PRIMEIRO

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...

A infância não vai do nascimento até certa idade. E a certa altura a criança está crescida, deixando de lado as coisas de criança.

Mexo-me desconfortavelmente na cama mais uma vez. Não havia conseguido dormir.
A minha repentina falta de sono durante toda a noite fez meus pensamentos voarem para os últimos acontecimentos da minha vida. As coisas andavam tão calmas que era de se estranhar. Mesmo com meus poucos anos de vida, eu poderia dizer que entendia a maioria das coisas que aconteciam à minha volta, e por isso era estranho quando tudo estava quieto demais. Não que estivesse reclamado, a paz era boa, reconfortante, mesmo que soubesse que a calmaria antecede a tempestade...

Os primeiros raios de sol começaram a transpassar as paredes de vidro do meu quarto – tecnicamente o quarto do papai que a alguns anos deixei parte das minhas coisas, já que ficava mais na casa do vô Carlisle do quê na minha própria casa, e sim, é estranho chamar alguém extremamente jovem de vô – e aos poucos tornam tudo mais claro. Minha falta de sono com certeza iria me prejudicar ao longo do dia, apesar de eu ter a plena certeza de que não iria ficar caindo de sono pelos cantos como um humano qualquer. Ainda assim, o meu raciocínio se tornaria mais lento que o comum.
Meu rosto ilumina-se pelo sol que ultrapassa o topo das árvores e olho para a vasta floresta à minha frente. Sinto um pequeno comichão na pele exposta da minha mão e logo estimulo meus instintos, tentando mais uma vez fazer com que a minha pele brilhe e falhando miseravelmente.
Os pequenos feixes de luz não saíam de mim como pequenos cristais assim como acontecia com todos. A pele apenas se tornava iluminada, como se uma pequena quantidade de maquiagem brilhosa fosse depositada ali. Ainda assim, era lindo.

"Vejo que você acordou, anjo." Escuto uma voz na porta do meu quarto me viro, olhando-o.

"Bom dia papai" Digo com carinho e mando-lhe um sorriso.

"Só vim avisar que nós iremos caçar, talvez também devesse vir." Ele se encosta na porta colocando uma das mãos no bolso.

"Não preciso pai. Me alimentei ontem no cair da noite, não me sinto esfomeada." Ele sorri gentilmente e caminha até a minha cama, sentando-se ao meu lado e olhando para minha mão que brilhava de modo fulo.

"Está tentando forçar a transição de novo, não é?" Ele segura minha mão e baixo meu olhar para o nosso pequeno contato. "Filha, não precisa ser completa para se sentir da família, todos lhe amam assim, como você é."

"Mas tudo seria tão mais fácil! Não precisariam se preocupar com algum corte bobo, não ficaria cansada e sem falar que não teríamos mais despesas com comida humana..." Conto-lhe os privilégios tão convidativos que passam pela mente para me fazer cogitar a imortalidade completa, sendo interrompida antes de terminar, como sempre.

"Renesmee, convivemos com você tem sete anos e acha que ainda não nos acostumamos?" Ele ri, com um pequeno tom de deboche. "E aliás, não precisamos falar sobre todos os riscos de ser completa mais uma vez." Ele resmunga. "Também não preciso dizer de novo que o seu namoradinho fede, você não vai gostar nada." Seu sorriso sacana me arranca um grunhido em resposta.

"Não meta o Jacob nisso." Gemo em irritação. "E ele não é meu 'namoradinho'." Bufo.

O pensamento faz o meu coração acelerar e sinto o sangue correr até as minhas bochechas, deixando-as levemente mais quentes. Tento afastar o pensamento antes que o meu pai o escute e começo a traduzir o hino da República para o Irlandês, assim como tia Alice me ensinou a algum tempo atrás para ocultar os meus pensamentos impróprios. Era ridículo pensar em nós dois como um casal. Ele era grande – de certa forma até majestoso –, forte, imponente e incrivelmente hábil em qualquer tarefa que se submetesse a realizar. Sem contar que ele era... meu Deus, ele era incrivelmente lindo. Tão à vontade consigo mesmo e com o próprio corpo que se tornava mais lindo ainda. Leve e livre. Caminhava como se fosse o dono do mundo e soubesse disso.

-  𝐑 𝐄 𝐍 𝐀 𝐒 𝐂 𝐄 𝐑  -  A  SAGA CREPÚSCULOOnde histórias criam vida. Descubra agora