TERCEIRO

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Apenas cinco anos de uma eternidade inteira depois...

Cinco anos atrás, nesse mesmo dia e há algumas horas atrás Jacob punha em prática a sua emboscada terrível para pedir-me em namoro. Bom, deu certo. Depois de levar-me até a parte quase desconhecida da floresta e me dar um belo surto de preocupação nós nos beijamos de verdade pela primeira vez, e então ele fez o pedido. Voltamos para o lar abobalhados e logo depois Jacob levou uma bela surra da minha mãe, que surtou com a nova notícia provavelmente contada pelo leitor invasivo de mentes da casa, também conhecido como Edward Cullen, o meu pai. E depois de toda história com a minha mãe e a sua carência inconformada, hoje eu e Jacob comemorávamos cinco belíssimos anos de namoro. Ou pelo menos deveríamos comemorar.
Já era quase fim de tarde e ele não tinha nem aparecido em casa hoje. Os meus pais – que agora já haviam se adaptado quase totalmente a mim e Jacob como um casal – insistiam em dizer que tudo estaria bem e que eu deveria para de preocupar-me à toa, que ele chegaria em breve. Mas não era isso que me atordoava, eu sabia que o meu lobo de dois metros estava bem.
Magoava pensar que talvez ele estivesse esquecido da data de hoje, da nossa data.
Ou  apenas sou eu quem está dando muita importância a isso. É só um dia como qualquer outro, ele tem obrigações de alfa a cumprir. Eu continuava a insistir com o meu subconsciente dando-me pequenos tapas na cara. Na minha concepção, não se fazem cinco anos com uma pessoa todo dia, mas também não se fazem dois ou cem anos com alguém mas de uma vez, então com certeza era tudo besteira. Sim, com certeza é besteira, resmungo para mim mesma.

Meus pais haviam saído para caçar pela parte sul da floresta e eu estava sozinha em casa. Um livro estava na minha mão e eu visualizava palavras, mas pareciam estar todas embaralhadas em um borrão confuso pela minha falta de atenção. O meu pensamento furioso ia cada vez mais longe, imaginando o que o meu amado estaria fazendo enquanto meu tédio crescia cada vez mais.
Andávamos mais distantes um do outro ultimamente. Ele parecia sempre extremamente afastado, como se algo desviasse toda a sua atenção e eu não conseguia supor nada que pudesse ter causado isso. Eu não fiz nada demais esses dias, fiz?
Talvez o estivesse levando ao seu limite por o fazer me observar caçando, mas isso não seria nada demais já que quando eu era menor ele trazia coelhos para mim ao passar muito tempo fora com rondas ou algo assim, como um presente estranhamente delicioso, uma compensação pelo tempo que passávamos longe um do outro.

Suspiro com meus próprios pensamentos curiosos. Era difícil ler o Jacob.

Por mais que todos dissessem que nossa ligação é algo único e que somos tudo um pro outro, ele dificultava tudo com o seu temperamento incrívelmente reservado e observador. Arrancar os sentimentos dele e fazê-lo falar sobre o que sente é tão raro como achar água no deserto.
Mas em contrapartida ele me conhecia bem. Conhecia cada defeito meu, sabia de todas as minhas atitudes e o porquê de eu tomá-las, seja lá o que fosse. Ele podia sentir até o meu pior medo quando queria. Sabia onde tocar e onde não tocar. Sabia de tudo que eu gostava e também das coisas a que mais repreendo.
Eu sabia de coisas que ninguém sabe além da sua matilha, mas mesmo assim sentia que sabia muito pouco. Sim, teríamos uma eternidade inteira para descobrir o que queríamos, mas quanto mais aprendia sobre ele, mais vontade tinha de descobrir um pouco mais. Eu o amo, mas é cansativo revelar suas faces o tempo todo quando ele deveria apenas mostrá-las para mim. Ele até poderia facilitar minha existência e me contar um pouco às vezes não é? Não seria tão mau assim.

Sem me dar conta o meu olhar para na lareira da sala de estar e acabo confessando para mim mesma que não dava a mínima para o livro nas minhas mãos, provavelmente nem sabia mais em que parte estava e que depois teria de voltar pelo menos umas dez páginas para entender o contexto do livro.

A porta range baixinho minha cabeça vira automaticamente em direção ao chiado baixo. Ele entra cabisbaixo, a cabeça pesada demais com suas preocupações para que perceba o meu olhar em si. Uma de suas tradicionais camisas pretas sem manga e uma bermuda jeans clara cobrindo o seu corpo, o cabelo levemente úmido e desgrenhado.
O olhar distante finalmente encontra o meu e eu sorriu, um sorriso sem graça. Me encolho no sofá para dar-lhe espaço para sentar e dou duas batidas no espaço ao meu lado.

-  𝐑 𝐄 𝐍 𝐀 𝐒 𝐂 𝐄 𝐑  -  A  SAGA CREPÚSCULOOnde histórias criam vida. Descubra agora