CAPÍTULO BONUS

3.8K 319 23
                                    

ESSA OBRA ESTÁ REGISTRADA NA BIBLIOTECA NACIONAL E TEM OS DEVIDOS DIREITOS AUTORAIS RESGUARDADOS.

IAN

O BLUE MOON FAZIA parte do legado de Paul para Kyle. Era um bar no subúrbio da cidade, perto da zona industrial, um galpão sujo e obscuro que reunia nas madrugadas dos fins de semana a clientela mais esquisita num raio de vinte quilômetros. Viciados, maridos de saco cheio da esposa, calouros e veteranos da Yukon que achavam as festas n'O Espelho caretas demais e dançarinas cujo gênero era duvidoso.

Junto com o bar, Paul deixou dívidas e contatos do submundo. Kyle tentou se desfazer da coisa toda quando entendeu no que estava se metendo, mas já era tarde. Sair daquele buraco de tráfico e dinheiro fácil não é tão simples como ele gostaria que fosse.

Com o passar dos anos acabamos nos conformando com o fato de que, querendo ou não, tínhamos um antro de libertinagem para administrar. Kyle acabou se mostrando menos santo e mais ágil nos negócios, mais esperto e sensato do que Paul, de modo que enfim nos livramos das dívidas e começamos a fazer dinheiro. Muito.

Depois da merda com Derek, aportamos no Blue Moon para esfriar a cabeça com cerveja gelada em meio à névoa de charuto e cigarro ao redor das mesas de bilhar. Eu joguei uma partida com os caras, mas depois larguei o taco num canto e fui sentar no balcão. Minha mão ainda doía pelo encontro suave com o queixo de Derek, mas a satisfação de tê-lo arrebentado era gratificante.

E isso não tinha nada a ver com o que eu era.

"Boa noite, Ian", cantarolou Alex.

Ergui os olhos da minha cerveja para a bartender do outro lado do balcão. Alexia Carlton usava hoje um top de vinil preto cujas alças sumiam por debaixo da cabeleira negra e ondulante. Sob o reflexo das luzes negras acima das garrafas de tequila, os olhos azuis dela brilhavam como plâncton no mar noturno.

"Alex", encarei aquelas duas bolas de neon ao virar um gole da cerveja.

"Começamos bem", ela sorriu ao ver a vermelhidão nos nós dos meus dedos. Suas mãos ágeis enxugavam copos e os enfileirava sobre o balcão.

Apenas assenti.

"Algo está incomodando Ian Lycan", Alex insistiu, mas eu estava ok. Ela era uma das poucas que conseguia me azucrinar a paciência sem receber uma grosseria em troca.

Alexia era uma boa garota, estudava para pagar a faculdade de direito, estava sempre de bom humor e não arrumava casinhos durante o trabalho, por mais que os caras forçassem com ela. Os pais morreram num acidente de carro quando ainda era adolescente, e ela teve que começar a vida do zero enquanto cuidava do irmãozinho de nove anos. À primeira vista, Alex parece o tipo de garota fácil e vulgar que tem aos montes por aí, por causa das roupas que veste e da maquiagem pesada, mas eu já a vi enfiar os saltos nas bolas de um idiota que tentou agarrá-la à força nos fundos do estacionamento. Três dias depois, quando encontrei o infeliz numa loja de conveniência, ele ainda andava aberto.

"E deve ser sério", ela alinhou o último copo diante de mim e cruzou os braços, "Porque ainda está me ouvindo tagarelar e você não é desse tipo, hum? Tudo bem, é o seguinte, meu boleto da faculdade chegou hoje, penhorei a última joia da minha mãe para pagar, estou de TPM e preciso conversar, e adivinha só, você será a vítima da noite."

Eu torci a boca para o lado.

"E espere aí, vi um sorriso? Ian Lycan está sorrindo, o que é isso, minha gente, ação de graças?"

"Pegue suas coisas, Alex. Seu expediente acabou."

Ela sumiu para os lados da administração e quando voltou dez minutos depois com a bolsa pendurada num ombro e o cabelo preso num rabo de cavalo, acenou para meus irmãos e saímos.

Série Whitehorse - Volume IOnde histórias criam vida. Descubra agora