Capítulo Sete

308 43 1
                                    

Savi

Encontro Ethan, menos de uma hora depois, em frente à delegacia. Morgan, nosso pai, esteve aqui mais cedo; agora nós viemos saber de tudo.
Meu irmão está sério e mal me cumprimenta. Entramos juntos e passamos direto pela sala de espera, até um corredor onde várias pessoas estão sentadas à espera de serem atendidas.
— Não irá demorar — ele diz, cruzando os braços, enquanto se encosta à parede.
Meu irmão estava certo, mal falou e um homem de uniforme aparece, chamando-nos para entrar na porta à direta. É a sala do investigador.
O homem de terno escuro nos cumprimenta, indicando que nos sentemos, enquanto começa a digitar no computador e examinar alguns papéis.
Olho para Ethan e o noto preocupado, ainda sem me encarar. Isso apenas me deixa mais nervoso do que já estou. Depois que recebi sua ligação, precisei me controlar para não acelerar enquanto vinha para cá, querendo desesperadamente ouvir a notícia que me aguardava.
— Nós estamos com as imagens externas das câmeras de segurança do bar, Sr. Underwood — o investigador diz, olhando para Ethan.
Franzo a testa, imaginando como é constrangedor ser chamado de senhor quando se é o mais novo na sala.
— Pedi que meu irmão estivesse presente — Ethan diz, olhando de lado para mim.
Concordo, querendo saber o que foi descoberto.
O investigador digita algo no computador e depois nos olha, retirando os óculos.
— Apesar de o incêndio ter afetado os equipamentos, nossos técnicos conseguiram encontrar algo importante. — O homem vira a tela do computador para nós e em seguida clica em um botão, reproduzindo as cenas gravadas.
As imagens são da lateral do bar e foram gravadas durante a noite. Por alguns segundos, tudo parece tranquilo, mas de repente um homem vestido com roupas escuras aparece caminhando lentamente, carregando uma garrafa, provavelmente com algo inflamável. Assisto horrorizado ao homem que despeja o líquido pelas paredes e pela calçada, sempre evitando olhar para cima, para a câmera. Em seguida ele se afasta e joga um fósforo aceso em direção ao chão, que logo é consumido pelas chamas. Depois disso pouco é possível ver, já que a imagem é tomada pela fumaça escura.
— As câmeras gravaram somente até esse momento — explica o investigador.
Encosto-me à cadeira, tentando imaginar quem faria isso.
— Savi, eles conseguiram definir as imagens para o rosto do indivíduo — diz Ethan, sem se mover.
O homem confirma, apertando mais alguns botões, voltando o vídeo, aproximando a imagem, focando no rosto do incendiário. Eu me aproximo da tela, tentando reconhecer de alguma forma aquele homem de cabelo e barba comprida. Mas não o conheço.
— Não é o ex da Teresa, Savi — meu irmão fala, e eu faço um gesto indicando que continue. — Ele tem um álibi. Há um vídeo em que aparece entrando em um ônibus no mesmo horário do incêndio, saindo da casa de Teresa.
— Mas ele pode ter mandado esse homem incendiar — argumento.
— É o que iremos descobrir — diz o investigador.
***
Depois de saber que precisaríamos esperar por mais algumas horas até que o investigador tivesse notícias, Ethan e eu deixamos a delegacia e fomos direto para meu apartamento.
— Podemos pedir comida — falo ao jogar as chaves da moto em cima do balcão. Abro a geladeira, procurando por alguma bebida. Entrego uma cerveja para Ethan e abro uma para mim, sentando-me no sofá ao lado dele.
— Você deveria aprender a cozinhar, irmão — ele sugere, ao levar a bebida aos lábios.
— Sim, eu deveria — concordo. — Mas quem me ensinaria? Eu poderia pedir algumas aulas a nossa mãe, mas ela anda muito ocupada com a ONG.
— Eu posso ensinar você — Ethan diz, surpreendendo-me.
— Você? — pergunto curioso. — Ethan, você mal sabe fazer um chá.
