Durante o jantar, Irene sugeriu que viajássemos para Turim, na Itália, junto com ela. Achei uma grande loucura, pois eu mal sabia falar italiano e não havia motivo de viajar para um lugar tão longe. Arthur me motivou afirmando que iria pedir uma folga de seu trabalho, para que passássemos um tempo juntos, pois estávamos precisando. Também sugeriu levar a minha mãe conosco, já que morava sozinha. Depois de muita insistência, fui convencida a me deslocar de país.
Viajamos de avião depois de uma semana. Era o tempo necessário para Arthur resolver as pendências do emprego, e também o tempo para eu deixar tudo em ordem. Deixei Martina no comando da casa, mas não pedi que se esforçasse tanto, já que a casa era muito grande. Durante a viagem Marcos ficou um pouco enjoado, graças ao balanço do avião. Chegando a Itália, estávamos exaustos, mas fomos explorar a majestosa cidade.
Ao passear pelas ruas, uma manchete pregada num poste me chamou atenção:"Há três anos, Turim é uma cidade-laboratório para os protestos de estudantes e trabalhadores, marcada pela presença de várias formas de anticlericalismo e por uma espécie de maçonaria 'marginal', repudiada pelas grandes lojas maçônicas e focada em ocultismo e 'magia sexual' É nesse ambiente que as notícias dos jornais sobre a existência de satanistas na Califórnia e em outros lugares do exterior despertam curiosidade."
Aquilo me deixou assustada, pois me lembrou dos eventos passados e, se a cidade tinha mesmo aquela atmosfera, não era um lugar bom para se estar naquelas circunstâncias. Olhei para a vitrine de casacos de pele e vi o reflexo dela. A mulher de branco estava com meu filho nos braços, como sempre, cada vez mais perto de mim. Mesmo sabendo que Marcos estava seguro conosco, o perigo constante me assombrava ao saber que estávamos longe de casa. Irene havia se afastado de nós para fazer compras. Minha mãe me tranquilizava e repetia que tudo estava bem e, depois de darmos voltas pela cidade, sugeriu que fôssemos a um vidente, para fazermos "leitura de mãos". Eu sempre acreditei nesses dons, até porque eu havia recebido um, não é mesmo?
Sorella Giorgia Jade. Era o nome da vidente mais famosa da cidade. Apesar de achar o nome bastante "exótico", resolvi arriscar. Entramos na loja, que era uma espécie de livraria. Digo isso porque havia vários livros de todos os tamanhos e cores, em estantes, distribuídos igualmente. Haviam símbolos e guirlandas em todas as partes do teto. Tive que conter Marcos que não parava de querer subir para balançar as mesmas. Não achamos muito seguro de início, mas o que podia piorar?
Estávamos perto do caixa, prestes a apertar o sino de balcão, quando um homem muito estranho se aproximou atrás de nós. Ele parecia um mágico, e pelas suas roupas, achamos que era alguém da loja. Usava uma capa preta, cartola e terno. Sua barba era dividida igualmente, e ele era muito bonito.- Lindos olhos! - disse ele, olhando para mim e sorrindo.
Agradeci pensando ser um funcionário do estabelecimento.
Apertei o sino, e ao olhar para trás para perguntá-lo sobre a vidente, ele havia sumido. Me convenci que havia saído rapidamente sem notarmos.- Bom dia. Sou a Sorella Giorgia Jade. Desejam alguma coisa? - disse uma mulher, vinda de trás do balcão, usando um vestido florido e cabelo extremamente ruivo.
- Ah, sim. Queremos fazer uma leitura. É um assunto importante e confidencial. Podemos conversar lá dentro por favor? - pedi com educação.
- Pode nos dizer quem era aquele homem de capa preta e roupa estranha que estava aqui? - perguntou minha mãe.
- Acho que sei de quem está falando. Venham. Sigam-me. - respondeu a vidente, mesmo sem eu saber direito o que aquilo significava.
Ela nos conduziu até seu escritório. Lá dentro, havia uma mesa redonda coberta por uma toalha vermelha. Havia uma estante de livros em dois lados da sala. Sentamos e contamos nossa situação a ela, desde a primeira aparição.
Ela se esticou um pouco e pegou um livro de capa preta, um pouco surrado, na estante. O livro não tinha título, mas dava pra ver que era muito antigo. Havia desenhos e figuras de todos os tipos de demônios. Também havia coisas escritas ao lado, mas por conta da língua, não consegui traduzir. Mas foi possível ler coisas como "sacrifício" e "troca".- Temo que o que acompanha vocês não é humano. Sei que já viram vários espíritos de pessoas entrando e saindo de sua casa, mas não eram pessoas. Eram espíritos infernais. No meu ver, acho que puseram algum objeto amaldiçoado em sua casa, um objeto que atrai espíritos para o cômodo em que foi colocado. Um tipo de "imã espiritual". E aquele homem que você viu lá fora? É a entidade que a assombra. Ele é capaz de assumir a forma que quiser para ter o que deseja. Como já me disse, alguém ofereceu a alma de seu bebê a algum demônio, e de uma coisa eu sei... um de vocês foi tocado pela pessoa a qual mais devem temer. - disse ela, enquanto lia as cartas.
- O que sugere? Que nosso maior inimigo pode estar ao nosso lado? - perguntei, aflita.
- Sim. Não necessariamente agora, mas já esteve. Devem ter cuidado. - respondeu, juntando as cartas.
Encerramos a leitura, e fomos para o hotel que nos hospedamos. Não demorei muito para dormir, mas aquela sensação de perigo se aproximando não me deixava. Sentia que algo de ruim estava próximo. Algo que iria mudar o resto da minha vida.
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Mente Diabólica
HorrorAmbientado nos anos 70, um casal vive um verdadeiro inferno em sua casa, onde são assombrados por entidades malignas que querem a alma de seu bebê recém-nascido. Agora cabe a mãe ter mais que seu instinto materno para proteger sua família.