Capítulo um.

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Você já teve aquela sensação de que tem algo grande esperando por você? Que sua vida não é resumida as pequenas porções e sim que você está ligada a uma coisa muito maior do que possa imaginar? Bom, eu sempre tive essa sensação, e percebi em pequenos detalhes que meus pais também sabiam disso, porém nunca compartilhavam dos seus sentimentos comigo. Acredito que seja receio por eu ainda ser muito nova e não saber lidar com certos tipos de coisas.

Eu moro em New Orleans, a cidade do jazz, das bruxas e do bourbon. Amo o clima, as luzes e como tudo é sempre mágico. Não me vejo indo pra outro lugar, é aqui definitivamente que quero envelhecer.

Em nossa casa, mora eu e meus pais. Clair, minha adorável e talentosa mãe. Ela trabalha com pinturas de quadro e nas horas vagas passa horas na nossa biblioteca fazendo sei lá oque. Isaac, meu pai. Ele é coronel da cidade. Vivemos em harmonia constante, meu pai é um homem íntegro e completamente apaixonado pela minha mãe. Seu olhar de admiração é notável.

Eu fui planejada por anos, sou eu, a maior herança dos meus pais, o triunfo de ambos, o fruto de um amor avassalador. Isso gera muito cuidado e zelo. Além do mais, ninguém jamais ousaria mexer com a filhinha do coronel. Diria que somos uma família típica, temos hora pra jantar e almoçar, um domingo com churrasco é primordial, idas aos jogos de basquete e filmes em família.

E tem eu. Any George. Não tem muita coisa sobre mim, eu gosto de frio, de livros e músicas que causam sensações estranhas. Amo neve e florestas. Eu sempre fui encantada por florestas por algum motivo desconhecido. Tenho ótimos amigos na escola e fora delas. Basicamente é isso, eu não sou muito interessante de se conhecer, mas posso surpreender de vez em quando.

[...]

Enquanto espero o portão automático terminar de abrir, subo minhas meias 3/4 tentando aquecer minhas pernas. Encaro o uniforme xadrez no carro, a saia rodada cor vinho e preto, a blusa de seda branca com uma gravata e uma blusa de frio com o brasão da escola. Uh, tão antiquado.

Tiro o carro da garagem e sigo pra escola. Deveria buscar Sabina, mas ela nem ao menos atende minhas ligações, só espero que ela apareça na aula.

Estaciono o carro com dificuldade por causa do gelo. A entrada está movimentada, com rostos novos e ansiosos. Estou indo pro terceiro ano, último ano na escola. É animador mas desesperador também. Muita coisa nova e um ano de decisões.
Aperto meu casaco contra o corpo aquecendo minha pele e entro correndo na escola. Suspiro aliviada ao sentir os aquecedores esquentando meu corpo.

─ Pronta pra se livrar desse brasão?

Me viro assustada ao ouvir uma voz ao pé do meu ouvido. É Noah.

─ Vai ser difícil dar adeus aos leões. ─ sorrio de canto.

─ Bom te ver amor. ─ Noah sela nossos lábios em um beijo rápido. ─ Como foi as férias?

─ Uhm, nada demais, meus pais aproveitaram meu aniversário pra me presentear com uma viagem pra um casa bem perto de umas florestas. ─ suspiro. ─ Nada mudou no verão.

─ Nem seu fascínio por florestas. ─ Noah sussura e encara seus pés. ─ Isso era até que normal no começo, mas não te assusta agora? São anos com pequenos surtos, sabe.

─ Não são surtos, isso se chama conexão. E pode deixar, eu posso lidar com isso e é um problema totalmente meu. ─ pisco pra ele.

Ouço os gritos de Sabina e Savannah ecoarem pela extensão da escola e me viro sorrindo. Minhas meninas.

─ Podemos nos abraçar depois, vai começar a cerimônia.

Savannah diz e nos puxa pelo corredor nos levando até o salão onde nosso diretor está no púlpito pronto para começar a falar. Todos os alunos do primeiro ao terceiro ano estão lá. A cerimônia consiste em uma passagem de brasões. No primeiro ano, os alunos usam uniformes amarelos com preto e o brasão de um cavalo negro, os do segundo usam um igual ao meu, com o brasão de leões, e os do terceiro, uniforme preto com branco com o brasão de lobos.

Fênix ─ A revelaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora