Capítulo oito.

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Eu entendi com a morte do Noah que quando se perde alguém que amamos muito nosso cérebro demora a processar essa informação. A sensação de que vamos rever aquela pessoa no dia seguinte é um eco insistente.

Eu não sei se é verdade oque dizem que quando uma pessoa morre se passa um filme na cabeça dela com as memórias mais marcantes, mas no meu coração, eu rogo que alguma lembrança de nós dois tenha sido importante e marcante pra ele, pois assim a raiva que ele sentia de mim quando partiu tenha desaparecido um pouco.

Eu tenho que me agarrar a isso, na verdade, é a minha única âncora. Sinto vontade morrer ao pensar nele sendo machucado, sua pele branca sendo marcada com a brutalidade do tal crime. Ele com dor, sozinho e implorando pra que aquilo tudo acabasse. Era pra eles estar com a gente, na minha casa contando suas piadas sem graça e bebendo bourbon que ele roubou do estoque dos meus pais. Agora ele é só mais um corpo gélido no meio de outros tantos. Vou carregar essa culpa comigo pra sempre e mesmo depois do sempre.

[...]

Aperto a campainha de Sabina e ela aparece alguns segundos depois. Ela estava chorando, seu rosto está pálido e sem vida. Seu sorriso sumiu, ela definitivamente está sem vida.

Engulo seco e procuro palavras pra expressar qualquer coisa, nossas dores são diferentes, porém esmagadoras igual.

– Seus pais ligaram, não devia ter saído esse horário.

Sabi diz e dá espaço pra eu entrar em sua casa. Seus pais estão na cozinha e acenam pra mim, apesar se eu sentir no ar a reprovação por eu ter saído de casa nesse horário.

– Aparentemente o fato da cidade estar cercada de policiais a cada esquina não os tranquiliza. – coloco meu casaco no cabide.

– Quem você quer salvar agora, George? – ela diz um pouco ríspida.

– Oque? Está descontando em mim a morte do Noah? – questiono irritada.

– Bom, eu não sei, a gente sempre costuma tentar salvar a todos, sempre fomos boas pra todo mundo, menos pra ele. Quando ele mais precisou da gente estávamos bebendo na sua casa. Porra! Eu odeio isso!

– Eu não fazia das minhas boas ações uma profissão, Sabina! Nós não tivemos controle com oque aconteceu com o Noah, acha que se eu soubesse teria...

– Teria ficado a noite toda fora com o Joshua? Sim, eu acho que ficaria! Ele é seu novo brinquedinho, faça bom proveito!

Suas palavras me acertam como golpes no estômago. Eu não consigo acreditar no que ela está me falando. Meu olhos se enchem de lágrimas e eu fico por alguns segundos paralisada.

– Está sendo tão injusta comigo, você mais que ninguém sabe oque eu passei no meu namoro com o Noah, eu o amava e jamais colocaria a vida dele em risco por causa de ninguém. – desmonto.

– Eu vou me arrepender de tudo oque estou te falando agora, mas por agora, até sua respiração me causa repulsa.

Sabina diz e eu entendo que não devia ter ido até ela. Recolho minha bolsa e casaco e vou em direção a porta.

– Any! – a Sra. Hidalgo me para na porta. – Não é pessoal, eu nunca a vi assim. Ela está ranzinza e se fechou pra todos. Vá pra casa e tenta descansar, ambas não estão dormindo direito. Amanhã será um novo dia e vocês conversam melhor.

– Obrigada, Sra. Hidalgo! Tenha uma ótima noite.

Entro no carro procurando respirar fundo. Sinto meu corpo desmontado e minha mente pesando mais que um tanque. Pego meu celular e procuro pelo nome do Josh. Depois dele xingar toda minha geração por eu estar sozinha na rua, ele disse pra não sair da onde eu estava que ele iria me buscar.

Fênix ─ A revelaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora