada vez mais perto de mim. Qual seria seu próximo passo? Me matar quando já estivesse próxima o suficiente? A casa se deteriorava a cada dia. O mofo tomou conta do porão, e depois começou a subir para os andares superiores. As plantas do jardim começaram a morrer, e o lago próximo a casa criou muito lodo. Os peixes também morreram e as folhas secas das árvores faziam a propriedade criar um aspecto vazio, como se ninguém vivesse ali. 
  Um dia, Arthur me chamou para jantar. Mas ele não queria ir para a cidade. Quis jantar em casa mesmo. Afirmou ter falado com minha mãe, e que ela aceitou de bom grado o trabalho de cuidar do bebê. Iríamos ficar a sós, sem nenhuma preocupação momentânea. 
  A noite caiu, e Arthur foi até a cidade deixar Marcos a cargo de minha mãe. O jantar foi agradável e começamos a conversar. Fiquei um pouco nostálgica, pois aquilo me lembrava da época em que namorávamos e de como as coisas eram mais simples. Terminamos de comer e ele se ofereceu para lavar os pratos. Eu estava limpando a mesa, quando ouvi ele começar a fazer força. Quando olhei para ele, vi que o ralo estava entupido e ele tentava consertar. Cheguei mais perto, caso minha ajuda fosse requisitada. Comecei a sentir náuseas e dor de cabeça e culpei a comida. Ele tirou a mão do ralo, e aproximou o olho do mesmo, tentando identificar o problema. Na mesma hora, uma serpente gigante e negra saiu rapidamente do ralo, em frações de segundo, e entrou dentro da boca de Arthur, quase o sufocando por dentro. Ela entrou por completo e eu tentava ajudar ou fazer ele cuspir, mas não adiantou. Aquilo desceu pela sua garganta bruscamente e o fez paralisar como uma estátua. Não sabia como ele ainda estava vivo. 
  Ele caiu no chão e começou a se debater. Deduzi tudo e vi que aquilo não era o que eu via. Arthur havia acabado de ser possuído. Ele parou de se contorcer e se levantou. Seus olhos estavam completamente vermelhos e ele dava gargalhadas como um grande monstro. As portas e janelas da casa se fecharam de uma vez, de forma rápida e brusca. Arthur, que não era mais humano, começou a correr atrás de mim pela casa. Seus passos eram gigantes, e dava impressão que ele pulava ao invés de correr. 
  Ele gritava coisas como "profanação e "concubina de Satã". Consegui abrir uma das portas e corri até a floresta. Não sabia para onde estava indo, mas sabia que ia acabar chegando em algum lugar. A cada passo que dava, sentia coisas ao meu redor. E eu quase pude jurar que as árvores se mexiam à medida que eu avançava. Parei de correr quando percebi que eu estava no mesmo local de partida: minha casa. Como era possível? Não dei a volta ao mundo em 5 minutos. Corri mais uma vez, floresta adentro, esperando fugir daquele demônio à espreita. Acabei batendo a cabeça em um dos galhos de uma árvore gigantesca e caí no chão. Passei a mão na fronte e vi que escorria sangue. Fiquei um tempo sentada, até sentir algo rastejando sobre meu braço. Olhei, e vi um ramo de uma árvore rasteira. Não só um, como vários galhos começaram a subir sobre meus braços e pernas, como verdadeiras cobras num ninho. Comecei a gritar de desespero ao ver que meu corpo estava arranhado por completo e, em seguida, totalmente despido, já que os galhos tiraram as minhas roupas. As árvores estavam vivas, e me machucando. Eu já estava de pé, quando caí deitada de dor, ainda amarrada pelas garras de Satanás. Os galhos começaram a pressionar minhas pernas para o lado, abrindo-as e me deixando totalmente à mostra. Olhei a frente e vi uma mulher de pé, de vestido curto e amarrotado. Estava molhado e sujo. Seus cabelos eram longos e seus olhos eram maliciosos. Olhava fixamente para mim, segurando um facão. Foi quando abriu a boca, e dela saiu uma serpente preta enorme, com mais de 6 metros, aproximadamente. Ela rastejou até mim, que estava totalmente nua e com as partes amostra, e me penetrou por completo, me fazendo gritar e ficar agonizando por horas, enquanto os galhos me soltavam e me deixavam no chão, desacordada.
  Acordei na minha cama, com várias feridas em todo meu corpo. Arthur estava ao meu lado. Pedia desculpas pela noite anterior e não se lembrava do que aconteceu. Só se recordava de termos jantado e lavado a louça. Contei o que ocorreu na floresta, mas não tudo. Pediu desculpas por tudo que havia feito ou dito, e me abraçou, pondo a cabeça em meu ombro. Marcos ainda estava na casa de minha mãe e Arthur foi pegá-lo mais tarde. Passei o dia dopada, tomando remédios e mais remédios. Dormi muito e como era de se esperar, passei a noite em claro. 
  Estava deitada, olhando para o teto do quarto, quando uma sombra começou a se formar no canto do quarto. Não soube diferenciar se era homem ou mulher, mas vi que possuía olhos vermelhos...

Mente DiabólicaOnde histórias criam vida. Descubra agora