— Porque eu prefiro café — rebate ele, rindo. — Estou falando sério, posso ensinar algumas coisas que aprendi. — Ele se levanta, deixando a cerveja sobre o balcão. — Vamos ver o que você tem aqui. — Abre a geladeira e inclina-se para ver dentro dela, inspecionando cada um dos alimentos contidos ali, erguendo uma embalagem de queijo. — Há quanto tempo isso está aqui?
Dou de ombros.
— Não faço a mínima ideia — respondo, tentando ver o que ele está fazendo.
— E esse leite, ou melhor, esse queijo, ou talvez seja algum tipo de laticínio não identificado...? — pergunta, jogando o pote branco no lixo, fazendo uma cara feia.
— E então, encontrou algo que possamos comer? — pergunto, espiando por sobre seu ombro.
Ethan suspira, desanimado.
— Não consigo entender como você está sobrevivendo nesse apartamento, Savi. — Ele se vira para mim e me olha preocupado. — Acho que podemos ir ao supermercado.
Aceito a sugestão, achando que posso comprar mais um pouco dos hambúrgueres que têm me salvado nos últimos dias.
Por insistência de Ethan, acabo aceitando entrar em seu carro, como passageiro, esperando enquanto ele anota mais alguma coisa que acabou de lembrar que precisa ser comprada. O supermercado não é longe, e nós logo chegamos. Meu irmão mostra um carrinho e diz que eu devo ir pegando os itens e os colocando ali.
— O que é isso? — acabo perguntando, quando ele deposita em minha mão um pacote com um tipo de verdura.
— Brócolis — responde, caminhando para a sessão de frutas.
— Eu não vou comer um bonsai, Ethan! — protesto, cutucando a verdura no pacote.
Meu irmão volta com alguns limões e os coloca no carrinho, tomando o pacote das minhas mãos.
— Vai, sim, quando comê-lo com queijo — explica, empurrando-me para a gôndola dos frios.
— Eu gosto de queijo — digo quase como se fosse uma oração, parado diante da bela visão de todos aqueles queijos sendo oferecidos a mim.
Ethan escolhe um deles, não exatamente o que eu queria, mas acabo não protestando. Bem, ele deve saber o que está fazendo. Caminhamos pelos corredores do supermercado, meu irmão vez ou outra colocando algo no carrinho. Sigo atrás dele, agarrado a um pacote de nachos, pelo qual eu lutaria até a morte. Nós nos dirigimos ao caixa, onde, do bolso, eu puxo meu cartão para pagar a compra, mas Ethan me empurra, impedindo-me.
— Estou aqui tentando cuidar de sua saúde, irmão.
Mesmo estranhando sua atitude, eu aceito. Pego meu pacote de nachos e sigo para o carro, esperando por ele.
— Não sei qual é seu plano, mas está funcionando — digo, oferecendo-lhe um pouco de nachos. Ethan aceita e, antes de começar a dirigir, liga o som do carro, um rock pesado atual que não conheço. — Seu gosto musical me assusta, Ethan.
Meu irmão solta uma gargalhada, rindo como uma criança, enquanto manobra o carro para fora do estacionamento.
***
Provavelmente eu deveria incluir em algum tipo de lista estranha o fato de que ficar esparramado no sofá ao lado do meu irmão mais novo, enquanto devoramos um pacote de nachos e assistimos à TV, seja um dos momentos mais satisfatórios da minha vida. Tanto que até estou pensando como ele!
Estamos vendo um reality show em que algumas pessoas precisam se enfrentar na selva, e há uma prova de comidas nojentas, que incluem cérebro de animais e minhocas. Bebo um gole de cerveja e olho para Ethan, tentando ver a expressão dele.
— Por que estamos vendo isso? — ele pergunta, fazendo cara de nojo.
— Se você não estivesse aqui, eu estaria assistindo a um canal proibido, mas em sua frente... pensei que não seria uma boa ideia — digo, rindo alto.
Ethan olha para o relógio, depois para a janela, e eu sei o que ele está querendo.
— Você pode dormir aqui — ofereço.
— Eu disse que te ensinaria a cozinhar, mas parece que você me subornou com seus nachos. — meu irmão diz, mostrando o pacote vazio.
Ergo as sobrancelhas provocando-o.
— Por que nunca moramos juntos, irmão? — faço que estou confuso.
— Talvez porque eu não suportaria você por muito tempo — recebo tal resposta.
Reviro os olhos, bebendo mais um gole de cerveja. É interessante como eu imaginava exatamente essa resposta de Ethan. Apesar de tudo, ainda consigo me sentir próximo dele.
— Você parece preocupado. — Ouço-o dizer.
É claro que estou malditamente preocupado, tanto que não consigo deixar de formular em minha mente uma ideia clara do que realmente aconteceu, e essa espera tem me feito quase enlouquecer. Sou grato por Ethan estar aqui. Ficar sozinho não me faria bem e, agora que Millie não está ao meu lado, tudo se torna mais difícil.
Cansado, sabendo que somente no dia seguinte terei mais notícias, eu me despeço de Ethan e vou para a cama, pensando se devo mandar alguma mensagem para Millie. Acabo decidindo que não, já que me preocupo que o pai dela descubra. Merda! É simplesmente impossível aceitar essa situação, não ter Millicent sempre ao meu lado, sequer vê-la quando desejo.
***
Ethan e eu acordamos tarde e precisamos de um café forte para conseguirmos nos manter em pé, esperando pela ligação do investigador, que só veio no início da tarde. Dessa vez, eu insisti para que fôssemos de moto, mas Ethan estava tão nervoso que decidiu que seria mais seguro ir com o próprio carro. Fiquei pensando se ele não estava simplesmente com medo de ir comigo.
Na delegacia, esperamos por mais de meia hora, tempo em que ingeri mais três xícaras de um café amargo que encontrei no corredor. Ethan estava sentado, esperando pacientemente, algo que já estava me irritando. Como ele pode ser tão calmo?
O mesmo homem que nos atendeu no dia anterior aparece no corredor, indicando a sala do investigador e, antes mesmo que Ethan se levante, eu caminho com pressa até lá.
Entro no escritório e me sento, desesperado por qualquer informação.
— Descobriu algo? — pergunto.
Ethan limpa a garganta, chamando minha atenção. Irritado, olho para ele, tentando entender o que quer dizer.
— Tenha calma, Savi — murmura, disfarçando um olhar.
Ignoro-o e volto a me concentrar no investigador, que está nos encarado por baixo de seus óculos grossos. Encaro-o de volta, esperando pela resposta. Ora, estou aqui para isso!
— Conseguimos encontrar o homem das imagens — começa o investigador, virando novamente a tela do computador para nós. — Trata-se de um andarilho, um homem de idade. Nós o interrogamos, e ele entrou em desespero, revelando que foi pago para incendiar o bar.
— Por quem? — Ethan pergunta, inclinando-se para frente.
— Ele não disse o nome, mas nos deu uma descrição detalhada, e conseguimos fazer um retrato falado. — O homem puxa um papel de dentro de uma pasta e o coloca em nossa frente. — Algum de vocês o conhece? Ele tem cabelos ruivos.
Seguro em minhas mãos o retrato, enquanto tento saber onde já vi esse homem, porque tenho certeza de que já o vi. Forço minha mente, tentando recordar do momento.
— Eu o vi no hospital — digo, recordando-me do homem que encontrei várias vezes naquele dia. Eu o vi na lanchonete, na saída.
— Savi, tem certeza? — Ethan me pergunta, tocando meu braço.
— É ele, tenho certeza. — Sim eu tenho, não confundiria aquele rosto.
Percebo que Ethan fica pálido, os olhos arregalados para o retrato.
— Ethan, o que houve? — pergunto, batendo em seu braço.
— Esse é o homem que fez mal à Millicent, Savi — ele diz, e eu paro de respirar, sentindo um soco no estômago.
O estuprador de Millicent foi quem mandou incendiar o bar?

Dissoluto - Para Sempre (livro 2 ) - Série The Underwood'sOnde histórias criam vida. Descubra agora