Capítulo IV

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ESSA OBRA ESTÁ REGISTRADA NA BIBLIOTECA NACIONAL E TEM OS DEVIDOS DIREITOS AUTORAIS RESGUARDADOS.

OS TURISTAS COMEÇARAM A chegar em Whitehorse no final de Abril, quando o frio se tornou algo próximo do tolerável. A grande maioria vinha atraída pelas trilhas e cascatas da região, além dos River Safaris. O centro da cidade ficou mais movimentado, as pessoas circulavam em carros esportivos ou em grupos pelas praças, bebendo cafés fumegantes e tirando fotos das casinhas coloridas, e eu passei a fazer hora extra no Baked, que agora fechava às dez.

Depois de ter me flagrado seminua cantando Norah Jones na sala de Jenna, o lobo branco não deu mais as caras, assim como nenhum dos outros. Jenna tentava disfarçar, mas às vezes eu a pegava lançando olhares compridos para a floresta lá fora enquanto assistíamos televisão no sofá, até que uma noite ela suspirou fundo, resignada.

"Ah, bem, a essa altura eles já foram embora."

"Embora? Pensei que você tinha dito que eles não deixavam Whitehorse nunca."

"Não para sempre", ela levantou e se alongou no pijama de flanela, "O calor não os agrada, eles fogem para regiões mais frias, mas voltam no final do outono."

O calor? Santo Deus, eu estava com uma calça de moletom, um abrigo por cima da camisa de manga longa e polainas, e ela achava que fazia calor?!

De qualquer modo, aquela primeira semana de "calor" foi diferente na Yukon College, e não só pela atmosfera alegre e contagiante que a primavera trazia, mas porque algum acontecimento que eu não fazia a menor ideia do que era estava deixando todo mundo agitado.

Numa manhã agradável em que o sol resolveu se espreguiçar timidamente por entre as nuvens no céu eternamente cinza cor de jornal molhado de Whitehorse, eu descobri o motivo. Estava fazendo umas pesquisas com Amber na biblioteca quando uma barulheira danada lá embaixo tirou minha concentração. O ruído de uma profusão de motos patinando no asfalto molhado me deixou intrigada – não lembrava de ter tantos estudantes com motos na Yukon, mas então me dei conta de que não dava para cantar pneus sobre a neve.

Nossa mesa ficava perto da janela, de modo que estiquei o pescoço e olhei para o pátio. Levei alguns segundos percorrendo o olhar pelos estudantes que relaxavam na grama agora seca até encontrar o foco da bagunça: num canto do estacionamento, alguns caras desmontavam de seus veículos, uma coleção de motos reluzentes estilizadas. Contei cinco caras e uma garota, e com exceção dela, todos eles se vestiam como se estivessem indo passar uma temporada na Califórnia – regatas folgadas que revelavam o físico magro e comprido que todos tinham em comum. Estavam rindo e falando alto uns com os outros, suas vozes graves e ressonantes criando uma bolha de agitação ao redor deles que atingia um raio de dez metros, provocando olhares feios e caras amarradas. Mas não foi nada disso que chamou minha atenção. Eles não tinham nada a ver com o pessoal de Whitehorse. Bom, e talvez fossem jogadores de basquete, isso explicava todo aquele tamanho. A pobre garota no meio deles parecia desaparecer, embora soubesse que não era tão menor do que eu. Enquanto olhava, eles retiraram os capacetes em meio a mais uma rodada de risadas espalhafatosas.

"Eeeee eles estão de volta...", Amber cantarolou à meia voz, sem erguer os olhos de sua leitura.

"Quem são eles?", um vácuo se abriu ao redor do grupo. Duas garotas sentadas no meio fio perto deles levantaram e foram embora, parecendo deslocadas. Eu podia entendê-las um pouco – a presenças daqueles garotos desregulava a atmosfera, como se o

mundo tivesse que encontrar uma nova maneira de girar agora que eles estavam nele.

"Chamamos de os irmãos Lycan, mas é só um apelido, eles não são irmãos, são mais como uma facção."

Série Whitehorse - Volume IOnde histórias criam vida. Descubra agora