Capítulo dois.

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Meu pai anda pela sala enquanto alisa sua barba. Ele está visivelmente chateado, mas não bravo.

─ Eu sempre conversei tanto com você sobre os guardiões, sempre te guiei pra respeitar todos eles. Oque aconteceu, Any?

─ Eu não desrespeitei os guardiões, pai. Eu só... Eu sempre ouvi ofensas de outras pessoas por ser uma das poucas meninas negras carregando o brasão dos leões. Sabe o peso disso? Usarem minha cor pra me sentir diferente e não o suficiente pra carregar algo tão simbólico. ─ Suspiro levemente. ─ Eu não sou essa garota que a supervisora está pintando. Você me conhece como ninguém, acha mesmo que eu faria algo nesse nível se não fosse por uma boa razão? ─ gesticulo com aspas a palavra "razão".

O Sr. Isaac passa a mão pelo rosto exasperado e se senta do meu lado.

─ Any, não se repreende outra pessoa com um ato de violência. Você não prefere mostrar com um bom diálogo a essa pessoa que sua cor não te diferencia em nada? ─ sua voz é suave.

─ Eu não tenho que mostrar nada pra ninguém, papai. O google está ai, é só pesquisar e se aprofundar no assunto. Desde os primórdios da terra qualquer pessoa deveria saber que minha pele não me torna divergente de outras pessoas. ─ engulo seco e sacudo a cabeça. ─ Não é minha função ensinar a outra pessoa o básico, entende? Ninguém nasce racista, vem de família, e sinceramente, se adultos são tão leigos a esse ponto não posso fazer nada. Não está dentro da minha capacidade mudar o mundo.

─ Ah Any, você está tão enganada. O mundo está nas suas mãos. ─ sua expressão é angelical e ele brinca com uma mexa do meu cabelo. ─ Só precisa ser coragem o suficiente pra enxergar isso.

─ O mundo está nas mãos de líderes cegos, papai. ─ sorrio.

─ Não por muito tempo. ─ ele sussurra. ─ Vamos esperar.

Ele se levanta indo até a cozinha e eu o sigo.

─ Oque quis dizer? ─ questiono.

─ Any, já conversamos sobre isso. Tudo tem o seu tempo certo, tudo bem?

─ Então pare de falar entrelinhas, quando finalmente vai ser o tempo? Porque você e a mamãe vivem escondendo as coisas de mim? Oque tem de tão misterioso que eu não posso saber?

─ Você conseguiu fazer três perguntas em uma única frase, sua curiosidade está me surpreendo. ─ ele ri e eu reviro os olhos.

─ Pai... ─ choramingo.

─ Vou finalizar o assunto com... ─ ele procrastina. ─ Não vai mais usar os guardiões pra ofender outras pessoas e sem mais questionamentos. Eu sou seu pai e eu sei a hora que devo falar algo pra você, ok? ─ abaixo a cabeça e brinco com meus pés. ─ Eu vou mesmo ter que repetir, Sra. Any?

─ Ok, papai... ─ sussurro.

Meu pai é meu ponto seguro. Nós temos uma relação invejável. Ele que me ensina tudo, das aulas de piano a qual o melhor bourbon da cidade. Minha mãe e ele escolhem um dia da semana que podem ficar bêbados. Eu subo pro meu quarto e tranco a porta. Oque acontece na sala já não é mais problema meu. Quero dizer que, ele é um homem sensacional. Um pai excepcional e eu o amo mais do que a mim mesma. Nossa ligação é inquebrável. Ele me incentiva a ser uma mulher independente, corajosa e destemida.

Me lembro das aulas de luta com nove anos, eu cansada, com o corpo dolorido e ele trabalhava minha mente, dizendo que eu sou capaz de vencer meus próprios limites. E pronto, eu realmente vencia o cansaço. Nunca foi um peso pra mim treinar ao lado do meu pai, eu me divertia e me sentia empoderada. Depois de anos, com os meus dezessete anos, sei que posso me virar e que ele sente orgulho de mim. Isso é tudo oque me importa.

Fênix ─ A revelaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora