Erros

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O carro continuava vagando pela cidade, tudo estava normal. Completamente bem.

Senti algo pingando no meu colo, foi quando meu irmão me avisou algo, mas minha mente estava muito distante naquele momento.

Só na quinta vez que realmente ouvi.

- Isso é sangue?

Percebi que estava pingando sangue da minha boca, provavelmente por eu ter mordido muito a língua.

Esfreguei minha boca na minha camisa, ignorando o fato de que meu irmão provavelmente quisesse uma explicação.

Olhei para ele com vergonha, o que eu ia falar? "Bom, eu meio que perdi a cabeça e quase arranquei um pedaço da minha língua com os dentes, de boa".

O motorista interrompeu toda aquela cena do nada com uma risada histérica.

- Sabem porque precisa ser exatamente naquele hospital? - Ele parou o carro por um momento e olhou para nós, sua pele pálida e seus olhos negros - seus pais estão lá, ah e eles estão fora de si!

"Nenhum soldado conseguiu pegar eles para tirar da cidade, na verdade sua mãe quase arrancou o dedo de um com o dente! Foi uma cena nada agradável eu diria, não que eu estivesse lá para ver. Agora o resto dos agentes estão com medinho de entrar lá, então parece que só vocês podem ir e talvez sobreviver. Vocês vieram aqui como sacrifício."

Aquela revelação foi muito de repente e completamente desconexa com o que estava acontecendo.

Um silêncio deprimente encheu o local, senti vontade de vomitar toda aquela sopa de uma vez. Só agora lembrei que odeio cebola e pimenta, sempre fazem mal ao meu estômago

"Mas você merece, lembra?" Uma voz na minha mente disse calmamente. Concordei automaticamente.

Meus pais ainda estavam lá, assim como eu esperava. Tudo estava dando errado novamente, eles estavam loucos e brigando provavelmente, assim como foi em nossa casa.

Eu não queria ver aquilo por uma segunda vez, não iria aguentar.

- Eu não vou conseguir enfrentar meus próprios pais... - disse meu irmão, Noite pareceu estava olhando triste para ele quanto falava e em seguida olhou com raiva para o motorista.

- Por que está contando isso seu covarde? - Perguntou Noite ao puxar o braço dele com força.

- Ora, eu também não gosto deles, e acredito que essa forma de agir mantendo segredos é inútil. Resumindo, são todos burros - disse ele.

"Mas sinceramente, acho que no seu caso você não pode julgar quem mantém segredos o tempo todo enquanto não ajuda direito. Não é, Senhor-não-ajudei-a-humanidade? Por que por todo esse tempo você não usou seus poderes divinos para algo realmente útil? Por que só agora? A segunda guerra não pareceu importante o bastante é?

"Nem ao menos conseguiu proteger sua antiga tribo, como foi ver todos sendo mortos por bandeirantes? Por que não fez nada? Seu índio de m-"

Noite pegou ele pela borda da camisa rapidamente. Abriu a porta do carro e ergueu o homem para cima como se fazendo um sacrifício.

- Você não sabe de nada - falou Noite - DE NADA.

O chão começou a tremer, tudo pareceu se tornar gelado e sem vida. A grama da casa ao lado da calçada pareceu apodrecer lentamente.

Parte da escuridão presente no céu pareceu girar e se mover, mostrando por um momento a luz da lua por trás. Logo em seguido parte daquela fumaça negra foi até o Noite, que pareceu absorver.

A Essência da Morte: O Olho VermelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora