Capítulo Dois

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Savi

É um pouco difícil não me sentir estranho enquanto espreito Millicent dessa forma. Muitos poderiam afirmar que sou um louco, mas, em minha defesa, posso alegar que sou um cara desesperado. Isso justificaria algumas atitudes insanas — como ficar escondido no estacionamento de um hospital por mais de uma hora, esperando ansiosamente para vê-la por apenas dois minutos, enquanto ela faz o percurso até o carro do pai, que a busca religiosamente todos os dias.

Foi necessária uma breve investigação, na qual recebi a ajuda da recepcionista do hospital, para que eu descobrisse que Millicent tem participado de sessões de terapia em grupo todos os dias, o que, imagino, tem o intuito de ajudá-la a se reintegrar à sociedade. Tudo que precisei fazer foi segui-la por três dias dessa semana, satisfazendo-me em apenas vê-la à distância.

Hoje ela está especialmente linda. Usa uma saia azul e uma blusa branca, o lenço combinando com sua roupa.

Ao contrário do que eu imaginei, ver Millicent assim, tão perto e ao mesmo tempo tão distante, serviu somente para piorar meu estado de espírito. É frustrante não poder ir até ela e simplesmente beijá-la, sem preocupação, sem medo.

Levo o cigarro aos lábios e trago mais um pouco da reconfortante fumaça. Encosto-me a um carro escuro e fico mais uma vez esperando para vê-la. Pareço a porra de um garoto do ensino médio com os hormônios fervilhando, esperando por sua garota. A única diferença é que Millicent não é mais minha garota.

Por enquanto.

Estou decidido, hoje será o dia em que finalmente falarei com Millie. Estou preparado para sua reação, pois ela não sabe quem sou. Mas há uma pequena chama de esperança que ainda me faz acreditar que, talvez, sei lá, por milagre, ela volte a ser minha antiga menina.

Não demora para que Millie deixe o prédio caminhando sem pressa até o estacionamento, e eu então me preparo para ir ao seu encontro, sentindo-me vitorioso por o pai dela não ter chegado ainda.

Apago o cigarro e sigo em sua direção, tentando parecer um ser humano pacífico, não querendo assustá-la com minha aparência.

— Millicent — eu a chamo, consciente de que minha voz pareceu ansiosa.

Ela para de andar e olha para o lado, para mim. Examina-me por um breve momento, tentando me reconhecer, até que seus olhos se arregalam na minha direção.

— Você — ela diz com a voz baixa, e eu tenho vontade de fechar os olhos e guardar em minha memória esse som. Tão doce.

Recupero a compostura, lembrando que preciso manter o foco.

— Savi — recordo, desejando que ela diga meu nome, mas, quando não o faz, decido continuar. — Eu precisava vê-la, Millicent.

— Eu estou bem. — Suas mãos se enroscam uma na outra, como sempre.

— Você está linda — acabo dizendo em voz alta.

Ela abaixa a cabeça, envergonhada.

— Obrigada. — Olha para os lados, provavelmente procurando pelo pai. — Preciso ir.

Não. Não posso deixá-la ir agora. Essa é minha oportunidade de ouro e não vou desperdiçá-la.

— Millie, preciso falar com você. — Sim, sei o quanto isso deve ter soado desesperado, e a realidade é que estou mesmo me sentindo assim.

Ela parece confusa, nervosa... com medo.

Não, minha menina. Não tenha medo de mim. Sou seu... Não fuja.

— Meu pai me disse para ficar longe de você — Millicent fala, desviando o olhar.

Bufo. Eu esperava por isso. Imaginava que ele fizesse tal coisa; deve suspeitar que eu não desistirei de Millicent tão facilmente e está certo; não irei desistir, nem com seus esforços contra mim.

Dissoluto - Para Sempre (livro 2 ) - Série The Underwood'sOnde histórias criam vida. Descubra agora