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COMO MINHA MANHÃ DE sábado estava livre, resolvi fazer um reconhecimento pela cidade no Corolla que Jenna havia deixado disponível. Em meia hora eu já tinha percorrido todas as ruas de Whitehorse, feito uma nota mental de onde ficava o supermercado e o posto de gasolina, pedido um chocolate quente para viagem e dado uma boa olhada nos jornais locais. Eu estava certa, as temperaturas estavam mais baixas que de costume, e ao que parecia elas despencariam mais ainda hoje. Que delícia. A boa notícia era que o ar de Whitehorse era divinamente puro; meus pulmões nova-iorquinos viciados em monóxido de carbono experienciavam o nirvana a cada tragada.
A neve engrossava, caindo como chuva, e antes do meio dia os tratores já passavam para liberar as pistas, formando montinhos nas calçadas. Fiquei estacionada perto da praça central, observando o movimento com o desembaçador ligado, matutando sobre algo que a conversa com Jenna naquela manhã havia despertado no meu subconsciente. Quantos anos eu tinha naquela época, uns cinco? Não podia ser muito mais que isso, e eu lembrava daquela noite com uma perfeição assustadora. A imagem daquele lobo ficara gravada na minha mente como uma tatuagem, sem nenhuma razão lógica.
Saí da cidade, me afastando em direção aos elevados ao norte. Antigamente Jenna morava naquela região, longe do centro, num condomínio de casas geminadas, e foi de lá que eu saí caminhando naquela noite de natal, procurando um lugar sossegado para abrir minha caixa de biscoitos. A casinha amarela ainda existia, agora coberta quase até a metade por uma camada de neve, mas as cortinas que Jenna costumava deixar abertas estavam fechadas, e
haviam sido trocadas por persianas modernas. Desci do carro e caminhei pela colina até achar a trilha entre a vegetação esbranquiçada. O gelo formava pingentes de cristal nos galhos retorcidos, tão frágeis que podiam quebrar ao menor toque. O lago surgiu diante de mim como uma visão, um enorme espaço a céu aberto, e o deck ficava a poucos metros de distância, camuflado embaixo da manta branca que se estendia por toda a paisagem. A pequena subida havia me deixado ofegante, pois o ar áspero era difícil de respirar, e fiquei um tempo parada recuperando o fôlego. Sentia minhas bochechas como que assando e meus lábios ressecados com certeza iam rachar no dia seguinte.
Lá adiante estava a floresta de pinheiros, exatamente igual como eu me lembrava. Meu coração começou a acelerar, uma reação incoerente. Havia magia naquele lugar, a sensação perturbadora e ao mesmo tempo vital de habitar um segredo, algo que pertencia a outra dimensão. Me perguntei se a Evy pequena sentira isso na época e caminhara até ali totalmente consciente, atraída. Por alguma razão, só conseguia pensar naquela garotinha como um ser à parte de mim.
Eu esperei que o extraordinário acontecesse; que o céu se abrisse, que a lua aparecesse perto do sol, que a terra mudasse a rotação. Esperei por ele. Mas durante os vinte minutos seguintes absolutamente nada aconteceu; tudo continuou estático, como se o frio fosse grande o bastante para paralisar o tempo. Voltei para o carro e fui para casa.
* * *
Jenna saiu cedo no dia seguinte e eu fiquei em casa sozinha. A neve que se espalhava pela cidade como uma praga refletia a claridade do
sol tal qual um espelho, fazendo meus olhos arderem e lacrimejarem o tempo todo, mas descobri que se enfiasse o travesseiro na cara podia dormir pelo menos até oito horas da manhã.
Ainda tinha uma semana pela frente antes que meu emprego no Baked e minhas aulas começassem, então aproveitei para instalar meu note e desfazer a mala. Não tinha levado muita coisa, só o suficiente para uma temporada; no fundo, eu não acreditava que podia aguentar tanto tempo longe de casa e minha mãe secreta e confiantemente apostava o mesmo.
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Série Whitehorse - Volume I
Fantasy[Instagram: @whitehorse_saga] VOL. I Aos 17, Evelyn decide se afastar dos pais problemáticos e ir viver com a tia na minúscula e invernal cidade de Whitehorse, Canadá. O trabalho de meio período e a faculdade na Yukon College preenchem todo o seu te...