Passamos poucos dias em Turim. Irene viajou antes de nós, chegando em casa primeiro. Apesar de Marcos estar melhor, não descartava a hipótese e a sensação de perigo próximo. Como Sorella disse, devem ter plantado algo amaldiçoado na minha casa e eu precisava achar o mais rápido possível, pois destruindo o objeto ou bloqueando sua energia de alguma forma, poderia acabar com a maldição. Mesmo não tendo visto mais nada de sobrenatural, sentia que aquilo não tinha ido embora completamente. Estava à espreita, pronto para dar o bote. Eu sentia isso. Algo tão maligno não iria embora tão cedo. Não antes de alcançar seu propósito.
Ao chegarmos em casa, a vimos em ótimo estado. Martina havia caprichado na limpeza. Notamos suas coisas no balcão, indicando que estava na casa, entretanto, não a encontramos de início. Ligamos para ela e nada. Tememos que alguém tivesse invadido a casa e a feito de refém, porém, descartei a hipótese ao ver tudo em ordem. Deixamos as malas no quarto para desfazê-las mais tarde. Arthur foi aparar a grama, enquanto eu preparava o banho. Marcos agarrou no sono e o deixei na cama a descansar. Entrei no banheiro e liguei a torneira da banheira. Encostei as costas na borda e fechei os olhos. Nada como uma água quente para relaxar os músculos. À medida que a banheira enchia, comecei a sentir em minhas mãos sob a água pequemos pedaços de uma matéria lisa e molenga. Sem falar de um movimento que a água fazia, como se algo tivesse emergindo da mesma. Pensei ser sujeira do reservatório, já que passamos algum tempo fora.
Mas ao abrir os meus olhos, vi uma coisa horrível. A água estava preta, como piche. Ao levantar minhas mãos, vi que o que eu estava tocando era, na verdade, minúsculos pedaços de carne podre, e ao olhar para frente, vi uma mulher sentada simetricamente a minha fronte. Seus cabelos eram longos e pretos, molhados pela água. Sua pele era cinza e seus olhos igualmente. Usava um tipo de vestido marrom de mangas curtas. Fiquei paralisada. Não conseguia me mexer, nem assimilar o que estava acontecendo. Ela estava parada, tão imóvel, que posso dizer com toda a certeza que uma estátua se movia mais do que ela. Sua respiração era ofegante como se fosse uma pessoa submersa há muito tempo. Uma palavra saiu da minha boca, finalmente. Um grito, na verdade:
- ARTHUR!
Ela deixou sua posição inicial e avançou em cima de mim, enquanto gritava e empurrava minha cabeça para baixo da água. A ânsia de vômito se fez presente quando abri os olhos submersos, e vi pedaços de carne e ossos flutuando na água escura. Minhas visões começaram a fazer relances na minha mente. Eu vi a imagem de um garoto, um adolescente, deitado numa banheira, completamente desfigurado e mutilado. O sangue em seu rosto não me permitia ver sua identidade. Consegui pôr a mão fora da banheira e puxei todo o meu corpo pra fora da mesma. Caí no chão, facilmente pelo fato de estar molhada e escorregadia, mas também não consegui me levantar pelo mesmo motivo. Me arrastava pelo chão até a porta, enquanto a mulher também saía da banheira e rastejava com seus braços enormes até mim.
- Me dá o seu bebê! - ela gritava com voz gutural.
Consegui alcançar a maçaneta e abri a porta, pegando impulso e levantando em seguida. Corri despida pela casa, enquanto gritava pelo meu marido. Ele entrou às pressas e, quando chegou no banheiro, a mulher havia sumido. A água negra e o rastro no chão continuavam lá. Os fragmentos de carne morta boiavam na escura água. Com ajuda do nosso vizinho Edmund, Arthur conseguiu abrir a caixa d'água e ver a pior cena de sua vida. Lá jazia o corpo morto e esquartejado de Martina. Suas roupas não estavam presentes, o que indicava a certeza do homicídio. Martina não era depressiva, muito menos suicida para cometer tal ato. Alguém havia assassinado a pobre coitada, e não havia dúvidas que havia sido a mesma pessoa que estava causando todo aquele inferno.
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Mente Diabólica
HorrorAmbientado nos anos 70, um casal vive um verdadeiro inferno em sua casa, onde são assombrados por entidades malignas que querem a alma de seu bebê recém-nascido. Agora cabe a mãe ter mais que seu instinto materno para proteger sua família.