Aquele olhar maléfico me encarava todas as noites, até que, em uma madrugada, resolveu se apresentar. Eu estava dormindo profundamente quando acordei com a sensação de peso sobre meu corpo. Recortes de imagens passavam na minha mente. Eram minhas visões. Eu via várias coisas, como um homem que eu não conhecia morto no chão de uma garagem, e um garoto, um adolescente, gritando em um local escuro. Após as visões passarem, notei que não estava sozinha. Quando olhei para o lado, vi um homem sentado na beira da cama. Tentei cutucar Arthur, mas minhas mãos estavam dormentes e pesadas. O arrepio tomou conta de mim e consegui focar na aparência do sujeito. Ele usava roupas totalmente pretas, sua gola era alta e suas unhas eram enormes, como postiças. Suas mãos eram peludas e enrugadas como de alguém mais velho, mesmo seu rosto afirmando o oposto. E o mais assustador, que me faz arrepiar até agora, é que ele não possuía pálpebras. Seus olhos eram completamente abertos, assustadores e intimidadores.
Eu tentava falar, mas minha boca não se mexia. Eu estava tendo paralisia do sono. Ele começou a sorrir e chegou mais perto, ainda sentado de lado na cama.- Você é tão jovem, e tão bonita… Sua família é perfeita. Você não merece passar por isso tudo, não acha? - perguntou ele, com aqueles olhos maliciosos.
Eu não respondi, e tentava desviar o olhar o máximo.
- Eu tenho uma proposta: se quer que tudo isso pare, é só entregar o seu bebê de bom grado. Me dê permissão para levá-lo, e não irei machucar nenhum de vocês. O que você acha? Não prefere viver uma vida normal sem ser atormentada por todos os males existentes?
Consegui balançar a cabeça, respondendo que não. Ele chegou mais perto e pôs a mão na minha perna, deslizando suavemente. Minha respiração era pesada.
Tentei gritar de novo, mas ele me interrompeu e disse:- Seu marido não vai te escutar. EU NÃO DEIXO!
Ele subiu em cima de mim, e me pressionou com o peso de seu corpo, me deixando totalmente desacordada e fraca, antes de desaparecer completamente, assim como havia aparecido.
Acordei mais cedo que Arthur e, ainda sonolenta, fui dar de mamar para Marcos, que já havia acordado. Pus uma cadeira na varanda para tomar um pouco de sol e vi um carro se aproximando da propriedade. Era Irene. Ela desceu com uma bolsa de couro linda, como sempre. Seus cabelos um tanto soltos e de óculos, por estar fazendo bastante sol.- Bom dia, amiga. Como vão? - disse ela, sentando numa cadeira próxima a mim.
- Estou levando. Mas o Arthur e o bebê estão bem e é isso que importa. O que você faz aqui tão cedo? - perguntei.
- Como hoje é sábado, resolvi passar um tempo com vocês. Sei que tudo está ficando cada vez mais difícil, então vim prestar serviço. - explicou ela, tirando o óculos. - Sabe, Judy... coisas estranhas também acontecem comigo.
- Como assim? Você também?- perguntei, seriamente.
- Às vezes, eu não me sinto sozinha e vejo coisas, mas isso me dá motivação para não deixar nada me abalar. E é isso que quero que faça. Quero minha velha amiga de volta! - disse ela, pondo a mão no meu braço e sorrindo levemente.
- Não são só algumas coisas, Irene. Está piorando. Cada vez mais. E não sabemos o que fazer. Passo muito tempo sozinha aqui. Não tenho de onde tirar coragem. Essas coisas querem o meu bebê. E isso eu não vou permitir, de jeito nenhum.
Ela ficou um pouco séria, apática, olhando para o vazio, pensativa. Entramos e conversamos um pouco na sala sobre suas viagens e trabalhos já concluídos. Ela viajava muito, e tinha uma inteligência inestimável. Eu nunca subestimei-a, pois sabia do potencial de minha amiga. Na escola, ela era daquelas que sentavam na frente e tiravam boas notas. Eu também era boa, mas não tanto quanto ela. Passamos o dia juntas. Marcos estava um pouco sonolento, então dormia muito. Arthur sempre nos deixava a sós, pois sabia que eu precisava rir e conversar um pouco com uma amiga. A noite chegou e Irene me ajudou a preparar o jantar. Um amigo do meu marido, o Sr. Edmund Baker também se juntou a nós. Ele morava sozinho numa casa próxima, então já era nosso conhecido há muito tempo.
Ele e meu marido ficaram conversando na varanda enquanto continuávamos na cozinha.- Ele é solteiro, o Sr. Baker. - falei, rindo e olhando para Irene.
- Ah, você sabe. Não sou muito de me apegar a alguém e nunca paro em casa. Estou sempre viajando. Já tive um amor, mas não foi correspondido. Também, ele nunca soube. Eu mataria por ele. Mas, enfim, nada é como a gente quer. Mas até que o Edmund é bonitinho. - ela respondeu, rindo.
Jantamos todos juntos. O Sr Baker falava de suas caçadas pelas montanhas e sobre as criaturas mitológicas da região. Mas fiz sinal para Arthur e ele fez o mesmo mudar de assunto. Irene falava de seu emprego e viagens. Falou tanto que chegou a esquecer que Edmund não estava por dentro do assunto e que não a conhecia muito bem, mas de certa forma, nós também não a conhecíamos.
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Mente Diabólica
HorrorAmbientado nos anos 70, um casal vive um verdadeiro inferno em sua casa, onde são assombrados por entidades malignas que querem a alma de seu bebê recém-nascido. Agora cabe a mãe ter mais que seu instinto materno para proteger sua família.