| Jingle Bells |

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*Manoel 


-Está animado? -Rosalía perguntou eufórica enquanto terminava de colocar suas roupas na mochila. Sua barriga já havia crescido um pouco e dava para perceber que estava grávida.

-É talvez, sei lá é estranho depois de dois anos sem se reunir e comemorar o natal de verdade. -parado na janela eu via Julieta e Dustin conversando com Angelina. Esteban ainda não havia dado sinal de vida, e eu não acreditava que ele iria ir. Acho que esse seria o pior natal da vida dele, ou não. No mínimo, o mais indesejado.

-Ela vai adorar ter você esse ano lá! Tia Esmeralda me contou que elas ajeitaram tudo lá em casa, e que a decoração tá maravilhosa... -Rosalía continuou falando mas minha cabeça estava bem longe dali. Eu estava confinado com arrependimentos e más escolhas, e não tinha como conversar sobre isso com ninguém. Eu sempre apelava para a única forma que arrumava para desabafar. -Você já vai começar a beber?

-Vou. -retirei o lacre enquanto ela cruzou os braços e ficou de cara feia.

-Eu não acredito nisso. Você prometeu que não iria beber, pelo menos não até a ceia!

-É só um pouco, não é como se eu fosse realmente querer chegar bêbado em pleno natal. -dei um gole e fechei a garrafa. -Viu, já acabou.

-Você é impossível, honestamente me pergunto as vezes o que eu vi em você. -ela pegou sua mochila e abriu a porta com raiva, fazendo ela bater na parede.

-As vezes eu me pergunto a mesma coisa. -revirei o olho e acendi outro cigarro. Grande natal de merda.

   Fui descendo as escadas devagar, e para a minha surpresa quando cheguei no térreo Esteban estava lá. Tão desanimado quanto eu, mas com a mochila pendurada no ombro. Ele iria. 

-Finalmente podemos ir. -Angel falou destravando o carro. 

-Somos seis Angel, não cabe todo mundo. -Julieta notou o óbvio.

-Alguém vai no colo meu amor, embora eu ache que o Dustin e Manoel são tão magrinhos, que vai caber todos vocês sentados um do lado do outro. 

-Podemos tentar ver se cabe. -Dustin entrou e em seguida Julieta e Rosalía, e então finalmente eu. De fato, todos nós conseguimos caber lá atrás.

   Fui a viagem inteira calado, olhava para o lado de fora preso nos meus pensamentos. Talvez ficar lá me fizesse bem, afinal a casa do Esteban foi o meu lugar favorito por anos, meu único refúgio do inferno que eu chamava de vida. Apesar de tudo, no fundo eu gostava de ir pra lá, me esconder na casa da árvore com Esteban e ficar comendo besteiras e xingando todo mundo que a gente odiava. Às vezes a gente ficava calado por horas, deitados um ao lado do outro observando o teto cheio de manchas que a chuva deixou, e algumas pequenas aranhas. E mesmo em silêncio a gente se entendia, sabíamos onde estava doendo um no outro e sempre respeitamos o nosso espaço. Se ele não quisesse falar eu não pressionava, e ele o mesmo, embora fosse difícil ignorar quando eu aparecia com o olho roxo e a boca machucada. As vezes eu chorava escondido por pura vergonha de ele me ver totalmente vulnerável, era uma coisa idiota de moleque querer parecer forte e querer dizer que apenas garotinhas bobas choravam. Era estúpido, mas era o que o Diego gritava para mim toda vez que eu chorava com medo dele, ou de dor. Minhas mãos se fecharam instantaneamente e então tentei me acalmar, ele não estava mais lá fazia tempo. E eu estava livre dele a mais de dois anos. 

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