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Sabina Hidalgo

Quando somos crianças nossos únicos deveres são sorrir e obedecer. Enquanto ficamos encarregados disso, nossos pais planejam nosso futuro e discutem a melhor forma de nos preparar para quando enfrentarmos a temida sociedade com suas formas de ajuda; julgamentos, preconceito, deveres, machismo, feminismo, escolhas, padrões impostos e finalmente, as punições.

Basicamente é assim que funciona com a maioria das famílias, mas para minha sorte tudo foi completamente diferente para mim, e quando digo isso me refiro a uma maneira péssima, que fique bem claro. Não fui preparada para enfrentar uma sociedade normal, e sim para enfrentar a vida no meio da máfia.

Meus pais estavam se fodendo para a vida lá fora. Se importavam mais em arranjar uma utilidade para mim. Fui inútil até meus dezoito anos, quando infelizmente minha utilidade perfeita chegou à mente do meu querido (odiado) papai. Ele me jogou em uma casa de prostituição para que eu pudesse me acostumar com a vida que eu levaria a partir daí, e acreditem ou não, mas ele veio pedir agradecimento depois disso.

Estava completamente perdida, não conhecia aquele mundo perturbador e nem queria sequer me envolver com nenhum serviço sujo. Queria viver a vida de uma adolescente normal, com muitos amigos, estudando naquelas escolas clichês dos filmes, com o namorado perfeito e pais perfeitos, mas a vida me jogou um balde de água fria, bem fria por sinal.

Quando papai me levou ao clube naquela noite chuvosa e congelante, o dono do estabelecimento examinou meu corpo e minha face assim que papai disse o motivo de ter me levado ali. Aquilo com certeza o daria um ótimo dinheiro e muito mais reconhecimento e proteção naquele meio perigoso e sorrateiro.

O homem balançou a cabeça para o lado e estalou a língua antes de perguntar minha idade. Meu pai o respondeu exageradamente feliz que eu havia acabado de completar dezoito anos, literalmente isso havia acabado de acontecer, era meia noite e meia, no caso deu-se o início do meu aniversário. O homem pigarreou dando de ombros e virou-se para meu pai dizendo que eu havia um belo corpo, mas só estavam aceitando garotas com pelo menos vinte anos agora, as ninfetas estavam lhe dando trabalho demais. Papai tentou o convencer de que eu seria ideal e que eu estava pronta para isso, mas eu queria gritar aos quatro ventos que só desejava viver uma adolescência normal e não aquela droga de vida que ele tanto queria para mim, mas guardei sabeando que falar isso só iria me render um belo tapa ou até pior. Restou apenas a opção de ficar calada e aceitar tudo que me empunhou.

Anos se passaram e finalmente meu aniversário de vinte anos chegou, nenhum motivo para comemoração, pelo menos não para mim. Mas papai acordou radiante aquela manhã, com um sorriso estampado em seu rosto como se acabara de ganhar na loteria, me doía saber que tudo aquilo era porquê finalmente poderia me jogar para aquele bingo de mulheres idiota.

E infelizmente daquela vez não tive escapatória, estava aos comandos do dono até que algum milagre acontecesse para me tirar dali sem provocar uma dúzia de leões perigosos. Preferi rezar em silêncio por uma escapatória ou para que um anjo abençoado me carregue daqui e eu saia viva e inteira.

Normalmente os sábados eram os dias que mais empurravam pessoas para o local. Hoje seria minha primeira vez participando de um leilão de mulheres, também sentem seus estômagos embrulharem ao ouvir isso? O quão machista isso soa? O suficiente para provocar tal reação no meu corpo.

Todas as mulheres se aprontavam animadas, com sorrisos largos estampados no rosto enquanto passavam quilos de batom vermelho em seus lábios exagerados. Eu apenas observava tudo sem a menor animação, não queria fazer aquilo, não queria me rebaixar ao nível delas e me oferecer ao velhos barbudos e ricos que nos esperavam lá fora, no salão. Queria apenas sumir e não voltar mais, nunca mais. Mas se eu quisesse continuar viva e ilesa, precisava fazer tal ação, afinal, caso não saísse como papai tenha previsto irei levar uma boa surra quando chegar em casa. Ele estava faminto por dinheiro, tanto ao ponto de oferecer a própria filha para abastecer os bolsos. Que ridículo.

A Chefe da Máfia - JoalinaOnde histórias criam vida. Descubra agora