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*Manoel

   Por mais que eu tentasse me esforçar, as coisas estavam começando a ficar sufocantes para mim. Arrumei mil e uma desculpas para Rosalía não ir dormir na fraternidade, na esperança de Esteban aparecer de novo, mas ao contrário do que eu queria ele ficou cada vez mais distante e conseguiu voltar para o time. Ele estava o tempo todo treinando e nunca tinha tempo para nada. Rosalía vivia reclamando de tudo e a única coisa que a fez ficar feliz naquela semana, foi a ultrassom ter revelado que nós íamos ser pais de um menino. Confesso que isso me animou muito. E toda vez que via Santiago passeando com Esteban eu lembrava que teria um filho só para me acalmar.

-Eu estou um pouco cansado, então vou fumar um pouco lá atrás. -avisei Luna. A baixinha de cabelos roxos acenou com a cabeça e voltou a fazer suas anotações.

   Eu gostava de ficar lá atrás porque dava para ver um pouco do mar, e sempre estava com uma brisa suave. Era meu lugar de paz. Faltava pouco menos de dois meses para o ano letivo acabar e eu sentia que havia feito tudo errado naquele ano. Eu não consegui parar de beber; não me acertei com Esteban; voltei para Rosalía; engravidei a Rosália; em junho me casaria com ela; e para fechar com chave de ouro, voltaria a morar com a minha mãe, porque ainda não tínhamos o suficiente para alugar uma casa. Eu ia largar a academia justo depois de conseguir tirar notas mais altas e me destacar. Era a primeira vez que eu não passava raspando. Mas eu só podia me culpar, até porque quem fez as malditas escolhas erradas fui eu, e ainda levei Rosália junto comigo.

-Que decadente, até mesmo pra você. -Dustin se aproximou. Estava com um cigarro na mão, mas não estava aceso e em seu olhar carregava aquele ar despreocupado de sempre.

-O que foi loirinha?

-Estava caminhando e pensei em vir aqui.

-Checando pra ver se não estou sendo uma decepção? -emprestei meu isqueiro para ele, que assim que ouviu eu dizer aquilo abriu um sorriso.

-Não, mas você está sendo um bom menino? -ele soltou bem devagar a fumaça. Conferiu o celular depois guardou no bolso, estava calmo até demais e eu já desconfiava que tivesse tomado seus remédios.

-Eu estou tentando. -o invejei, queria estar tão calmo como ele, mas eu sempre era aquele turbilhão de emoções.

-É mesmo?

-Por que você sempre fala como se já soubesse de algo?

-Porque às vezes eu realmente sei. -ele deu de ombros e voltou a me olhar. -Bom, estou feliz que não tenha andado enchendo a cara para preencher o vazio que o Esteban deixou em você.

-Ah claro, você sabe bem o que andou acontecendo. -revirei o olho com um sorriso.

-A Julieta não para de reclamar que a Rosalía está insuportável, e que ela deveria ficar na fraternidade com você. Então eu liguei os pontos. O Esteban vai se encontrar com você, e mesmo não saindo como o esperado, vocês se beijam e trocam confissões. Depois disso você espera que voltem a se encontrar, então dispensa a Rosalía para poder ter a privacidade do seu quarto para vocês. Você estava com esperança que ele voltaria.

-E ele não vai voltar né? -o modo como me olhou já deixava clara a sua resposta. Aquilo me matou por dentro.

-Ele voltou para o time, está sóbrio há quase um ano e tem uma namorada legal. Está na hora do passado ficar no passado.

-E se der certo dessa vez?

-Manoel as coisas não funcionam desse jeito. -ele parecia estar com pena de mim, eu com certeza parecia desesperado, e de fato, eu estava.

-Eu vou mudar, é sério. -falei um pouco mais alto.

-Manoel acabou tá? Só aceita isso. Ao invés de tentar destruir o relacionamento dele pela milésima vez, vá ao jogo junto com a Rosalía e torça por ele. Aplauda quando ele ganhar e esqueça essa rixa idiota com o Santiago, nenhum dos dois vai ficar com ele.

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