A Essência da Morte: O Olho Vermelho

Dois corações batendo como um: Parte 1

"Seja verdadeiro, seja corajoso, enfrente. Todo o resto é escuridão."
- Stephen King (It a Coisa).

"- Que queres tu, meu pobre Diabo? As capas de algodão têm agora franjas de seda, como as de veludo tiveram franjas de algodão. Que queres tu? É a eterna contradição humana."
- Machado de Assis (A Igreja do Diabo).

Aviso de gatilho: lgbtfobia, racismo, espancamento, bullying.

*Narração de Vitor*

03:45 da madrugada:

Uma luz vermelha dominava tudo a minha volta, sentia poder como nunca senti renascer de mim.

Mais que isso, senti minha irmã e eu como um só ser, um só coração pulsante, conectados pelos olhos vermelhos e pelos pingentes de coração que ambos usamos.

Eu estava lutando contra minha mente, a parte de mim que queria que eu sofresse, que queria que eu sucumbisse, não porque eu achava que não merecia tal destino (ainda me odiava), mas porque era simplesmente necessário.

Meu mundo ficou oscilando entre o se fora e o dentro da minha cabeça, uma hora estava flutuando pelo céu sentindo a luz solar em minha pele, outra eu me via deitado encima de um prédio com duas pessoas em pé perto dali.

Um soco pareceu desferir em meu rosto. Era do Meu Reflexo, que estava rindo novamente, mas agora era um riso falso, relutante e medroso, como alguém gargalhando forçadamente ao ouvir uma piada de humor muito ácido.

Caí no que parecia ser um chão duro de metal que estava mudando para várias formas, de um piso de azulejos coloridos para cinzas para um comum de tábuas de madeira.

Sentia um calor intenso e dolorido no meu coração. A conexão que estava sentindo era feita através do amor, aquilo que vende todo ódio, indiferença e ira

Conceitos esses que causam tanto caos, através de ódio cego de algumas pessoas sofri preconceito e dor por nenhuma razão, apenas por ser. Tal ideia traz guerras e brigas sem sentido, leva a mortes e destruição.

Indiferença foi das pessoas que não ligaram, daqueles que não faziam nada para tentar ajudar, viam, porém nada falavam. Aqueles professores, coordenadores na escola, o motorista do carro policial que me viu sendo espancado e ignorou... A ascenção do mal é movida pelo silêncio do bem.

Levantei meu rosto de novo, meus olhos permaneciam com um brilho vermelho poderoso, me sentindo uma estrela entrando em Gigante Vermelha, dei um golpe no queixo do Reflexo com toda o resto de força que possuía.

Eu propositalmente mudei a cena, tinha controle total finalmente de minha própria sanidade, poder sobre todo o cenário irreal à minha volta.

Toda a cena mudou para momentos de minha vida, agora aqueles que aquecem meu coração, aqueles que marcam a mente para sempre como uma linda tatuagem feita com a alma.

Era as vezes que alimentava um gato de rua que ficava perto da minha escola (depois de um tempo ele foi ao veterinário e foi adotado por alguém).

Era as vezes em que eu me divertia brincando com meus amigos da catequese.

Era eu olhando através do muro atrás da igreja, para aquela mata linda brilhando no sol.

Eram às vezes que eu e minha irmã ficávamos conversando por um bom tempo antes de dormir, mesmo com nossos pais reclamando.

Era eu desenhando sozinho em um canto da escola, parecendo solitário, mas contente comigo mesmo.

Era eu ouvindo uma música a qual ainda lembrava a letra apesar de tantos anos. Uma soundtrack de um dos jogos de Zelda, sendo que nem havia jogado o jogo de verdade, mas amava pesquisar a história e ver Youtubers jogando e formando doidas teorias sem pé nem cabeça.