Luz

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Durante a noite, tive um pesadelo muito estranho. Sonhei com meu pai. Não era muito comum eu sonhar com ele. Não pensava muito no mesmo. Mas o sonho em questão foi um dos piores que já tive. Eu estava em casa e o telefone tocava. Eu atendia e era meu pai. Ele perguntou como o bebê estava e se estava bem. Eu respondia que sim, e a ligação falhava. Ruídos podiam ser ouvidos e eu tentava restaurar a conexão da chamada. Mas uma voz falha, cansada, começou a falar no lugar dele. "Eu vou pegar ele. Eu vou. E você não pode fazer nada para salvá-lo.
Acordei no meio da madrugada, muito cedo. O sol mal havia raiado. Marcos estava ardendo em febre e não parava de chorar. Levei-o para o hospital junto com minha mãe e Arthur rapidamente, e chegando lá graças a alta velocidade que o mesmo punha sobre o carro. Estávamos esperando o médico quando Marcos começou a falar. Ele já havia dito algumas palavras antes, mas nada tão grandioso. "Mamãe, ele me pegar". Liguei aquilo com o pesadelo da noite passada e fiquei preocupada. O médico já havia o examinado, entretanto não sabia o motivo da virose do pequeno. Arthur saiu para falar melhor com o médico, para ver se conseguia tirar alguma informação a mais do mesmo. Ele disse que Marcos deveria ser transferido para outra área do hospital, devido ao mistério em relação à doença dele. Pedi para minha mãe ir buscar dois cafés para nós e fiquei sozinha no quarto, junto com o bebê. Sentei ao lado da cama e comecei a acariciar a testa de Marcos, reparando que ele estava mais pálido que o normal.
Comecei a ouvir barulhos vindo do banheiro, na frente da cama. Olhei, me esticando para trás e vi o mesmo homem que estava no consultório da vidente. Ele estava diferente agora. Estava mais feio e esguio. Usava uma capa vermelha, e agora havia uma cicatriz em sua testa e seus olhos estavam totalmente pretos. Começou a andar em direção a cama do bebê, devagar, difícil. Estacionou seu alto físico na frente da mesma, enquanto olhava concentrado para Marcos.

- O que está fazendo aqui? Saia desse quarto! - ordenei apontando para a saída.
- Estou aqui em uma missão, lindos olhos. Vim buscar seu bebê. - respondeu, mudando o rumo da visão, que agora repousava sobre mim.
- Mas por que o Marcos? Por que o meu filho? - perguntei, com as pernas bambas, quase a desmaiar.
- Estou apenas fazendo a minha parte. Alguém ofereceu a alma dele para mim. Vim buscar o que me é de direito. - respondeu, voltando seus olhos para meu filho.

Minha mãe entrou no quarto, e ao ver aquela figura pavorosa na frente da cama, deixou cair os dois copos de café que tinha na mão. Pegou sua bolsa, e dela retirou seu crucifixo no escapulário. O homem deu um passo para trás em tom de rejeição e minha mãe olhou para mim, fazendo sim com a cabeça. Começamos a recitar o salmo 91, que havíamos aprendido. O homem começou a apresentar sua verdadeira forma: chifres começaram a sair de sua testa, sua pele havia escurecido gradativamente, seus dentes se afiaram como lâminas ardentes e o quarto começou a cheirar mau, como carne podre.
Uma luz branca e forte invadiu o quarto pela janela e, de dentro dela, uma mão masculina e brilhante envolveu a cama na qual Marcos repousava. O demônio se desfez no ar e a atmosfera pesada cessou. Marcos acordou e sua febre desapareceu, junto com a entidade.

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