Capítulo V

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ROSE CHEGOU NUMA PICAPE prataoito e vinte. O irmão dela, Derek, que até então eu só conheciade nome, estava ao volante, enquanto uma animada Rose e uma sonolentaMegan dividiam o resto do banco da frente. Megan pulou para trásquando entrei, mais para tentar arrancar de mim alguma informaçãosobre a noite passada do que por ter sido acometida por uma vontadesolidária de não me deixar viajar sozinha.

"E aí?", ela perguntouantes mesmo que eu pudesse ajustar o cinto de segurança.

"Ele é um idiota", dei aela o que ela queria.

Megan e Rose arfaram emuníssono, mas o choque de Rose pareceu mais genuíno.

"Não acredito que aquelebabaca boçal teve a coragem de deixar você plantada a noite toda nacalçada!"

"Perdendo o festival de pizzaque Jenna organizou", choraminguei teatralmente, me esforçandopara não dramatizar a situação.

"Que otário", Derek falou,me olhando fixo pelo retrovisor.

Dessa vez nós três ficamossurpresas, e enquanto eu corava, Rose e Megan trocaram um olharzinhoperplexo e divertido.

A viagem até Tagish Lake nãoera muito longa e apesar das estradas estarem movimentadas, chegamosbem antes das dez. A mansão da família de Rose – não havia comochamar de outra coisa – ficava no alto de uma pequena elevação,de frente para o lago congelado. Tinha três andares e umaarquitetura em estilo elegante que misturava o rústico com omoderno, ou talvez a atmosfera campestre ficasse por conta da coleçãode pinheiros ao redor. Derek, como pude constatar assim que descemosda picape, era tão alto quanto os garotos motoqueiros de Whitehorse,mas pelo menos duas vezes mais largo, tinha o mesmo tom de cabeloloiro perolado de Rose e o rosto com ângulos proeminentes, apesardos olhos brilhantes e ansiosos atenuarem as feições duras.

Pelo modo como Roseconvenientemente nos deixava as sós, imaginei que tinha me convidadomais para fazer companhia ao irmão do que a ela. Como ela sumiu comMegan para o segundo andar assim que descarregamos as malas, Derek seincumbiu de me apresentar a casa, cuja vista, enquadrada de diversosângulos pelos janelões da sala, tirou meu fôlego.

"Quanto você calça?"

"Trinta e seis."

"Acho que temos o seunúmero."

"Meu número de quê?"

"Patins", ele deu umsorriso enorme e cheio de dentes quadrados, "Vamos patinar no gelo.Ali embaixo", indicou o lago com o queixo, "Com certeza você jáfez isso em Nova Iorque."

As notícias corriam depressaem Whitehorse.

"Ah, bom, sim. No natal oslagos congelam no Central Parque, mas...", olhei lá para baixo,para a imensa bacia que se formava dentro do vale verdejante, "Nãoé nada parecido com isso."

Derek riu.

"Sensacional, não é? Vaicomeçar a descongelar daqui a umas três semanas, mas ainda estáfirme. Quando nossos primos vêm para Yukon formamos times e jogamoshóquei."

Olhei de relance para ele. Comaquele tamanhão todo devia ser realmente difícil derrubá-lo.

Rose e Megan desceram depois dealgum tempo com dois pares de patins de botas brancas e Derek saiupara buscar os nossos. Desnecessário dizer que fui motivo depiadinhas enquanto as duas colocavam os coletes acolchoados por cimadas camisas e se preparavam para descer.

"Você me paga, Rose",prometi funestamente.

"Não me diga que vai passaro fim de semana amargurando o bolo que aquele cara te deu? Derek éum ótimo consolo!"

Série Whitehorse - Volume IOnde histórias criam vida. Descubra agora