Capítulo Onze

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Millicent

Sinto suas mãos em meus braços, tocando de leve minha pele. Não posso vê-lo, mas sei quem é. Ele me abraça por trás, e eu me encosto ao seu peito.
— É engraçado como poderia reconhecer seu toque entre centenas — digo, virando-me para ele.
— Você provavelmente deve se lembrar dos meus toques — responde, segurando meu queixo.
Sobre isso... Eu deveria contar a ele sobre meu sonho da noite passada? Dos flashes que tive, tão vívidos, de nós dois juntos em um quarto de madeira...
— O que houve? — Savi pergunta, confuso.
— Estou curiosa para saber aonde iremos — desconverso. Não quero criar esperanças com algo que talvez seja apenas um sonho bobo.
Ele sorri, aproximando-se de mim, envolvendo-me pela cintura. Quando acordei com sua mensagem dizendo que precisava me encontrar, não tive a menor ideia do que aconteceria. Precisei dizer a minha mãe que ficaria até mais tarde na terapia e que depois sairia com uma amiga; que meu pai poderia me buscar em outro horário. É claro que ela devia saber que eu estava mentindo, mas fiquei surpresa quando permitiu, dizendo que conversaria com meu pai.
— Vou levá-la a um lugar muito importante para mim, para nós dois. — Sua boca toca a minha levemente, de uma forma delicada, mas suficiente para me fazer querer mais. — Hum, minha menina está querendo mais?
Respondo oferecendo meus lábios a ele.
— Não me tente, Millicent. Estou tentando ir devagar, mas você está dificultando as coisas — Savi diz com um gemido frustrado.
Sorrio, batendo no peito dele.
— Vamos logo. — Estou realmente ansiosa para saber aonde ele está me levando.
***
Fico paralisada olhando para a fachada da construção, até que sinto Savi ao meu lado, tocando meu ombro.
— Você se lembra de algo?
Balanço a cabeça.
Não. Mas há algo nesse lugar que faz com que eu me sinta estranha, uma angústia, como se meu peito estivesse doendo.
— Se não quiser entrar, podemos voltar — Savi oferece, paciente.
— Eu quero entrar — digo temendo que ele decida ir embora.
Quero entrar ali, saber que lugar é esse e, talvez, descobrir o motivo desse sentimento estranho.
Savi segura minha mão na sua e caminha até entrada do edifício, onde passamos por uma porta de vidro. Ele cumprimenta uma moça em uma recepção e continua me conduzindo, agora por um extenso corredor.
As paredes são todas brancas e há várias portas, provavelmente quartos, todos em completo silêncio. Encontramos algumas mulheres vestidas de branco, como se fossem enfermeiras. Pergunto-me se estamos em algum tipo de clínica. Savi vai à frente, entrando em um corredor à direita, este com as paredes repletas de quadros, pequenas mãos de crianças estampam as telas com tinta colorida.
Que lugar é esse?
Paro por um momento com a intenção de olhar para um dos quadros. Nele há uma mão redondinha desenhada em azul e branco, formando nuvens. Faz-me pensar em quem pode ser a criança e no que ela faz nesse lugar.
Noto que Savi não está mais segurando minha mão, mas continua do meu lado, em silêncio.
Mais à frente há uma porta amarela, de onde parecem vir alguns barulhos, conversas. Aproximo-me, curiosa para saber o que se esconde ali. Savi aparece em minha frente e, com um olhar estranho, abre a porta.
É algum tipo de biblioteca. É grande e abriga algumas mesas redondas, onde quatro mulheres conversam entre si. Elas não me notam, e eu me sinto aliviada por isso, pois assim posso observá-las. Vejo algo que me faz perder o fôlego; uma jovem, provavelmente da mesma idade que eu, exibe marcas arroxeadas em volta de um olho, além de um grande curativo no queixo. Ela conversa baixinho e, mesmo vista de longe, parece triste.
Viro-me para Savi, buscando com o olhar uma resposta. Ele fecha a porta devagar e volta a caminhar me levando junto.
— Savi... O que é isso?
— Acho que você irá gostar de ver esse quarto — fala, ignorando minha pergunta.
Eu o acompanho até outra porta, onde há uma placa pedindo silêncio. Savi bate levemente, até que uma daquelas mulheres que parecem enfermeiras atende. Ela sorri ao vê-lo.
— Podemos entrar? — ele pergunta.
A mulher olha para mim e, observando-a mais atentamente, sinto estranha familiaridade.
— Cinco minutos, Savi. Chame se precisar. — Ela fica do lado de fora, enquanto Savi me empurra para dentro do quarto.
Está um pouco escuro, mas mesmo assim consigo ver perfeitamente os berços dispostos em fileiras. Olho para Savi, e ele, apenas com um olhar, incentiva-me a continuar.
Vou até um dos berços onde um bebê dorme tranquilamente, embrulhado em um cobertor pequeno. Hesitante, toco em uma de suas mãozinhas, seus dedinhos apertando minha mão em reflexo. Então me dou conta finalmente de que lugar é esse.
Afasto-me do berço e caminho até Savi, mas não paro, vou até a porta, saindo dali.
