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Esteban


   Assim que abri os olhos a primeira coisa que vi foi Julieta nos olhando. Eu gelei. Senti o rosto esquentar de vergonha. Eu nem sabia se devia falar algo, e se abrisse a boca eu tinha certeza que nada sairia.

-Bom dia meninos. -ela quebrou o gelo. Se abaixou e pegou a medalha e colocou no lugar em que estava antes.

-Julieta eu posso... -Manoel tentou falar.

-A Angelina deve chegar em alguns minutos. Vocês têm sorte de ter sido eu a primeira a chegar. -ela foi até o armário e pegou umas peças de roupa de Dustin. -Manoel vai botar uma roupa e Esteban some da cama do Manoel!

   Ela saiu pela porta e eu saí do transe. Me levantei da cama de Manoel e entrei no banheiro. Lavei meu rosto e respirei fundo. Julieta tinha descoberto. Manoel entrou no banheiro, ainda usava apenas uma cueca e esfregava os olhos com as mãos.

-Foi a última vez. -sussurrei mais para mim do que pra ele.

-Esteban... -ele começou a dizer mas parou. Passou a mão pelos cabelos e olhou para dentro do quarto. -Porra.

   Eu continuava calado olhando, enquanto a noite anterior passava pela minha cabeça como um filme.

   "Eu estava voltando do treino, a ficha estava caindo; amanhã era o grande jogo. Minhas mãos ficaram trêmulas, eu mal conseguia segurar minha garrafinha. Eu sabia o que me deixaria bem calmo, era só um trago, nada demais. Eu ficaria bem. Afinal estava limpo por praticamente um ano, eu aguentaria. Fui para o quarto para pegar meu dinheiro, mas ao entrar Manoel estava lá. Ele olhava algumas anotações, mas parou para me observar. Colocou as folhas em cima da cama e veio até mim. Ele me conhecia tão bem...

-Não faça isso. -ele segurou minha mão que continuava tremendo. Tocou no meu rosto e me abraçou, eu só me aconcheguei em seus braços. -Não precisa ficar nervoso, eu tô aqui e também vou estar lá.

-E se eu estragar tudo de novo? -perguntei o segurando mais forte.

-Não vai. -ele me fez o olhar, e do jeito que me olhou eu fraquejei. Fui eu quem o beijei dessa vez. Ele interrompeu o beijo e fechou a porta, em seguida voltou até a mim. Então dessa vez não paramos. Eu não disse que não dava, e ele não pensou se aquilo não era bom. Era só nós dois e todo aquele sentimento de pertencermos um ao outro.

   Nossos corpos quentes, o suor escorrendo... o jeito que ele segurava meu cabelo. Seus beijos na minhas costas, uma prévia do que vinha depois. Ele dentro de mim, as juras de amor, os nossos segredos. Eu queria que aquilo fosse eterno. Eu não conseguia me conter, não podia frear todas as coisas que saíam da minha boca. Eu sabia que queria ele, eu sabia que o amava. Amava muito. Amava de verdade.

-Eu te amo. -sussurrei o mais baixo que pude. Ele me abraçou, e eu pude jurar que ele falou "Eu te amo também."

   Agora eu estava ali, encostado na parede enquanto ele pensava. Por que eu fiz isso comigo? Eu me perguntava. Eu disse pro Pietro que não voltaria a ficar com ele, mas eu era um péssimo mentiroso. Eu não resistia àquele mau hábito, e nem queria resistir.

-Não quero que essa porra acabe. Eu... merda! -ele socou a parede. Lágrimas desciam pelo seu rosto. -Por que eu sempre fodo tudo?

-A culpa não é só sua. -eu evitava olhar, mas era difícil.

-Fui eu que te afastei de mim, fui eu que fiz tudo errado. -ele se virou na minha direção. -Agora eu tenho que aceitar pagar o preço.

-Manoel. -falei baixo. Ele olhou para mim. Céus ele era tão bonito... Me aproximei dele e dei um beijo nele. Era uma despedida? Talvez.

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