— Millie... — Ouço-o me chamar, vindo atrás de mim.
— Desculpe — sussurro, de costas para ele.
— Eu devia ter dito... — ele fala, suspirando. — Você já esteve aqui antes, Millicent. Eu a trouxe aqui quando estávamos juntos.
— Qual sua relação com esse lugar? — pergunto, ficando de frente para ele.
— Vamos continuar, e eu lhe conto tudo — oferece, mostrando o final do corredor.
E ele me explica tudo, cada detalhe sobre esse lugar, sobre sua mãe, sobre as crianças, as mulheres que ali estão. Eu apenas ouço, sem conseguir dizer nada.
Chegamos a um pequeno parque no lado de fora e nos deparamos com quatro crianças, duas meninas e dois meninos, que brincam juntos. Uma delas, a menor, ao nos ver, corre até Savi, jogando-se em seus braços.
— Mariah — ele diz, levantando-a no colo.
A pequena o abraça com força e depois olha para mim, oferecendo os bracinhos.
Eu a pego no colo, um pouco desajeitada no começo. Ela também me abraça e em seguida beija meu rosto.
— O que é isso na sua cabeça? — pergunta, tocando meu lenço.
— Mariah... — Savi murmura, tentando interferir.
Eu sorrio, achando interessantes os olhinhos curiosos dela.
— É um lenço. Eu uso para proteger minha cabeça — conto.
— E seu cabelo? — Mariah pergunta rapidamente.
Jogo um olhar divertido para Savi, que parece preocupado com a situação.
Ora, está tudo bem.
— Eu não o tenho mais. Que ver? — pergunto, apontando para minha cabeça.
— Sim!
Antes que eu me mova para tirar o lenço, Savi vai até minhas costas e, com delicadeza, desfaz o laço, puxando de leve o tecido.
Ao me ver, Mariah arregala os olhos e leva as mãos à boca.
Seguro suas mãos e a encorajo. Ela toca minha cabeça, os cabelos começando a crescer pinicam sua pele.
Surpreendo-me ao vê-la rir, aparentemente está encantada pela minha falta de cabelo.
— Quero meu cabelo assim. Eu não vou precisar usar shampoo que arde o olho — comenta, sorrindo.
Sinto algo maravilhoso no peito, algo diferente de antes, porque agora sei que é verdadeira a adoração que tenho por essa criança. Dessa vez, eu a abraço, beijando sua bochecha antes de colocá-la no chão.
— Você foi ótima — Savi comenta, beijando minha testa.
Agarro-me em seu peito, segurando sua jaqueta, e inspiro profundamente seu perfume. A barba roçando meu pescoço provoca um arrepio de corpo inteiro e eu fecho os olhos. As mãos de Savi tocam minha cabeça e descem para meu rosto. Ele me faz olhar em seus olhos.
— Tão linda, Millicent — murmura com devoção.
Ah, Deus... Tenho uma revelação.
Estou me apaixonando perdidamente por esse homem.
Sem palavras, apenas o abraço, aferrando-me aos seus braços.
***
Savi me deixa perto do hospital, e eu ainda não disse sequer uma palavra. Estou nervosa por ter descoberto meus sentimentos por ele. Não que fosse algo totalmente fora da realidade, afinal, como eu poderia não me apaixonar por um homem como ele?
— Você está muito quieta — comenta, de braços cruzados na minha frente.
— Estava pensando naquelas mulheres e, principalmente, em Mariah. Ela tem mãe?
— Não, Mariah é órfã — responde, olhando-me com atenção. — Millie... — diz, movendo-se até mim. — Se foi demais para você...
— Não — interrompo. — Foi maravilhoso saber isso sobre você, sobre aquele lugar. Pode me levar lá novamente?
Sua expressão se tranquiliza de repente.
— Quando quiser. — Ele segura minha mão e me puxa para mais perto, beijando-me nos lábios. — Ah, Millicent, estou morrendo de desejo por você.
Oh, Senhor... E eu estou por ele.
— Savi, preciso perguntar uma coisa — esforço-me para falar, resistindo aos seus lábios em minha garganta.
Ele ergue a cabeça, curioso.
— Nós... — gaguejo, sentindo meu rosto esquentar. — Fizemos amor muitas vezes?
— Não tanto quanto eu gostaria. Mas me lembro de cada uma delas — responde, dessa vez sério.
Assinto, mordendo o lábio.
— Há algo que gostaria de me dizer, Millicent? — Ah, a pergunta que eu sabia que ele faria.
Crio coragem, sabendo que é o que desejo.
— Quero fazer amor com você, Savi — digo em voz baixa.
Ele fica parado, olhando-me como se eu tivesse dito qualquer besteira. Será que me apressei?
— Morri mil vezes esperando ouvir isso, meu amor — Savi fala, segurando meu rosto em suas mãos, seus olhos presos nos meus. — Prometo que farei ser maravilhoso para você.
— Tenho certeza de que será, Savi — confirmo, sorrindo.
Nós nos despedimos pouco depois, Savi prometendo que logo nos encontraremos novamente. Sigo para o estacionamento do hospital, sentindo as pernas tremerem. Eu disse realmente aquilo a ele!
Meu pai não demora a chegar e, estranhamente, hoje parece tranquilo, não faz qualquer tipo de pergunta. Estou com sorte.
Em minha mente, o pensamento de que farei amor com Savi me consome.
Estou me apaixonando por ele.

Dissoluto - Para Sempre (livro 2 ) - Série The Underwood'sOnde histórias criam vida. Descubra agora